sábado, 1 de agosto de 2020

O banditismo como instrumento da ordem internacional

A cumplicidade entre banditismo puro e a defesa e propagação do «nosso civilizado modo de vida» revela-se através de uma cadeia contínua e interminável de factos e exemplos.

José Goulão | AbrilAbril | opinião

Elon Musk, dono da Tesla, um dos homens mais ricos do mundo, twittou tranquilamente, como quem anuncia que vai jogar ténis, que «daremos o golpe em quem quisermos». E aconselhou: «lidem com isso». As palavras foram escritas num contexto relacionado com o golpe fascista na Bolívia, que permitiu a Musk desbloquear o livre acesso às maiores reservas de lítio do mundo, essenciais para a parte gorda dos seus negócios, os acumuladores de energia.

Musk é idolatrado pela comunicação social corporativa, um «rapaz traquinas», talvez um pouco desbocado mas com dotes de génio para a sua actividade empresarial, tal como magnatas na moda, como Mark Zuckerberg do Facebook, Richard Branson da Virgin, Jeff Bezos da Amazon, Bill Gates e alguns outros – a nata do regime neoliberal globalista, da riqueza blasée cultivada com muita «filantropia» e que, apesar das divergências de «estilo», se revê perfeitamente em Donald Trump embora prefira apostar os financiamentos em Joe Biden.

Repare-se no plural majestático usado pelo dono da Tesla: «daremos o golpe». Ou seja, as mudanças violentas de regimes políticos, a transformação de sistemas democráticos em ditaduras, são obras colectivas, dele próprio e de muitos outros, de um aparelho subversivo às ordens de um sistema institucional representando os grandes interesses que mandam no mundo. O recado fica dado: Musk & Cia dão e darão o golpe onde for preciso se isso for indispensável para os seus negócios, interpretados de maneira abrangente como o «nosso civilizado modo de vida».1 Instauram-se assim ditaduras que passam a ser reconhecidas como fruto da «reposição da democracia», estabelece-se o banditismo golpista como garante da única «democracia» autorizada.

Portugal | "Negar racismo é racismo". 200 manifestantes nos Aliados por Candé

Mais de 200 pessoas concentraram-se hoje na Avenida dos Aliados, no Porto, fazendo um minuto de silêncio em homenagem ao ator Bruno Candé que foi assassinado há uma semana em pleno dia numa avenida de Moscavide, distrito de Lisboa.

"Este vai ser um espaço em que nós vamos unir forças porque estamos desgastados, estamos cansados e isto [o assassinato de Bruno Candé] surpreendeu todas as pessoas. Nós vamos tentar unir forças, partilhar aquilo que é a nossa história, as nossas vivências e o nosso ponto de vista relativamente a tudo isto. Vai ser um espaço de cura, porque é isso que nós precisamos", declarou esta tarde à agência Lusa a organizadora da manifestação em homenagem a Bruno Candé e ativista Navvab Aly Danso, 23 anos, estudante de mestrado de Estudos Africanos na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Bruno Candé, de 39 anos, foi baleado no passado dia 25 de julho por outro homem, de 76 anos, em Moscavide, no concelho de Loures, distrito de Lisboa.

Perto das 16h00, iam-se perfilando na Avenida dos Aliados, perto da Câmara Municipal do Porto, várias pessoas, de vários géneros, de várias faixas etárias e de vários tons de pele, especialmente jovens, mas também famílias com os seus filhos ainda de colo ou com carrinhos de bebé.

Portugal | Negociações entre Chega e PSD? "Uma rutura com cultura social-democrata"

O PS considerou hoje que eventuais negociações entre o PSD e o Chega significariam uma rutura dos sociais-democratas com a sua cultura, acusando Rui Rio de ter uma atitude de "condução política em contramão".

Só uma atitude de "condução política em contramão no percurso da inovação social e económica pode justificar que o PSD esteja hoje já em fase de admitir poder vir a negociar com Chega. O que, a acontecer, significaria uma rutura do PSD com a sua cultura social-democrata", acusa o secretário-geral adjunto do PS, numa nota divulgada no final de uma visita ao mercado municipal de Leiria e futuro centro de incubação de empresas.

"Caso Rui Rio opte pela experiência de condução em contramão corre sério risco de colisão com a sua base eleitoral social-democrata", acrescenta José Luís Carneiro.

Na quinta-feira, o presidente do PSD admitiu conversações com o Chega com vista a entendimentos eleitorais apenas se o partido evoluir "para uma posição mais moderada", dizendo descartar essa possibilidade se esta força política "continuar numa linha de demagogia e populismo".

