A cumplicidade entre banditismo puro e a defesa e propagação do «nosso civilizado modo de vida» revela-se através de uma cadeia contínua e interminável de factos e exemplos.
José Goulão | AbrilAbril | opinião
Elon Musk, dono da Tesla, um dos homens mais ricos do mundo, twittou tranquilamente, como quem anuncia que vai jogar ténis, que «daremos o golpe em quem quisermos». E aconselhou: «lidem com isso». As palavras foram escritas num contexto relacionado com o golpe fascista na Bolívia, que permitiu a Musk desbloquear o livre acesso às maiores reservas de lítio do mundo, essenciais para a parte gorda dos seus negócios, os acumuladores de energia.
Musk
é idolatrado pela comunicação social corporativa, um «rapaz traquinas», talvez
um pouco desbocado mas com dotes de génio para a sua actividade empresarial,
tal como magnatas na moda, como Mark Zuckerberg do Facebook, Richard Branson da
Virgin, Jeff Bezos da Amazon, Bill Gates e alguns outros – a nata do regime
neoliberal globalista, da riqueza blasée cultivada com muita
«filantropia» e que, apesar das divergências de «estilo», se revê perfeitamente
Repare-se no plural majestático usado pelo dono da Tesla: «daremos o golpe». Ou seja, as mudanças violentas de regimes políticos, a transformação de sistemas democráticos em ditaduras, são obras colectivas, dele próprio e de muitos outros, de um aparelho subversivo às ordens de um sistema institucional representando os grandes interesses que mandam no mundo. O recado fica dado: Musk & Cia dão e darão o golpe onde for preciso se isso for indispensável para os seus negócios, interpretados de maneira abrangente como o «nosso civilizado modo de vida».1 Instauram-se assim ditaduras que passam a ser reconhecidas como fruto da «reposição da democracia», estabelece-se o banditismo golpista como garante da única «democracia» autorizada.