Pequena ilha no Mediterrâneo é
vista como um centro de corrupção e lavagem de dinheiro e está sob críticas por
causa de seu programa de venda de passaportes. Assassinato de jornalista elevou
pressão sobre as autoridades.
Malta é uma pequena ilha de 440
mil habitantes que conquistou sua independência do Reino Unido em 1964,
ingressou na União Europeia em 2004 e desde 2008 adota a moeda comum europeia,
o euro.
Mas essa pequena nação no
Mediterrâneo, localizada entre a Sicília e a Líbia, chama a atenção também como
um centro de corrupção e lavagem de dinheiro dentro da União Europeia, e as
mais altas autoridades políticas maltesas são suspeitas de envolvimento em
negócios dúbios.
Malta entrou no foco das atenções
europeias com o assassinato, num atentado a bomba, da jornalista investigativa
Daphne Caruana Galizia, que, em seu blog, atacava a elite política e econômica
da ilha.
Em 16 de outubro de 2017, uma
bomba detonada por celular destruiu o Peugeot 108 de Galizia, matando-a. O
explosivo, um pacote de TNT, havia sido colocado embaixo do assento do
motorista.
Nos últimos anos, Galizia atacara
duramente o Partido Trabalhista, do primeiro-ministro Joseph Muscat, por
exemplo ligando a esposa dele, Michelle, aos escândalo dos Panama Papers.
Segundo a denúncia da jornalista, Michelle era a verdadeira dona da empresa
Egrant, que teria recebido 1 milhão de dólares de Leyla Alijeva, uma das filhas
do presidente do Azerbaijão, Ilham Alijev. Michelle nega que seja a dona da
empresa.
A transação foi feita por meio do
banco Pilatus, em Malta, uma instituição fundada em 2014 por um cidadão
iraniano, Ali Sadr Hasheminejad, na época também dono de um passaporte da ilha
caribenha São Cristóvão e Neves.
Hasheminejad é filho de um dos
homens mais ricos do Irã e se casou em 2015 em Florença, na Itália. Na lista de
convidados estavam Muscat, Michelle e o chefe de gabinete do premiê, Keith
Schembri, sob suspeita de corrupção por causa de dois depósitos de 50 mil euros
numa conta que detém no Pilatus.
O banco, que tinha apenas 130
clientes, tem depósitos totais de 250 milhões de euros em seus cofres,
vindos sobretudo da elite política e econômica do Azerbaijão, segundo
informantes anônimos.
Em março de 2018, Hasheminejad
foi detido nos Estados Unidos e aguarda julgamento. Ele é acusado de lavagem de
dinheiro e de contornar sanções americanas por ter supostamente participado de
um esquema de transferência de dinheiro da Venezuela para o Irã.
Depois de sua prisão, os ativos
do banco Pilatus foram congelados pela autoridade financeira de Malta, e as
atividades do banco foram suspensas.
Outro tema frequente no blog de
Galizia: a venda de passaportes malteses para pessoas ricas, o que garante a
elas livre trânsito na União Europeia e a possibilidade de contornar sanções
econômicas internacionais aos seus países de origem, como o Irã e a Rússia.
Por cerca de 1 milhão de dólares,
é possível adquirir um passaporte de Malta, desde que observadas algumas
exigências, como ter morado na ilha por ao menos um ano. A maioria dos
interessados contorna essa exigência com a simples compra de um pequeno
apartamento.
Ao longo de quatro anos, o
programa de venda de passaportes garantiu 800 milhões de dólares para Malta, o
que ajudou o governo da ilha a reduzir suas dívidas. Mas
o programa recebe cada vez mais críticas de outros países europeus.
Seis meses depois do assassinato
de Galizia, pouco progresso foi feito para esclarecer o crime. Três suspeitos
foram detidos em dezembro. Todos afirmaram ser inocentes. Em relação aos
mandatários e os motivos do crime, nenhum avanço foi feito.
Em novembro, a Autoridade
Bancária Europeia lançou uma investigação sobre a atuação das autoridades
financeiras de Malta, por suspeitas de lavagem de dinheiro no país e para
esclarecer como o banco Pilatus obteve sua licença para operações bancárias,
que, pelas leis do bloco, é válida para toda a União Europeia.
As investigações das histórias
levantadas por Galizia estão sendo mantidas por um grupo de 45 jornalistas de
18 empresas de comunicação, reunidos no Projeto
Daphne.
Alexandre Schossler | Deutsche
Welle
Foto: Daphne Caruana Galizia foi
morta num atentado a bomba em outubro de 2016
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