Francisco Louçã enquadra discurso
do Presidente da República, na parte a que Marcelo se referiu ao populismo, ao
"processo de desagregação e de difícil arranjo europeu” que se vive nalguns
países.
Apesar de já terem passado dois
dias das comemorações do 25 de Abril, o discurso do Presidente da República
ainda é assunto de análise nos espaços de comentário, sobretudo pela ‘troca’ de
palavras que se sucederam entre um primeiro-ministro que não percebeu o
discurso presidencial e um Presidente que disse que um banhista de 20 anos
conseguiu a proeza que Costa não conseguiu: perceber o seu discurso preventivo.
Sobre o discurso de Marcelo,
Louçã referiu que “haverá muitos intérpretes diferentes”. “Creio até que
António Costa referiu-se com algum humor e com alguma simpatia”, disse o
comentador, defendendo que “quem tem autoridade para reconhecer o valor das suas
palavras é a própria pessoa que formula o discurso”. De todo o modo, “foi muito
interessante que o PR no dia seguinte tenha usado a metáfora do jovem banhista,
tudo isto tem muita graça”, assinalou.
Louçã enquadra o discurso do
Presidente sobre populismo no “processo de desagregação e de difícil arranjo
europeu” que se vive, não tendo considerado as suas palavras um recado interno.
“Se olharmos para o que o PR fez
nos dias anteriores podíamos perceber a lógica. O Presidente esteve, juntamente
com o primeiro-ministro, com o presidente francês a comemorar os 100 anos de
batalha de La Lys, uma das desgraças da história militar portuguesa, mas que
evoca um período final da Primeira Guerra Mundial e a memória dos fracassos na
conclusão da guerra lembra os erros que se acumularam até à Segunda Guerra, com
populismo, nazismo, ditadura em vários países”, sustentou.
Como tal, no seu entendimento,
“olhar para essa tragédia europeia é importante no momento em que há muita
exasperação”. “Há países que têm governos muito próximos destas fronteiras da
intolerância e da violência, no centro da Europa, há aqui um processo de
desagregação e de difícil arranjo europeu”, analisou, considerando que, embora
não seja um recado interno, Marcelo pode ter-se referido de forma mais
genérica, porque se há uma vaga de desagregação europeia, ela tem consequências
para Portugal.
Mas Marcelo, destacou o
bloquista, foi muito explícito sobre duas questões portuguesas. A primeira, o
sublinhado que fez em relação ao seu "receio de alguma desorganização dos
espaços políticos e emergência de formas inorgânicas de demagogia e de
repolarização política". Tal, "aplica-se particularmente no
espaço da Direita, entre o PSD e o CDS", concluiu.
Por outro lado, o Presidente
"sublinhou muito o papel da estrutura militar". "Não
esqueçamos que ele tem sempre chamado a atenção que o mistério do roubo em
Tancos não foi resolvido e não parece haver nenhuma outra hipótese que não que
tenham sido militares", assinalou.
Em suma, para Louçã, o discurso
de Marcelo Rebelo de Sousa "é um sinal de alerta de que o Presidente terá
entendido que era tempo de dizer e que o nadador percebeu [risos]".
Melissa Lopes | Notícias ao
Minuto | Foto: Blas Manuel/Notícias ao Minuto
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