sábado, 25 de junho de 2022

ASSASSINOS DO JORNALISMO ANDAM À SOLTA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Shireen Abu Akleh, jornalista, foi assassinada quando fazia a cobertura, para o canal de televisão Al Jazeera, de um ataque das tropas israelitas à cidade palestiniana de Jenin, na Cisjordânia. O governo de Israel apressou-se a fugir às responsabilidades, dizendo que a repórter “foi abatida por disparos palestinianos”. Que não tinham armas.

A repórter e um colega usavam coletes com a indicação “Imprensa” e capacetes de protecção. Um atirador especial, com uma arma especial, apontou à parte da cabeça não protegida e matou Shireen Abu Akleh. O matador só podia ser um militar israelita. Mais ninguém estava armado em Jenin. 

Apesar da crueldade deste crime, o Tribunal Penal Internacional não mandou ninguém à Palestina investigar. Antony Blinken não foi com a sua criadagem dos Media filmar os estragos no campo de refugos de Jenin. Úrsula von der Leyen não foi lá tremelicar ante as câmaras das televisões ao serviço da CIA. Ninguém quis saber. 

O sacristão António Guterres também primou pela ausência e não abriu a boca. Mas hoje a ONU veio dizer que Shireen Abu Akleh foi assassinada pelas tropas israelitas. Aconteceu alguma coisa? Uma sançãozinha que fosse? Nada. Os assassinos de jornalistas que não obedecem aos donos, andam à solta. E são bem pagos pelo estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA).

Julian Paul Assange é jornalista. Abalou o mundo mediático ocidental quando fundou o “site” WikiLeaks. Após revelar provas de inúmeros crimes do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA), foi perseguido pelos protectorados europeus. Primeiro a Suécia arranjou-lhe um processo por violação de uma mulher. Quando foi arquivado por falta de provas, o protectorado inglês resolveu prendê-lo a mando de Washington. O jornalista refugiou-se na embaixada do Equador em Londres, nessa época governado por políticos decentes. Lá viveu, em clausura, vários anos.  

O poder político mudou em Quito e os novos políticos entregaram Julian Assange à Polícia Metropolitana de Londres. Está preso desde 11 de abril de 2019, sob a acusação de ter violado as condições estabelecidas na sua fiança em 2010! Um Tribunal britânico decidiu agora entregar o jornalista australiano aos matadores de Washington. Aconteceu alguma coisa? Nada. Nem tímidos protestos das organizações nacionais e internacionais de jornalistas. Nem das extensões da CIA que dizem defender os direitos humanos com o disfarce de organizações não-governamentais. E lá vai ele para a morte por ter ousado ser jornalista sem pedir licença aos mentores do banditismo políticos e mediático. Ai se fosse o russo Dmitry Muratov!

O sistema não assassina apenas os jornalistas. Também mata o Jornalismo, em directo ou diferido. A TPA ontem, precisamente dois meses antes das eleições, emitiu uma “grande reportagem” sobre o contrabando de combustível nas províncias do Zaire e Cabinda com o título genérico, a teia de aranha. O trabalho é assassinado (não é gralha…) pelo director de informação do canal público, Cabingano Manuel. 

O autor comete vários e graves crimes de abuso de liberdade de imprensa, alegremente, irresponsavelmente, malevolamente. O Direito à Inviolabilidade de várias pessoas e instituições foi arrasado por Cabingano Manuel. Se o director do canal procede assim, imaginem os seus subordinados. 

O autor da peça da TPA atropelou gravemente o direito à imagem e à palavra escrita e falada. Fez uma confusão perigosa entre um telefonema que efectuou para uma das vítimas e a obrigação de ouvir a outra parte. Julgou e condenou na praça pública instituições como a Polícia Nacional, Polícia Fiscal, Exército, Marinha de Guerra e a Sonangol. Nesta parte o crime, particularmente grave, foi cometido com a conivência de um alto quadro da empresa pública.

