quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Um fenómeno no Benfica!

Luís Filipe Vieira só tem a quarta classe? Mas então é espantoso como sabe de engenharia financeira e de outras tantas engenharias. E saberá ler, escrever e contar – diminuir, somar, multiplicar e (mais difícil) dividir? Mirabolante e fenomenal!

Bom dia e muitos golos para todos. Hoje vamos à bola, o que é raríssimo aqui no PG. A superalienação da redondinha, dos muitos milhões e das falcatruas, está a recuperar a presença... E a ativar as mentes brilhantes que sabem tudo sobre futebol e nem sabem ou não querem saber que o Chega é um partido fascista que se aproveita da democracia debilitada para chegar aos portugueses e ter lugar na Assembleia da República. Temos por cá no Continente portugueses que são um espanto, e nos Açores, e na Madeira.

Vamos ao tema de abertura do Curto, por Pedro Candeias (imagem de Tiago Miranda). A redondinha, a bola, o futebol, o Benfica, o Luís Filipe Vieira – presidente do SLB. Vamos, cantando e rindo… levados, levados sim… O costume.

Porque de futebol, no PG, nem somos entendidos, só sabemos acerca de quando a bola entra na baliza e é golo, vamos ser breves. Mas (e há sempre um mas), talvez fora do contexto, botamos faladura e alinhamos umas quantas palavras. Assim, julgamos saber e sentir, que o futebol dos milhões é deveras alienante, que as falcatruas, a desonestidade, as quadrilhices, são mesmo de serrar presunto destinado a estúpidos ou a desiludidos com a sociedade, com os políticos, com a vida escrava que compulsivamente levam, etc. Uma tristeza. Mas, é verdade que esporadicamente há jogadas que são um espetáculo, mesmo lindas, e é dessas que estamos sempre à espera, a olhar embevecidos. Depois, o resto são tretas que alimentam exageradamente, imoralmente, os da FIFA, da UEFA, dos grandes clubes, assim como uns quantos eleitos vedetas do manuseamento da bola de facto que acertam e marcam espetaculares golos e realizam mirabolantes fintas. Melhores que os políticos do planeta que acertam sempre ao lado, são uns falhados, e só são bons nas fintas que fazem aos eleitores, aos povos, nas contas e orçamentos… Enfim… Estávamos a falar de quê? Pois, das declaradas máfias.

Adiante, e fim da prosa. Ficamos por aqui. A palavra para o Curto de Pedro Candeias sempre à frente e atrás porque assim ilumina melhor, e o problema cá do burgo é precisarmos mesmo de muita iluminação para podermos ver as falcatruas, a corrupção, os roubos. Era óptimo que a tal Justiça também visse e afrontasse os poderes dos mais que tudo… nas máfias constituídas, como circulam as suspeitas. Dito, e desculpem as apreensões aqui explicitas.

Bom dia e bons golos na transparência que a iluminação nos mostrar. Se alguma vez mostrar. Mas que não nos encandeie.

MM | PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

O homem com a quarta classe e que não fala inglês vai a referendo

Pedro Candeias | Expresso

Bom dia,

O manifesto eleitoral de Luís Filipe Vieira tem escrito na folha de rosto “Uma História Com Futuro - Luís Filipe Vieira 2020” e essa é a primeira vez que o nome do presidente aparece no documento de 42 páginas: no total, serão 122 menções; Visão e Líder, escritas assim, com uma capitular que fere, também dificilmente passam despercebidas.

Em contraste, no programa de João Noronha Lopes, titulado “A Glória É Agora”, o nome do gestor surge apenas no link que encaminha para o site da campanha para nunca mais se mostrar depois; em “O Benfica É Nosso”, o nome de Rui Gomes da Silva, o mais frenético dos três, está inesperadamente omisso.

Há diferenças entre os candidatos e o que eles se propõem fazer, melhor dito, o que eles se propõem a tentar fazer se forem eleitos presidentes do Benfica esta quarta-feira. Porque, como escreve Bruno Vieira Amaral em três deliciosos textos, há uma tendência irresistível de todos para se perderem em ego trips (Vieira), trips psicadélicas (Noronha Lopes) e megalomanias (Gomes da Silva).

O presidente em exercício relembra as obras feitas, alerta para o fantasma Vale e Azevedo e abre um distanciamento ideológico entre ele, que é um homem do povo, um self-made man com a quarta classe que não fala inglês, e os outros, que são a elite e a intelligentsia não tem lugar na bola; isso é coisa de queques e isto é o Benfica.

