Jorge Rocha * | opinião
Ao início da manhã ouço um
general a comentar a morte de outro, dizendo que foi uma «enorme perda para o
país (...) que lhe sentirá, e muito, a falta!».
Pode ser opinião politicamente
incorreta, dado o respeito dos portugueses pelos sucessivos protagonistas da
quotidiana necrologia, mas quem continua a proferir este tipo de reações
padronizadas não tem consciência de quão ridículas elas se revelam? Que
importância ainda poderia ter quem, chegada à condição octogenária, já só
cuidava sobreviver à fatal doença, que lhe ia abreviando os dias?
Que revoluções ou
contrarrevoluções ainda poderiam ser encabeçadas por um ,general há muito
aposentado cujas opiniões mediáticas se iam tornando caducas à medida que o
mundo ia mudando e a formatação da mente se desajustava de um qualquer
pensamento consistente sobre os fundamentos de tal transformação?
Não é, porém, só o general, que
comentava a morte do seu igual, que revela a verborreia do muito que se diz e
escreve no dia-a-dia. Por exemplo Sofia Rodrigues assinava uma notícia no
«Público» desta sexta-feira em como os «sociais-democratas estariam a suspirar
por Passos Coelho». Olha-se para tal título e só se o pode achar estapafúrdio:
alguma vez existiu a mínima identificação entre o político de Massamá e o
pensamento social-democrata? Daí que se justificasse muito mais um cabeçalho do
género: «há quem no PPD suspire por Passos Coelho».
Acendo a televisão e ligo para um
programa do canal ARTE onde um documentário apressa-se a elogiar a proximidade
de Karen Blixen relativamente aos africanos, que empregava na sua quinta
africana. Tal justificaria o elogio de a consagrar como muito mais avançada do
que os colonizadores racistas da sua época. Mas como poderia ser de outra forma
se nada percebia de agricultura ou de criação de gado e o seu incompetente
marido disso sabia tanto quanto ela? Não estava na total dependência dos
saberes ancestrais dos seus empregados de cor?
E conclua-se com outra notícia
dos noticiários de ontem: a da CIA ter denunciado o príncipe herdeiro da Arábia
Saudita como mandante do crime contra o jornalista Khashoggi. Seria motivo para
nos surpreendermos, quando vamos acompanhando a progressiva ascensão ao poder
de um jovem ambicioso, que não olha a qualquer meio - nem sequer ao genocídio,
que mandou executar no Iémen - para alcançar os seus objetivos megalómanos?
O espaço mediático está cheio
deste tipo de exemplos: querem-nos embalar com falácias cujos conteúdos apenas
intentam distrair-nos das causas verdadeiras do que vamos vivendo e das
consequências, que possam estar-lhes subjacentes.
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