A contestação não baixa de tom e
intensidade. A opção é do governo, avisam sindicatos: ou estagnação ou evolução
Nos próximos dias quem tiver
consultas nos hospitais ou filhos nas escolas pode começar a fazer as contas a
possíveis adiamentos e a estabelecimentos fechados: a saúde e a educação
mantêm-se em estado quase permanente de contestação, com sucessivas paralisações
previstas. Nos transportes é possível que tenha de remarcar viagens.
Os trabalhadores do hospital de
Gaia estiveram ontem em greve e o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado e de
Entidades com Fins Públicos denunciou a substituição de médicos veterinários e
assistentes de inspeção em greve nos matadouros por outros trabalhadores.
Amanhã e depois é a vez de os
trabalhadores da saúde pararem (e a 25 de maio, de novo), na sexta-feira é a
vez dos funcionários das escolas e para a semana os médicos fazem três dias de
greve, a 8, 9 e 10 de maio. Os trabalhadores da Infraestruturas de Portugal
também já anunciaram greve parcial a 10 de maio e total no dia 11. A última vez
que pararam, a 2 de abril, quase 500 comboios foram suprimidos. E hoje não há
pausa na contestação: nos supermercados, há greve convocada e as centrais
sindicais saem à rua para exigir a "valorização dos trabalhadores",
no caso da CGTP, e "justiça salarial e insistência no diálogo social para
a administração pública", para a UGT. A 19, os professores manifestam-se,
prometendo reeditar os grandes protestos do consulado de Maria de Lurdes
Rodrigues.
O secretário-geral da CGTP,
Arménio Carlos, assinala ao DN que a data de hoje "tem ainda mais
sentido" porque "se é verdade que a luta dos trabalhadores foi
importante para afastar o anterior governo e para ajudar à construção do início
de um novo processo que devolveu rendimentos e direitos, no quadro atual esse
processo claramente estagnou por opção deste governo".
"É fundamental estarmos
[hoje] nas ruas para dizer que este caminho não é de estagnação, é de evolução.
E isso só se fará com um governo que responda às reivindicações e às propostas
da CGTP", acrescentou, para logo sublinhar que, "ao longo do tempo, a
luta dos trabalhadores trouxe sempre resultados, independentemente de nem
sempre serem imediatos". E a luta compensa, defende: "A pressão, a
força, a intervenção, a mobilização e o alargamento da participação popular
acabam por ser decisivos para pressionar o governo ou qualquer entidade
patronal de forma a dar resposta às nossas reivindicações".
Longe dos tempos da troika
A conflitualidade social, que tem
aquecido estes meses de governação socialista, está longe - ainda bem longe -
do ano de todos os conflitos: de julho de 2012 a junho de 2013. A troika tinha
aterrado no aeroporto em 2011 e o primeiro--ministro à época, Passos Coelho,
anunciava em outubro desse ano o grande pacote de austeridade e, em setembro de
2012, a subida da TSU para os trabalhadores e a descida para as empresas.
Segundo estimativas, a 15 de setembro desse ano, mais de um milhão e meio de
pessoas saíram à rua a gritar "que se lixe a troika!".
A contestação nos tempos do
governo de Passos e Paulo Portas manteve-se sempre em contínuo, mas longe dos
números de 2011 e 2012. Como muito mais longe estaria o primeiro ano do governo
socialista. Para António Costa, o seu primeiro mês de governo, dezembro de
2015, foi com muita agitação (192 avisos num único mês), logo acalmado em
janeiro de 2016, ano no qual se prolongou um estado de graça laboral.
Em 2017, as reivindicações
subiram de tom e chegamos a 2018 com uma rotação elevada de protestos. No ano
passado, os números de avisos prévios de greve subiram face a 2016: foram 613
em 2017, tinham sido 488 no ano anterior, números que não superam o ano mais
sereno do governo PSD/CDS (619 pré--avisos, em 2014). Em número de greves,
contabilizadas pela agência Lusa, que cruzou noticiário seu com dados avançados
pela CGTP, foram 216 paralisações, 38 das quais parciais. Não há dados oficiais
sobre o número de greves concretizadas. A Direção-Geral do Emprego e das
Relações do Trabalho apenas contabiliza pré-avisos comunicados e processos de
serviços mínimos abertos.
Não há números disponíveis para
este ano: até fevereiro deram entrada 61 pré-avisos (13 no setor empresarial do
Estado, 48 fora deste setor), que está em linha com anos anteriores.
Miguel Marujo | Diário de Notícias
| Foto: Global Imagens
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