Gravíssimo foi o “sketch” montado na prisão de um oficial da Polícia Nacional, segundo comandante de uma esquadra. Em vez de ser chamado ao comando provincial ou ao comando-geral da PN, o oficial foi assaltado por colegas no seu gabinete, com as câmaras filmando tudo, desde a sua resistência até à brutalidade da prisão à força. 

Não vi qualquer reacção do Ministério do Interior ou do Comando-Geral da Polícia Nacional. Nem sequer o anúncio de um inquérito aos responsáveis daquele filme que atira com as forças de segurança para o lixo. Um “general” da Marinha de Guerra no Soyo também é apontado como suspeito de chefiar a rede de contrabando. Não vi, até agra, qualquer reacção do Estado-Maior, no mínimo defendendo a honra do almirante que está na base do Soyo. Silêncio absoluto.

A administração da Sonangol também prima pelo silêncio quando o canal público de televisão diz que funcionários da empresa roubam combustível para alimentarem o contrabando. Esta acusação gravíssima é chancelada por um alto funcionário da petrolífera nacional que não diz coisa com coisa. Está ali apenas para enfeitar e enganar os consumidores.

A única fonte de Cabingano Manuel é um tal Rui Ganha Fácil, que não dá a cara. É pseudónimo de alguém que quer mostrar serviço ao chefe. Mandou dizer que merece continuar no lugar para o qual nunca devia ter sido nomeado. Até ao dia 24 de Agosto estou de férias. No dia seguinte direi quem é o aranhão que se serviu do director de informação da TPA para dar um tiro de monakaxito na cabeça do MPLA.

Por agora quero falar de Jornalismo. Ninguém pode usar a imagem seja de quem for, sem seu consentimento. Ninguém pode usar as suas palavras, sem seu consentimento. As excepções constam da lei e a TPA violou gravemente direitos de cidadãos ao mostrar a sua imagem e revelar as suas palavras, sem seu consentimento. Ilegalmente.

O Direito à Inviolabilidade Pessoal tem uma projecção moral onde está incluído o Direito à Honra, Bom Nome e Consideração Social. Cabingano Maniel viola gravemente pessoas e instituições, entre as quais forças de defesa e segurança. O abusador não sabe que tem tanto direito â honra quem é muito honrado como quem é muito desonrado. E esse direito sobrepõe-se à liberdade de imprensa. Os magiustrados judiciais é que condenam ou absolvem. Os Tribunais não são os canais de televisão.

Os crimes de abuso de liberdade de imprensa são, antes do mais, crimes contra o Jornalismo e contra os jornalistas. Quando o criminoso é director de informação do canal público de televisão, estamos conversados. Com a teia da aranha, Cabingano Maniuel mostrou exuberantemente que não tem as mínimas condições para ser jornalista, quanto mais director de informação da TPA! 

O Bloco Democrático afinal não é esquina, não é frente, não é retaguarda. É apenas a latrina dos sicários da UNITA. A comissão política veio explicar que “o presidente do partido, Filomeno Vieira Lopes, e o Secretário-Geral, Muata Sebastião, por decisão aceite no conselho n acional e para o contínuo funcionamento normal das estruturas não farão parte da lista da UNITA”. Só fica lá o “doutor” Justino Pinto de Andrade, porque já não distingue entre um chifre partido e um partido político. Já nem se lembra que Angola é independente. Está tão mal da mona que quando vai urinar, puxa da gravata e faz chichi nas calças. Estes, sim, são os motores da alternância política em Angola.

A cambalhota tem que ser explicada. Filomeno Vieira Lopes e Muata Sebastião não entram nas listas das fogueiras da Jamba e dos combatentes da PIDE e dos racistas da África do Sul, porque não podem ser dirigentes de um partido e entrar nas listas de outro. Percebem?

Estes vigaristas são verdadeiramente uma fraude! O Povo Angolano merecia melhor.

*Jornalista

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