Vamos ter de falar sobre o tempo, Manuel
Rui Gustavo | Expresso (curto)
Bom dia,
Não é por falta de assunto, mas
vamos ter de falar sobre o tempo. Depois da tempestade que se abateu ontem sobre o país, com especial
intensidade no Alentejo e na Grande Lisboa, a bonança ainda não é para
hoje.
De acordo com o IPMA – e com isto visualizo logo o Anthímio de Azevedo a preto e
branco a colar nuvens com raios e gotas de água num painel metálico com o
território de Portugal – estão previstos “aguaceiros, por vezes
fortes” e “trovoada em especial na região Sul” a partir das nove da manhã de
hoje e até às 18h00. O tempo só deverá melhorar amanhã, quinta-feira.
A chuva vai continuar, tanto na zona de Lisboa como no Porto talvez com menos
intensidade do que ontem (nunca tinha chovido tanto em 24 horas em Lisboa) o que
provocou um caos com estradas cortadas e destruídas, escolas fechadas, casas, lojas e garagens inundadas, autocarros parados,
pessoas desalojadas, animais abandonados à sua sorte e a certeza de
que talvez seja altura para agir com alguma assertividade em relação às
alterações climáticas, porque a parte de falar já lá vai. Se bem que, tal como
diz o presidente do IPMA, Miguel Miranda, “se nós dizemos que é um problema da
mudança climática para justificarmos a nós próprios, não fazemos algumas
intervenções que são necessárias, então não me parece muito boa estratégia”.
Eu sei que sou suspeito, mas não é de mais recomendar o excelente trabalho que os meus camaradas do Expresso
estão a fazer sobre esta convecção (esta aprendi ontem) que continuará a afetar
o país.
O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas repetiu ontem os apelos para as
pessoas “ficarem em casa” porque não era “dia de sair”. Para hoje, ainda
não se sabe. Mas na distante localidade de Gondizalves, a
Há um ano que Manuel Pinho está em prisão domiciliária sob
suspeita de ter recebido cinco milhões de euros do Grupo Espírito Santo quando
era ministro da Economia de um dos governos de José Sócrates. Hoje, um ano
depois de lhe terem posto uma pulseira no tornozelo (tornozeleira, no
português do Brasil), Pinho terá de ser acusado ou libertado. Isto se não
surgir algum fenómeno climatérico judicial de última hora, o que não seria
totalmente inédito.
O caso começou a ser investigado há dez anos e para além de Pinho,
são arguidos no processo António Mexia e João Manso Neto que, na sequência das
suspeitas de terem corrompido o ex-ministro da Economia para favorecer os
interesses da EDP, foram afastados da administração da empresa
energética. Estes factos não deverão ser incluídos na acusação do
Ministério e vão continuar a ser investigados, aparentemente sem prazo definido
para uma conclusão.
Nos últimos meses, a tensão entre Manuel Pinho e os procuradores do MP que o
investigam agudizou-se com flippers apreendidos, acusações de homofobia a
um dos magistrados e uma pensão congelada por motivos não climatéricos.
Mas hoje, Manuel, temos de falar do tempo.
OUTRAS NOTÍCIAS
E agora notícias do mundo do
entretenimento:
França e Marrocos disputam hoje a segunda vaga na final do
Campeonato do Mundo que se disputa no Qatar por entre relatos de abusos dos
direitos humanos e algum bom futebol. Os gauleses, que já venceram dois
títulos mundiais e dois europeus, são claramente favoritos tal como era a
Bélgica, a Espanha e todos sabemos quem. E também todos sabemos como acabou,
num vale de lágrimas que ainda não sarou.
Os africanos chegam a esta fase da prova com o feito notável de terem sofrido
apenas um golo que nem sequer foi marcado por um adversário: Autogolo de
Aguerd no jogo contra o acessível Canadá. São também a primeira seleção do
continente africano a chegar a uma meia-final do Mundial
Ainda assim, a França tem tudo para chegar à quarta final da história, o que é
notável se notarmos que ainda a bola não tinha começado a rolar e já “le bleus”
tinha perdido N’Golo Kanté, Pogba e Benzema, só para falar das ausências mais
signficativas.
História com alguma piada: Olivier Giroud, o avançado que se tornou o maior marcador da
seleção francesa durante este mundial, dividiu o balneário com o selecionador
marroquino, Walid Regragui. Em 2008, o então jovem avançado jogou no
Grenoble com o lateral que nunca chegou muito alta na carreira de jogador.
Giroud, já então subestimado, foi dispensado e Regragui preparava-se para a
despedida.
Ontem, a Argentina (que também tem dois títulos mundiais) cilindrou a
Croácia de Modric demonstrando que o barrilete cósmico não morreu. Messi foi Messi – ai o segundo golo, minha mãe - e o jovem Julian
Alvarez fez um bis. Ficou 3-0.
A final disputa-se no próximo domingo e vai ter dois jogadores do
campeonato português: Enzo Fernandez e Nicolas Otamendi têm feito parte do 11
titular e jogam no Benfica.
O treinador português Vítor Pereira vai treinar o Flamengo, do
Rio de Janeiro. O técnico tinha abandonado o rival Corinthians com o
argumento de que tinha de acompanhar a sogra doente. Vai passar uns tempos a
ter de justificar esta mudança de planos.
Em Portugal, joga-se o futuro próximo de Fernando Santos, o técnico que lidera
a empresa que levou a seleção aos quartos de final do mundial. A Bola de ontem garantia que o acordo para sair está feito. A
notícia não foi desmentida nem confirmada. Cheira a fim de festa.