"Não depende do PSD, depende do Chega. Se o Chega evoluir de uma tal maneira que - embora seja um partido marcadamente de direita, em muitos casos de extrema-direita, muito longe de nós que estamos ao centro -, se o Chega evoluir para uma posição mais moderada, eu penso que as coisas se podem entender", afirmou Rui Rio, em entrevista à RTP3.

Posteriormente, em comunicado, o líder do Chega, André Ventura, respondeu ao presidente do PSD afirmando que só aceita conversações com os sociais-democratas se Rui Rio fizer oposição "à séria" e deixar de ser "a dama de honor do Governo socialista".

Na nota do PS divulgada hoje, José Luís Carneiro acusa ainda o PSD de ter um "comportamento retrógrado", que contrasta com a "visão empreendedora" dos socialistas e do Governo, considerando que os sociais-democratas têm chegado "atrasados e a más horas ao encontro com os ventos da História".

Numa alusão às críticas do líder do PSD à estratégia do Governo para o hidrogénio, José Luís Carneiro acrescenta que, num momento em que o Portugal "está na dianteira do grupo dos países que apostam no hidrogénio para efeitos de descarbonização, num projeto essencialmente financiado por fundos comunitários", os sociais-democratas voltam a chegar "tarde, a más horas e em contramão com o progresso".

No debate do Estado da Nação, em 24 de julho, Rui Rio classificou o investimento na produção de hidrogénio como "projeto extremamente perigoso", considerando que o país não tem "condições para aventuras nem para ideias megalómanas".

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: © Global Imagens

Portugal | Desgraças e cheques em banco

Manuel Carvalho Da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Nunca perderei a esperança de que é possível e vale a pena lutar por um Mundo melhor na certeza de se poderem, sempre, encontrar dimensões novas para a realização do ser humano. Contudo, evidenciam-se hoje demasiadas negações coletivas geradoras de medos.

O assassinato a sangue-frio do ator Bruno Candé e os escabrosos comentários justificativos desse ato hediondo mostram-nos racismo inculcado na sociedade portuguesa. Ora, o racismo e outras manifestações de intolerância e violência estão a armadilhar a vivência democrática das sociedades e o alarme tem de disparar quando, poucos dias depois, Rui Rio admite que se o Chega mudar de discurso (lavar a cara) até pode entrar no diálogo para um projeto de Oposição ou governação do país.

A desgraça maior é observarmos, simultaneamente: i) o poder desmedido e opaco com que os potentados tecnológicos Amazon, Apple, Facebook e Google se apresentaram ao Senado Americano; ii) a especulação financeira desencadeada pela "corrida às vacinas" contra a covid-19; iii) a invocação do combate à pandemia para se coartarem liberdades; iv) a forma indecorosa como certos países europeus se tornam frugais e credibilizam as casas de receção do roubo que são os offshore; v) a mais que suspeita gestão fraudulenta do Novo Banco, que infelizmente não é uma situação excecional - nem interna nem externa - mas sim o espelho do que se passa com o poder do setor financeiro e o uso subversivo de tecnologias; vi) a brutal queda do PIB (Produto Interno Bruto) e tantas empresas em coma. Cheira forte a um "novo" normal duro e perigoso, carregado de desemprego, de exploração e desigualdades, de pobreza, de profundos problemas sociais.

É difícil acreditar na legalidade das transações do Novo Banco quando a principal figura do fundo abutre que comprou as 13 mil casas, terrenos e outros bens imobiliários envolvidos no negócio veio da Lone Star. E o que é a legalidade? Como há muitos anos digo, o roubo "legal" é, nas sociedades atuais, incomensuravelmente maior que o roubo na plena acessão da palavra. Entretanto, quando se constata que negócios deste tipo são "legais", o problema em vez de se atenuar, agrava-se.

Fazem falta regulação e fiscalização sérias, mas os sistemas montados são autênticas fraudes. Como é possível, depois de tantos negócios ruinosos, compadrio e corrupção a marcarem o caminho da Banca, ter acontecido a privatização deste banco e ter sido assinado um contrato que permite ao comprador assaltá-lo por dentro e remeter a fatura das perdas para os bolsos dos portugueses? O que é isto? Talvez uma mistura de cegueira política, imprudência, impunidade e estupidez geradas pela "moderação" que marca o comportamento dos autointitulados cidadãos honrados que gerem os diversos poderes instalados.