Por outro lado, os rivais apresentam ideias concretas, como mecanismos que garantam transparência, o fim dos comissionistas e da opacidade dos negócios de Vieira, mas também se perdem em medidas que têm a aderência à realidade de um velcro coçado.

Só que, em última análise, conclui Bruno Vieira Amaral, Vieira é praticamente imbatível, as presidenciais perdem-se e não se ganham - e no futebol só o futebol interessa, e o futebol do Benfica está ok. Eu acrescento que os 19 títulos de Luís Filipe Vieira, o histórico, a máquina, a notoriedade e a pesada estrutura montada também contam.

O exemplo mais concreto deste poder é a quantidade de entrevistas que o candidato deu nos últimos dias, correndo todos os canais televisivos, pelo menos duas rádios e ainda um jornal desportivo. Tornou-se difícil manter o registo, no meio desta azáfama.

A súbita vontade de falar - é que Vieira mandou dizer, há duas semanas, que não daria entrevistas - tem duas justificações possíveis. A primeira: o aumento do número de casos desacelerou o ritmo da campanha e portanto o presidente achou-se com mais tempo disponível para se sentar com os jornalistas, o que é perfeitamente plausível. A segunda é mais cínica, mas nem por isso inverosímil: talvez a concorrência tenha ganho lastro suficiente para assustar, pelo menos ligeiramente, o status quo; quem sabe a imagem de Vieira tenha sofrido erosão com os casos de Justiça e com o facto de alguns notáveis e ex-glórias do Benfica terem mudado de lado; e certamente as duras críticas de Bernardo Silva, o produto acabado da formação do Seixal criada pelo presidente, o deixaram “magoado”.

Estas eleições são, então, uma espécie de referendo.

Assim, Luís Filipe Vieira entregou-se ao escrutínio sem guião e preparado para improvisar respostas, incomum na sua longa carreira de estadista encarnado. O resultado destes desempenhos foi ambíguo. Por um lado, as conversas fluíram melhor e Vieira conseguiu passar os seus pontos fortes, recuperando legitimamente os seus feitos inatacáveis: o tipo que subiu a pulso e reconstruiu o Benfica, “nem vos conto como aquilo estava antes de mim”, que deu credibilidade a um clube outrora falido, e que conquistou títulos e vendeu jogadores por números impensáveis são verdades indesmentíveis.

Mas Vieira também escorregou nas suas incoerências e contradições. Por exemplo, assumiu agora que tinha contactado Jorge Jesus antes de certificar Bruno Lage como treinador; em 2019, na altura da apresentação de Lage, o presidente acusou os jornalistas de terem inventado contactos entre ele e J.J. Mais ainda, Vieira perdeu-se a tentar explicar as repentinas reviravoltas estratégicas: em junho, o CEO Domingos Soares de Oliveira avisava que o mercado ia contrair por causa da pandemia e pedia prudência; depois, o Benfica gastou quase 100 milhões de euros, foi o sexto clube europeu que mais investiu, à frente do PSG ou do Bayern de Munique. E acabou eliminado na pré-eliminatória de acesso ao playoff da Liga dos Campeões.

É, no entanto, bastante provável que Luís Filipe Vieira seja reeleito confortavelmente uma sexta vez para um mandato de quatro anos que ele jura ser o seu último. Salvo futura contradição, claro.

Porque ela é redonda e move-se.

P.S: A Tribuna Expresso estará em direto todo o dia a acompanhar as eleições do Benfica. Leia-nos aqui e siga-nos no Facebook, no Twitter e no Instagram

OUTRAS NOTÍCIAS

Nesta manhã, uma das coisas indispensáveis que o deve acompanhar à saída de casa é o chapéu de chuva, porque está de chuva; a outra é a máscara, porque entra em vigor o diploma aprovado no Parlamento que obriga ao uso desta proteção nos espaços públicos. Os casos positivos continuam a subir aceleradamente, o número de internamentos já não está assim tão distante de abril quando Portugal registou o seu pico, o SNS dá sinais de ruptura e o país está assim. Portanto, cuide-se, cuide dos outros e leia o guia sobre quando, como e porque deve andar de máscara nos próximos 70 dias; relembro igualmente que de 30 de outubro a 3 de novembro a circulação entre concelhos está proibida, com 14 excepções, aqui explicadas pelo Expresso. Lá fora, os números de Itália, Espanha e Reino Unido são preocupantes.

