Martinho Júnior, Luanda
1- O fantasma do Rei Leopoldo
desdobrou-se na azáfama sangrenta da sua voracidade e tornou-se mais carniceiro
que nunca por que a "civilização" é um mito alienatório dos
poderosos contra a fluidez da vida na nossa "casa comum"!...
Nos países que se situam na cauda
dos Índices de Desenvolvimento Humano, embora sua riqueza em matérias-primas,
tanto pior!
Na RDC a barbárie é fomentada
pelas lutas milenares entre africanos, todos eles de origem diversa mas em
busca do espaço vital, lutas essas elas próprias agravadas por causa da cobiça
pelo acesso e posse dos minérios mais raros e preciosos existentes no ventre da
Mãe Terra, decorrentes nos imensos lucros que cada vez mais se acumulam em cada
vez menos mãos!...
O interesse do “lobby” dos
minerais e dos Democratas dos Estados Unidos, pela região dos Grandes Lagos e
bacia do Congo, tiveram nos relacionamentos entre Paul Kagame e Bill Clinton
(por tabela entre Pauk Kagame e as seguintes administrações de turno), vínculos
privilegiados, sublinhando os interesses comuns (http://www.salem-news.com/articles/august052012/pentagon-rwanda-khs.php).
2- Agora que se vão divulgando os
crimes continuados e acumulados de década em década, conhece-se a vitimização,
mas os poderosos, usando seus canais elitistas de pensamento e acção,
deliberadamente escondem a razão causal dialética da persistência do fantasma
transfronteiriço do Rei Leopoldo, acendendo ou apagando os holofotes sobre um
continuado genocídio transfronteiriço conforme ao exercício do poder do império
da hegemonia unipolar na região e seus interesses capitalistas financeiros
transnacionais!...
Essa evidência é tanto mais grave
quanto, para instalarem seus “homens de mão” em Kampala, em Kigali e
em Bujumbura, deram luz propagandística com amplo eco e espectro internacional,
via seus “media de referência”, ao holocausto dos hútus contra os tutsis,
quando foi, por exemplo, um reduzido grupo da elite tutsi apto em discretas
operações especiais que abateu o avião que transportava os dois presidentes, o
do Ruanda e o do Burundi (“na noite de 6 de abril de 1994, um avião que
transportava os então presidentes de Ruanda, Juvenal Habyarimana, e do Burundi,
Cyprien Ntaryamira, ambos hutus, foi derrubado” – https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/04/140407_ruanda_genocidio_ms)…
Enquanto nos Kivu vai engordando
agora, discretamente, o horrendo fantasma do Rei Leopoldo, dizimando milhões e
milhões de seres humanos apanhados na armadilha do espaço vital e da obscena
riqueza das matérias-primas disponíveis e tão disputadas, dez anos depois do
holocausto ruandês, nos vizinhos Uganda, Ruanda e Burundi, as cidades e as
colinas iluminam-se com as migalhas que caem das mesas dos poderosos extra
continentais!
A razão dialética entre os
horrores contemporâneos dos Kivu, no espaço leste da RDC e a eclosão da riqueza
no tão propagandeado bem-estar a leste das fronteiras nos três países
dominantes dos Grandes Lagos, faz parte do que está deliberadamente escondido,
ao ponto do médico (e pastor pentecostal) premiado agora com o Nobel da Paz em
nada se referir a isso em seu discurso de denúncia!
As condições de Bukavu, onde ele
nasceu e exerce, assim o determinam, como determinam as “doações” por
via de torneiras habilmente manuseadas!
Pensamento e acção elitista
exige, instrumentalizando os vínculos de escolhidas doações beneméritas: nada
melhor que uma cidade de fronteira como Bukavu, para regular os holofotes da
luz e da sombra sobre o transfronteiriço fantasma do Rei Leopoldo!
3- A aristocracia financeira
mundial agencia seus preferenciais vassalos gerados na e pela sua própria
cobiça, vassalos que se escondem no papel celofane duma quimérica paz nos
Grandes Lagos e na bacia do Congo, uma paz que nunca o foi e é hoje radiografada
com a visão mesmo assim circunscrita (sob caução?) do depoimento cívico do
médico-pastor Denis Mukwege!
De facto o depoimento a quem
serve senão aos que, por via da caridadezinha das doações e às obrigações “pentecostais”delas
decorrentes, lança luz sobre as conveniências, como lança sobre as
inconveniências, esquecendo a profundidade de suas razões causais?
Desse modo a RDC instalada no
pulmão tropical mais decisivo de África, contamina de forma inteligente e
instrumentalizada, cada um dos seus 11 vizinhos, em especial aqueles que não
têm poder suficiente para responder com prontidão à vassalagem ao abrigo do
império de contingência-maior, por que sobre esses, quantas vezes se aplica a
manipulação entre contrários em carne-viva, para propositadamente fermentar
caos, terrorismo e desagregação, dividindo e dividindo, para ao vulnerabilizar,
ao fragilizar, ao entorpecer, melhor reinar!
Um pensamento elitista e por isso
mesmo formatado e censurado com todo o tipo de doses ideológicas e psicológicas
de conveniência, tende a divulgar o encadeado dos fenómenos de forma
estruturalista e com juízos de valor a condizer com seus propósitos de domínio
e com seus interesses a condizer com suas mãos hipócritas duma aprendizagem
antiga: a de Pilatus!
Sobre quem segue essa trilha,
mais ainda se tem capacidade (restrita) de denúncia comprovada, chovem
naturalmente os prémios!
Até médicos cívicos podem ser
contaminados pelas mãos que manipulam o acender ou o apagar dos holofotes e
suas mentes formatadas religiosa e tacitamente pelos jogos de luz e sombra
emitidos a partir da aristocracia financeira mundial!
O depoimento de Denis Mukwege (https://www.youtube.com/watch?v=xQnvvpHvbss),
um homem da cidade fronteiriça por excelência que é Bukavu, é um diagnóstico
sintético, mas falho em muitos aspectos de sua dialética em relação à amplitude
da barbárie global injectada ao cômputo da região da bacia do Congo e Grandes
Lagos, sob o estigma do pensamento e acção elitista e por isso premiado!
Ao denunciar as atrocidades sobre
as vítimas, mesmo assim, ainda que timidamente (não assumindo os fenómenos
transfronteiriços entre a luz e a sombra) ele evidencia, sem citar nomes, o
lucro dos poderosos que anima em pleno século XXI a versão contemporânea dum
fantasma transfronteiriço do Rei Leopoldo cada vez mais adiposo do sangue de
suas sevícias e vítimas acumuladas, no genocídio mais longevo, em permanência,
que se arrasta desde o final do século XIX!...
A lavagem de imagens em cadeia só
pode passar por este tipo de “exercícios” tão “inocentemente” adaptáveis
aos “jogos africanos” do interesse do “lobby” dos minerais!
Martinho Júnior - Luanda,14 de Dezembro de 2018
Figuras:
O Prémio Nobel da Paz Denis
Mukwge;
Capa de uma das edições de “O
fantasma do Rei Leopoldo”;
Os genocídios dos congoleses, de
Leopoldo IIº a Paul Kagame;
Paul Kagame e Bill Clinton, dois
expoentes e aliados do “lobby” dos minerais interessados em África.
A consultar:
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