quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Portugal | Dos benefícios da firmeza contra corporações de ambíguos interesses


Jorge Rocha | opinião

Firmeza é a atitude revelada pelo governo perante o surto grevista, e é essa a atitude judiciosa a tomar perante a tentativa de uns poucos pretenderem colher só para si os dividendos de uma evolução positiva da economia, que, dentro dos limites de manter certas as contas do Estado, deverão ser distribuídos pelo maior número possível de portugueses.

Apesar de alguns amigos facebookianos imitarem o inenarrável secretário-geral da UGT no pânico quanto às consequências de tanto protesto, constato a usura de tais formas de luta e sinais de, em muitas delas, verificarem-se recuos estratégicos pelos efeitos nefastos na reação progressiva dos portugueses perante situações extremamente desproporcionadas entre elas e os danos coletivos provocados.

Há, igualmente, coincidências que não passam despercebidas: a instrumentalização dos enfermeiros numa altura em que os interesses privados e das misericórdias arriscam ser beliscados por uma Lei de Bases da Saúde, que possa impor a complementaridade e a subordinação da sua «contribuição», em vez do seu carácter supletivo, que tanto agrada a Marcelo por deixar tudo exatamente na mesma, ou seja na contínua sangria de recursos do SNS para encher os bolsos dos que fazem obsceno negócio. Ou ainda as reivindicações dos caciques dos bombeiros voluntários que, não só querem evitar verem-se marginalizados do lucrativo fornecimento dos meios de combate a incêndios como se querem livrar de quem lhes possa auditar as contas.

É porque tais argumentos podem e devem ser utilizados no momento certo mostrando aos portugueses o que está verdadeiramente em causa, que não me assustam as greves e muito menos a muralha intransponível, com que o governo as enfrenta. À exceção da luta dos estivadores de Setúbal, que tinha fundamento para se considerar justificada, todas as demais não encontram resposta assertiva do governo, que mantém o princípio de optar por dar mais a muitos, mas considera irresponsável dar tudo a todos.

No momento de depositarem o voto na urna, os eleitores preferirão quem lhes promete a continuidade de um processo, que lhes tem garantido a melhoria da qualidade de vida, do que quem se cola oportunisticamente aos supostos descontentes e, ou lhes cortaram direitos e remunerações, quando estiveram no poder, ou se escusam a cumprir regras europeias, sabendo de sobra o que tal significaria quanto à impossibilidade de conseguir os necessários créditos para financiar o Estado.

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