Bem dentro do Parlamento há dois deputados infectados, quatro isolados e um teste inconclusivo, mas bem sabemos que não é isso que nos leva a espreitar o hemiciclo. Na terça-feira, Bloco de Esquerda e Governo desafiaram-se à desgarrada, com António Costa a acusar Catarina Martins de se pôr ao lado da direita, por não aprovar o Orçamento do Estado 2021. Costa acantonou Catarina, sugerindo “deserção” numa votação que era simbólica, uma “clarificação política”, e perguntou-se se isto não seria uma irrevogabilidade como a de outros tempos. A líder do BE, por sua vez, não excluiu discutir o OE na especialidade, que é para onde este se encaminha depois de passar com a abstenção do PCP, PAN e PEV e dois votos a favor de duas deputadas não inscritas. Leia a análise ao jogo político e de sombras aqui; faça scroll e busque os momentos-chave neste direto do Expresso; e se já está farto de me ler, ouça este Expresso da Manhã, o novo podcast cá da casa, com Paulo Baldaia. Vai a tempo da segunda ronda de debates do OE, que se prevê arisca e arranca dentro de pouco.

Falta cada vez menos para se decidir o novo presidente dos EUA e temos uma página especial para o efeito, onde encontra as reportagens do nosso correspondente, dos nossos enviados especiais e um diário imprescindível para conhecer a América - a entrada de hoje é sobre realidades enganadoras. Entretanto, já votaram 64 milhões de americanos, diz o The New York Times, enquanto a campanha dos dois candidatos prossegue: Biden esteve na Georgia, território republicano, enquanto Trump andou pelo Wisconsin, Michigan e Nebraska. E Barack Obama, cada vez mais ativo na defesa do seu antigo “vice”, atirou o seguinte: “Trump tem inveja da cobertura mediática dada à Covid”.

FRASES

“Só posso chamar-lhe ladrão”, afirmou José Miguel Júdice, acusando Rui Pinto durante o julgamento Football Leaks.

“José Miguel Júdice lidou durante décadas com ladrões, que lhe encheram a conta bancária através de honorários milionários, e nunca se queixou”, respondeu Rui Pinto, na sua conta no Twitter

“Só tenho processos porque sou presidente do Benfica”, disse Luís Filipe Vieira, em entrevista à CMTV

”Fomos inteligentes a ver o que o jogo estava a pedir e fomos felizes”, analisou Sérgio Conceição, após o triunfo do FC Porto sobre o Olympiacos (leia a crónica da Tribuna Expresso, aqui)

O QUE ANDO A LER

O protagonista não se apresenta pelo nome, mas pela condição: “Sou americano, nascido em Chicago - CHicago, aquela cidade sombria - , e encaro as coisas da maneira que aprendi a fazer sozinho, em estilo livre. Vou, portanto, fazer o relato à minha maneira: o que bater primeiro, é o primeiro a entrar; às vezes, uma pancada inocente, outras nem tanto. Mas o carácter de um homem é o seu destino, diz Heraclito”.

Assim começam “As Aventuras de Augie March” (ed. Quetzal), de Saul Bellow, um épico sobre o individualismo americano, encarnado aqui por um anti-herói judeu, abandonado pelo pai, criado com dois irmãos - Simon, macho-alfa; Georgie, autista - por uma mãe frágil e pela avó paterna dominante, complexa e temível. Em 700 páginas - eu vou mais ou menos a meio - Augie descreve-nos a vida naquela Chicago em crise dos anos 20, socialmente quebrada entre os que tinham e os que não tinham, e os esquemas que estes eram obrigados a fazer para tentar ter o seu ao fim do mês.

Augie, rapaz de princípios que ocasionalmente se mete em trapalhadas com a lei, crescerá para se tornar um homem atraente, inteligente, capaz de disfarçar a educação precária com os tiques dos ricos (roupa, carros, postura) para quem irá trabalhar. Inquieto, March nunca ficará muito tempo com o mesmo emprego nem no mesmo sítio, e a sua vida será um corrupio de oportunidades agarradas e falhadas, de reinvenções contínuas (homem de recados, motorista, ama-seca de uma milionária que passa por sua amante, assaltante de carros incompetente) na busca de um triunfo pessoal que só poderia acontecer assim, na América.

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