Fundação José Berardo defende que
as provisões para as suas dívidas apenas contaram para 1% do valor total
colocado de lado pela Caixa até 2018. Só que utiliza os números até 2015, sem
referir as imparidades de 2016
José Berardo desvaloriza o impacto
que as suas dívidas tiveram nas provisões constituídas pela Caixa Geral de
Depósitos e, portanto, nas causas da recapitalização de 3,9 mil milhões de
euros do banco público em 2016.
Há um ponto de partida para este
argumento da Fundação José Berardo: as provisões e imparidades – ou seja, os
montantes reconhecidos como perdidos pelo banco – constituídas relativamente ao
grupo ascenderam, até 2015,
a 124 milhões de euros. Era 45% de toda a sua dívida,
que superava os 300 milhões.
“Ao analisar o total das
provisões da CGD entre o ano de 2006 (ano em que iniciámos a nossa relação
comercial com a CGD) e o ano de 2018, o valor total de provisões no banco
público foi de 12,362 mil milhões de euros”, começa por referir fonte oficial
da Fundação José Berardo em declarações à imprensa.
“Assim os valores de 124 milhões
de euros provisionados referidos no relatório preliminar, e assumindo que valor
não se alterou até 2018, levam à conclusão de que o Grupo Berardo representava
em 2018 na CGD 1,003% do total das provisões do banco público nesse período”,
continua a mesma fonte autorizada em nome da fundação do universo do empresário
madeirense.
O que a Fundação Berardo faz
nesta análise é comparar as provisões relativas ao grupo Berardo constituídas
entre 2006 e 2015 (o ano até ao qual a auditoria feita pela EY investigou,
documento que foi usado como referência no relatório do inquérito parlamentar)
face às provisões constituídas entre 2006 e 2018 em todo o balanço da CGD.
Ou seja, há aqui uma diferença de
três anos: entre 2015 e 2018. E a questão é que em 2016 a CGD carregou
fortemente imparidades e provisões (na comissão de inquérito, o
antigo revisor oficial das contas do banco público declarou mesmo que houve um
exagero), pelo que o impacto de Berardo poderá não ficar por aquela
percentagem.
BERARDO COMO EXEMPLO NO INQUÉRITO
Berardo é mencionado por mais de
uma centena de vezes no relatório preliminar da comissão de inquérito, da
autoria de João Almeida, mas não é o único. São vários os projetos em que o
banco agora comandado por Paulo Macedo se envolveu que surgem no documento,
desde Vale do Lobo à Arlant, passando por outros investidores como a Invesfino,
de Manuel Fino.
Só que Berardo surge, como o Expresso deu ontem conta, como um caso que
exemplifica as grandes conclusões tiradas pelo deputado centrista: desde logo,
porque o seu financiamento partiu de erros da Caixa, na altura em que era comandada por Carlos Santos Ferreira,
com o Banco de Portugal, liderado então por Vítor Constâncio, sem atuar diligentemente.
José Berardo protagonizou a mais
mediática das 36 audições da segunda comissão de inquérito à CGD, sendo que é
neste momento alvo de avaliação política (Mota Amaral é o instrutor do processo
que avalia a eventual retirada de condecorações estatais) mas também judicial
(no âmbito do processo que corre e que tem a Caixa Geral de Depósitos como
centro).
Da mesma forma, Berardo também é
alvo, juntamente com suas entidades, de processos de execução colocados pelos
bancos, um deles em conjunto entre CGD, BCP e Novo Banco, que querem ser
ressarcidos em 962 milhões de euros.
Esta terça-feira o Banco de
Portugal divulga informação agregada sobre os grandes devedores à banca e Joe
Berardo, apesar
de não aparecer identificado, será um deles.
Diogo Cavaleiro | Expresso | Cartoon em DN
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