Mariana Mortágua | Jornal de Notícias
| opinião
Os 70 anos da criação do Estado
de Israel são também os 70 anos da expulsão de milhões de árabes palestinianos
das suas terras. São cinco milhões de refugiados, dos quais quase dois milhões
vivem em campos precários, amontoados em pequenas faixas de território,
emparedados pelos muros que Israel construiu.
As comemorações israelitas, que
culminaram com a instalação ilegal da embaixada dos EUA em Jerusalém, foram
marcadas por ataques aéreos a Gaza, e pelo assassinato de dezenas de civis
palestinianos desarmados, entre eles crianças, como assinalou o coordenador
especial da ONU. Só ontem foram mortas mais de meia centena de pessoas e
milhares ficaram feridas. Benjamim Netanyahu, primeiro-ministro israelita,
alega legítima defesa.
Sempre em nome da sua defesa, Israel
já ocupou 60% do território palestiniano definido em 1967, violando as
fronteiras reconhecidas pela ONU e pelos EUA de Obama e que delimitam o Estado
da Palestina. Foi também "para se defender" que emparedou os
refugiados palestinianos em guetos que são verdadeiras prisões a céu aberto, em
Gaza e na Cisjordânia.
Em Gaza vivem 5046 palestinianos
por quilómetro quadrado. Não podem sair, porque todas as fronteiras estão
fechadas e são controlados pelo Exército israelita, pelos mesmos soldados que
vimos num vídeo recente a executar um homem palestiniano desarmado, escolhido
ao acaso. Em nome da sua defesa, Israel mantém um boicote a todo o território,
onde vivem dois milhões de pessoas. Tudo é racionado, da água ao combustível e,
segundo a ONU, 80% da população sobrevive dependente de ajuda humanitária. Foi
uma dessas passagens humanitárias que Israel decidiu fechar esta semana, por
alegadas questões de segurança.
Na Cisjordânia está o muro que
inspirou Trump. Foi Israel que o construiu, 700 quilómetros de cimento e arame
farpado, parte dele localizado em território palestiniano. Israel recusa-se a
cumprir a sentença do Tribunal de Justiça de Haia que o declarou ilegal e
ordenou a sua destruição em 2004. O muro - a que Israel chama "barreira de
segurança" - cercou cidades inteiras, asfixiadas economicamente, e
eliminou a liberdade de circulação dos palestinianos. Para se deslocarem, são
obrigados a passar por mais de 500 chekpoints controlados por soldados
israelitas fortemente armados. O acesso a rodovias, a infraestruturas e a
serviços básicos é limitado para os palestinianos da Cisjordânia. A humilhação
é total.
É preciso ser muito hipócrita
para não reconhecer a completa desproporção entre o Estado de Israel e a
Palestina. Em nome da sua defesa, Israel invadiu e expulsou, construiu muros,
segregou, humilhou e violou a lei internacional. Mas isso não é defesa, é agressão,
é ataque, é ocupação, é apartheid.
Em 1948, Israel declarou a
criação do seu país em terras da Palestina. O que para os israelitas é comemorado
como "a Libertação", para os palestinianos é conhecido como Al-Nakba,
"A catástrofe", e ela parece não ter fim. Depois da ocupação do
território onde sempre viveram, são eles o povo perseguido e segregado.
* Deputada do BE
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