quarta-feira, 17 de julho de 2019

Portugal | Berardo desvaloriza impacto das suas dívidas na recapitalização da Caixa


Fundação José Berardo defende que as provisões para as suas dívidas apenas contaram para 1% do valor total colocado de lado pela Caixa até 2018. Só que utiliza os números até 2015, sem referir as imparidades de 2016

José Berardo desvaloriza o impacto que as suas dívidas tiveram nas provisões constituídas pela Caixa Geral de Depósitos e, portanto, nas causas da recapitalização de 3,9 mil milhões de euros do banco público em 2016.

Há um ponto de partida para este argumento da Fundação José Berardo: as provisões e imparidades – ou seja, os montantes reconhecidos como perdidos pelo banco – constituídas relativamente ao grupo ascenderam, até 2015, a 124 milhões de euros. Era 45% de toda a sua dívida, que superava os 300 milhões.

“Ao analisar o total das provisões da CGD entre o ano de 2006 (ano em que iniciámos a nossa relação comercial com a CGD) e o ano de 2018, o valor total de provisões no banco público foi de 12,362 mil milhões de euros”, começa por referir fonte oficial da Fundação José Berardo em declarações à imprensa.

“Assim os valores de 124 milhões de euros provisionados referidos no relatório preliminar, e assumindo que valor não se alterou até 2018, levam à conclusão de que o Grupo Berardo representava em 2018 na CGD 1,003% do total das provisões do banco público nesse período”, continua a mesma fonte autorizada em nome da fundação do universo do empresário madeirense.


O que a Fundação Berardo faz nesta análise é comparar as provisões relativas ao grupo Berardo constituídas entre 2006 e 2015 (o ano até ao qual a auditoria feita pela EY investigou, documento que foi usado como referência no relatório do inquérito parlamentar) face às provisões constituídas entre 2006 e 2018 em todo o balanço da CGD.

Ou seja, há aqui uma diferença de três anos: entre 2015 e 2018. E a questão é que em 2016 a CGD carregou fortemente imparidades e provisões (na comissão de inquérito, o antigo revisor oficial das contas do banco público declarou mesmo que houve um exagero), pelo que o impacto de Berardo poderá não ficar por aquela percentagem.

BERARDO COMO EXEMPLO NO INQUÉRITO

Berardo é mencionado por mais de uma centena de vezes no relatório preliminar da comissão de inquérito, da autoria de João Almeida, mas não é o único. São vários os projetos em que o banco agora comandado por Paulo Macedo se envolveu que surgem no documento, desde Vale do Lobo à Arlant, passando por outros investidores como a Invesfino, de Manuel Fino.

Só que Berardo surge, como o Expresso deu ontem conta, como um caso que exemplifica as grandes conclusões tiradas pelo deputado centrista: desde logo, porque o seu financiamento partiu de erros da Caixa, na altura em que era comandada por Carlos Santos Ferreira, com o Banco de Portugal, liderado então por Vítor Constâncio, sem atuar diligentemente.

José Berardo protagonizou a mais mediática das 36 audições da segunda comissão de inquérito à CGD, sendo que é neste momento alvo de avaliação política (Mota Amaral é o instrutor do processo que avalia a eventual retirada de condecorações estatais) mas também judicial (no âmbito do processo que corre e que tem a Caixa Geral de Depósitos como centro).

Da mesma forma, Berardo também é alvo, juntamente com suas entidades, de processos de execução colocados pelos bancos, um deles em conjunto entre CGD, BCP e Novo Banco, que querem ser ressarcidos em 962 milhões de euros.

Esta terça-feira o Banco de Portugal divulga informação agregada sobre os grandes devedores à banca e Joe Berardo, apesar de não aparecer identificado, será um deles.

Diogo Cavaleiro | Expresso | Cartoon em DN

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