#Publicado em português do Brasil
De todos os meios de comunicação,
o jornal The Guardian é a instituição, que se gaba de seus valores liberais e
herança progressista, que traiu o denunciante do século do pior modo possível.
O Guardian tem que ouvir nossos protestos agora - antes que seja tarde demais
Chris Williamson*
Faz 10 anos desde a publicação
dos registros de guerra do Iraque que expuseram dramaticamente os crimes de
guerra dos EUA.
É nesse contexto que deve ser julgado o fracasso abjeto da grande mídia em
geral, e do Guardian em particular, em expor as mentiras que estão sendo
vendidas sobre Julian Assange.
O Morning Star é literalmente o único jornal diário em que o público pode ter
acesso a reportagens precisas sobre esta e muitas outras questões crucialmente
importantes do dia.
O tratamento de Assange pela mídia corporativa, mesmo por seus padrões
incrivelmente baixos, tem afundado a novas profundezas.
Eles perpetuaram as invencionices sobre Assange, e sua falha em relatar com
precisão os fatos sobre seu julgamento e tortura, em solo britânico, tem sido
verdadeiramente de tirar o fôlego.
Mas é o Guardian que merece a maior desonra pública, porque usou e depois
abusou de sua relação com Assange para seu próprio ganho material.
Ele faturou com as revelações explosivas que Assange lhes proporcionaram - e
depois o jogou para debaixo do ônibus.
É por isso que está sendo apontado para receber a maior parte das críticas e
por que foi realizada a manifestação de ontem em frente a seus escritórios, com
outra prevista para 27 de novembro.
Muitos de nós costumávamos tratar o Guardião como um oásis de jornalismo
responsável e destemido, em um deserto dominado por fábricas de propaganda
apoiadas por bilionários, que compõem a grande maioria do quarto poder.
Antes de traí-lo duas vezes, teria sido inconcebível que o Guardian, de todos
os meios de comunicação, se tornaria o culpado pela situação atual de Assange.
O Guardian não só publicou a senha dos cabos criptografados que Assange lhes
havia dado na mais estrita confiança, como posteriormente publicou inúmeras
histórias desenhadas para manchar e minar a reputação de Assange.
Depois que me tornei alvo de uma campanha de difamação do Guardian no ano
passado, eu ganhei uma visão pessoal de quão longe ele tinha descido à sarjeta.
Mas as consequências para mim foram minúsculas quando comparadas com o que
Assange já sofreu, com algo ainda pior por vir, caso os EUA tenham sucesso em
seu esforço para extraditá-lo.
É a traição do Guardian que é central para os esforços dos EUA para silenciar
Assange, destruir o WikiLeaks e esmagar quaisquer futuras tentativas de expor o
abuso do poder estatal.
Os esforços, que evitam a fala clara, do Guardian para absolver-se da culpa são
provavelmente o exemplo mais notório de sua traição a Assange e uma completa
abdicação dos cinco princípios fundamentais do jornalismo.
Esses princípios requerem verdade e precisão, independência, equidade e
imparcialidade, humanidade e responsabilidade.
Enquanto Assange incorpora esses princípios, o Guardian falhou em todos deles.
Quando o Parlamento está prestes a introduzir uma legislação que autoriza a
conduta criminosa pelos serviços de segurança em casa e absolve crimes de
guerra no exterior, nunca houve um momento mais importante para o tipo de
jornalismo destemido que Assange representa.
A orgulhosa herança do Guardian tem sido sujada pela forma como tem lidado com
Assange.
Então, se é para recuperar sua reputação, o Guardian tem que mudar de curso,
parar de agir como um poodle para as administrações britânica e
norte-americana, admitir que ele prejudicou Assange e começar a falar em defesa
de uma verdadeira imprensa livre.
*Carta Maior | Imagem: Morning Star
*Publicado originalmente em 'Morning Star' | Tradução de César Locatell