A 3 de fevereiro de 2017 a Assembleia da República rejeitou, com votos contra do CDS, do PSD e do PS, projetos de resolução do BE e do PCP que se opunham à venda do banco à Lone Star e propunham a sua nacionalização. Muitos dos agora surpreendidos e indignados estão apenas a colher o que semearam. E o presidente da República, ou o primeiro-ministro não podem falar do assunto como se dispusessem apenas da informação do comum dos cidadãos. Não lhes podemos admitir hipocrisia política ou desresponsabilização.

* Investigador e professor universitário

Portugal | PSD, CDS E CHEGA ALIADOS? CHEGA, É DEMAIS!

Rui Rio, do PSD, abre a porta a um nazi mascarado de democrata, Ventura/Chega, e perspetiva que aceita ombrear com ele na falsa crença, doentia e salazarista, de que Portugal não é racista. Evidentemente que existe muito racismo em Portugal.

Existem imensos portugueses racistas que afirmam e até se julgam não racistas, mas o que é certo e constatável é que não são antirracistas. Consideram mesmo que os negros, amarelos, ciganos e de outras etnias e tons de pele devem ficar à parte, “nada de misturas”, dizem. E é essa a sua postura ao longo da vida. E não são racistas? Evidentemente que são. Mas não é só por isso que Portugal é constatavelmente racista, é notório no quotidiano.

Dessa opinião, dessa constatação, ao que parece, não comunga Rui Rio, sendo que é natural a um racista não reconhecer publicamente que afinal até é racista, como convém no momento atual a Ventura do Chega. Além disso pode-se colocar a seguinte questão: desde quando um nazi (alguém que descaradamente faz a saudação nazi, ladeado pelos seus sequazes nazis) não é racista, não é xenófobo, não é fascista e não é antidemocrático?

Ventura faz parte do avanço organizado do fascismo em Portugal, como se vê também por toda a Europa, por quase todo o mundo. Utiliza a democracia vigente para avançar e atingir posição predominante… Depois, adeus democracia, adeus liberdades, adeus direitos democráticos… Olá ditadura.

Se Rui Rio está na disposição de dar as mãos a um nazi-fascista-racista-xenófobo é lá com ele. Mal para o PSD, mal para todos os portugueses que prezam a democracia, a liberdade, os direitos e garantias democráticas consignadas na Constituição da República Portuguesa.

Do Expresso, a seguir, deixamos o rol/notícia sobre o tema e sobre a informação de Ventura acerca de “Rui Rio que admitia conversar para futuras pontes”. Fazer pontes com fascistas, com quem publicamente tem garbo em fazer a saudação nazi, tal qual Hitler ou Salazar? 

Amanhã, domingo (2), se saberá (ou não) sobre a nova postura de Rio e do PSD… E do blá-blá a justificar essa postura de acerto e conluio com Ventura, com o nazi-fascismo, por conseguinte com o racismo, entre outras “particularidades hitlerianas” contidas na ideologia, declarações e práticas do Ventura do Chega. 

Se o PSD se ficar porVentura, o CDS também vai embarcar no mesmo “embrulho”? Se assim acontecer, a uns e outros, para a democracia chega o momento da clarificação sobre quem é quem. A barricada deverá será erguida com o mais que justificável motivo de defender a democracia, a justiça social, os valores democráticos e conter os seus inimigos.

Da Lusa, no Expresso, leia a seguir.

Redação PG

A naturalização do discurso fascista nas relações sociopolíticas das democracias

Marcela Uchôa* | Carta Maior

Em “Aspetos do Novo Radicalismo de Direita” - publicado recentemente em português pelas edições 70 com tradução de Marian Toldy e Teresa Toldy – Theodor Adorno problematizou como o ressurgimento do nacional-socialismo na democracia é ainda mais perigoso do que a sobrevivência de tendências fascistas contra a democracia. 

O pathos do nacionalismo, os truques da propaganda subvertidos em discursos supostamente democráticos que engendram nossas estruturas sociais e políticas em pleno século XXI - fazem-nos refletir se fenómenos históricos se repetem... A preocupação em banir termos e símbolos são importantes, mas não só, o cuidado deve se estender à necessidade de superar as ideias que estruturam esse tipo de ideologia.

O nacionalismo - que tem ganhado espaço em debates públicos - sucumbe a forma obtusa como o racismo encontra seu lugar comum nas estruturas sociais que resguardam heranças fascistas. Esse tipo de ordenamento pode ser observado desde a estrutura de algumas instituições públicas até a violência policial como braço do Estado.