Francisco J. Marques depõe hoje em tribunal a partir das 11h00 no caso da
divulgação dos emails do Benfica. O diretor de comunicação do FC Porto está a
ser julgado por violação de correspondência ou de telecomunicações, acesso
indevido e ofensas a pessoa coletiva agravados. Em causa está o facto de ter
divulgado emails do Benfica que, segundo ele, denunciavam um esquema de
favorecimento dos árbitros aos encarnados.
Eva Kaili, ex-vice-presidente do Parlamento Europeu suspeita de
corrupção declarou-se inocente de ter feito lóbi ilegal a favor
do Qatar e, segundo o advogado que a defende, nada tem a ver com os sacos
de dinheiro que foram apreendidos ao pai em fuga.
Um quarto dos adolescentes portugueses já se feriu de propósito e nove por
cento está “tão triste” que “não” aguenta. Mas também há boas notícias neste
estudo da Organização Mundial de Saúde: os jovens portugueses estão mais ativos e menos gordos.
Nos Estados Unidos, cientistas da Infraestrutura Nacional de Fusão conseguiram produzir mais energia do que a despendida por um
feixe de lasers que incidiu numa cápsula com o tamanho de um grão de pimenta.
O feito inédito promete abrir caminho a uma nova fonte de energia limpa. E há
uns anos, também podia ser o início de uma obra de ficção científica.
Frases
“Triste sina esta de viver em Lisboa, a mítica cidade fundada por Ulisses e por
onde Ulisses nunca passou, como lembrou com algum sarcasmo Eduardo Lourenço, e
onde os autarcas, ministros e demais entidades se sucederam ao longo de décadas
anunciando tranquilizantes prazos e engenharias que sabiam inutilmente
destinadas a uma gaveta.”
Francisco Louçã, lisboeta molhado
e deprimido
"Temos muitas zonas da cidade que estão em estado de catástrofe"
Carlos Moedas, presidente da
Câmara de Lisboa que ainda assim não declarou o estado de calamidade
“Ninguém escolhe ser refugiado”
Joana Brandão, da Portugal com
ACNUR, parceira nacional do Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados (UNHCR/ACNUR), a escolher relembrar o óbvio
“Aos jogadores pagava-se, impostos não se pagavam”
Contabilista da Naval no julgamento de Aprígio Santos, ex-presidente do clube
que se extinguiu em 2016 com um total de nove milhões de euros
“Admito que não tenha pago"
Ferreira Nunes, ex-vice-presidente do Conselho de Arbitragem que foi ver um
jogo do Benfica a Dortmund com despesas pagas, supostamente por Paulo
Gonçalves, ex-assessor jurídico dos encarnados
O que eu ando a ler
Kafka à beira-mar
Haruki Murakami
Casa das Letras
Eu não costumo oferecer livros sem os ler, mas abri uma exceção para este
imponente tomo de 387 páginas e dei-o à minha irmã embalado pelas críticas
favoráveis e hipnotizado pelo gato da capa. A bizarra odisseia de Kafka, um
adolescente japonês de quinze anos, tornou-se o livro favorito da minha
sobrinha da mesma idade e voltou a mim, para finalmente o ler. Murakami é um
encantador de leitores e sabe como manter viva uma história de um aparente
crime que decorre num cenário onírico e surrealista com um erotismo
desconcertante. Nipónico ocidentalizado (explorou um bar de jazz em Tóquio e
traduziu Carver e Sallinger), o autor faz referências constantes à cultura
ocidental, mais especificamente à música clássica de Beethoven ou Haydn,
passando pelo jazz de Coltrane e o rock dançável de Prince. O livro foi escrito
antes do regresso de Murakami ao Japão (viveu grande parte da vida adulta
Sugestões sempre excelentes da equipa multimédia do Expresso:
“É um milagre político a unidade da UE nesta guerra. As primeiras brechas vão
aparecer no pós-conflito”. A União Europeia já vai no nono pacote de sanções
contra o regime de Vladimir Putin. Será que esta sucessão de medidas significa
que os pacotes anteriores tiveram pouco efeito? E até quando podemos contar com
a unidade europeia neste conflito? E será que os europeus têm os meios para
aguentar esta guerra no tempo? Uma conversa de Martim Silva com Sandra
Fernandes, convidada residente do Bloco de Leste e investigadora da
Universidade do Minho.
https://expresso.pt/podcasts/2022-12-14-E-um-milagre-politico-a-unidade-da-UE-nesta-guerra.-As-primeiras-brechas-vao-aparecer-no-pos-conflito---a-analise-de-Sandra-Fernandes-e07d3a8c
Corrupção da Defesa e falta de prudência no Governo. Na Comissão Política desta
semana com moderação de Eunice Lourenço, Vítor Matos, David Dinis e Hélder
Gomes discutem a Tempestade Perfeita que destapou suspeitas de corrupção na
Defesa. E é de corrupção que fala o investigador Luís Sousa, numa participação
especial da edição desta semana onde também se discute a oposição que o PSD faz
https://expresso.pt/podcasts/comissao-politica/2022-12-13-Comissao-Politica-corrupcao-da-Defesa-e-falta-de-prudencia-no-Governo-a065ee7d
A arbitragem no Mundial “não está ao nível” do que se vê em campo - e o
regresso em força da violência ao futebol português. Duarte Gomes traz para
cima da mesa de A Culpa é do Árbitro as sete agressões a árbitros que
aconteceram no último fim de semana em Portugal, pedindo medidas mais
punitivas. E no Mundial, continuam os erros de arbitragem, com destaque para o
Inglaterra - França
https://expresso.pt/podcasts/a-culpa-e-do-arbitro/2022-12-13-A-arbitragem-no-Mundial-nao-esta-ao-nivel-do-que-se-ve-em-campo---e-o-regresso-em-forca-da-violencia-ao-futebol-portugues-99e2715a
Por hoje é tudo. Um dia molhado não tem de ser amaldiçoado.
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