Mas, as raízes que estruturam o discurso fascista são ainda mais profundas, elas remetem a própria crise do capitalismo e de pouco adianta que tentemos combater o fascismo como expressão formal de um conteúdo de ódio, como é apanágio do discurso liberal, se não combatermos o capitalismo. A alternância entre o bem-estar social e pequenos avanços económicos fazem parte desse processo. São concedidos à uma parcela pequena da população que envolta pela alienação social em vez de lutar pelos seus direitos, fomentam uma competitividade entre a própria classe trabalhadora que fragmentada começa a lutar contra ela mesma, como num processo de autofagia que garante a manutenção do grande capital.

É essa a classe trabalhadora que acha que é elite, ou que um dia vai ser. Naturalizam a corrupção, o machismo, o racismo, a xenofobia e se autoflagelam nesse ciclo lancinante em que se autoconsumem, há algumas centenas de anos, em um processo repetitivo e degradante que tem dissipado o nosso próprio sentido de humanidade.

Esse processo não seria possível sem a ajuda de partidos, movimentos, que se desenvolvem de forma calculista - com uma estrutura maleável jogam de forma hábil com a inércia e a cumplicidade daqueles que deveriam ser seus opositores. Nessa armadilha os limites democráticos e legais ficam sob a chancela da comunicação social que comummente é gerida e fomentada pelos donos do capital.

Para os conformistas é salutar reencontrar Bertold Brecht, quem nos lembra que o fascismo não é uma catástrofe natural. É possível resistir mesmo nas condições mais terríveis, especialmente se compreendermos esses processos como cicatrizes abertas geradas pelo capitalismo, que faz com que agora tenhamos chegado à um momento histórico particular. O surgimento do neoliberalismo e suas condições de regulação tornam o recrudescimento do fascismo muito mais expectável do que noutros períodos históricos do capitalismo. Também essas condições alteram as bases de legitimidade do capitalismo, e ao que parece têm se tornado mais robustas do que nunca... Nesse sentido, quem se diz antifascista, antirracista e não é anticapitalista; não é contra as relações de produção que produzem a barbárie, é apenas contra a barbárie.

*Marcela Uchôa é doutoranda em Filosofia Política na Universidade de Coimbra, investigadora no Instituto de Estudos Filosóficos – IEF – UC

*Adaptado pela autora a partir de seu artigo publicado em 'O Público'

Imagem: Ilustração: Lézio Júnior

O novo velho continente e suas contradições: As monarquias - glamour e decadência



Existem atualmente doze monarquias na Europa. No princípio do Século XIX, com exceção da França, todos os países europeus eram governados por monarquias. Excluindo as Américas, era também a forma de governo disseminada pelo mundo. Cinquenta anos depois e duas guerras que mudaram a face de todos os continentes, existem menos de 50, das quais dezesseis dirigidas por Elizabeth II da Inglaterra. Uma delas, a do Vaticano, é uma monarquia teocrática

Celso Japiassu | Carta Maior

A evolução da humanidade não se dá de maneira igual na face do planeta. Tanto que testemunhamos, em qualquer momento da História, a existência de sociedades de civilização contemporânea com outras que ainda vivem na pré-história. Convivem hoje no mundo as experiências interespaciais e da mais avançada ciência com grupamentos que se abrigam nas selvas distantes, bem longe do que se convencionou definir como sociedades civilizadas, que eles desconhecem. Algumas sociedades ainda se encontram na Idade Média. Não surpreende, portanto, a existência em modernos países da Europa de governos que ainda trazem o formato das monarquias geridas por uma classe aristocrática fora do seu tempo. Com hábitos e comportamentos distintos das suas populações e também com a dose periódica de surpreendentes escândalos que pouco se diferenciam dos seus congêneres medievais. Não preciso falar das monarquias absolutas do Médio Oriente com seu rosário de crimes bárbaros pois nosso tema é a Europa.

Depois de vários escândalos financeiros, Juan Carlos I, de nome completo Juan Carlos Alfonso Víctor María de Borbón y Borbón-Dos Sicilias, rei de Espanha, viu-se forçado a abdicar em favor do filho, que assumiu com o nome de Felipe VI. A monarquia espanhola, destituída pela república, foi preservada por Franco desde a guerra civil. O velho ditador, que governou ele mesmo como um monarca absoluto, devolveu o trono à família real pouco antes de morrer e passou a chefia de Estado a Juan Carlos.

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