Cada viagem ao Qatar custa 70 mil euros ao erário público
O Falcon está monopolizado pelo Mundial de Futebol do Qatar para levar o Presidente, o primeiro-ministro e o presidente da Assembleia da República a assistir a jogos da seleção portuguesa e trazê-los de volta. Outras visitas de Estado têm vindo, por isso, a ser adiadas. Cada viagem ao Qatar custa 70 mil euros ao erário público.
O Falcon 50 da Força Aérea Portuguesa, destinado a transportar representantes do Estado em viagens oficiais, encontra-se cativado até ao fim do Campeonato Mundial de Futebol para levar individualidades nacionais ao Qatar – apurou o Nascer do SOL de fonte do Ministério da Defesa. Assim, o Presidente da República e o primeiro-ministro têm assegurada a sua deslocação para assistir aos jogos da seleção nacional, mesmo que esta chegue à final da prova.
Encontrando-se o Falcon, em permanência, ao serviço do Mundial, outras viagens de Estado têm vindo a ser proteladas, como aconteceu com uma deslocação prevista da ministra da Defesa à República Centro-Africana, onde estão militares portugueses. A visita, tradicionalmente efetuada na quadra natalícia, já teve de ser adiada duas vezes.
A viagem de Helena Carreiras esteve programada para terça-feira passada, mas foi protelada porque nesse dia António Costa, após participar na cimeira UE-Balcãs, em Tirana, na Albânia, rumou ao Qatar para assistir à partida dos oitavos de final entre Portugal e a Suíça. A segunda tentativa da titular da Defesa de ir àquele país africano estava para ter lugar no próximo dia 17, acabando contudo por ser cancelada por coincidir com a véspera da final da competição.
Só a 20 de dezembro, já muito
perto da consoada, o Falcon estará livre para outros voos, estando previsto que
leve Marcelo Rebelo de Sousa a visitar o destacamento militar português na
Roménia (enquanto o primeiro-ministro, na mesma ocasião, seguirá num avião da
OMNI – uma empresa privada de aviação sediada
Cada viagem ao Qatar custa 70 mil euros
Portugal é, até este momento, o país mais representado no Mundial em termos de altas figuras do Estado. O Presidente da República deu o pontapé de saída, estando presente no jogo contra o Gana, enquanto o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, foi assistir ao jogo com o Uruguai. Por seu turno, António Costa, que programara ver in loco a partida contra a Coreia do Sul, acabou por cancelar a viagem, adiando-a para o jogo contra os suíços, alegadamente por estar a chocar uma gripe. Mas motivos políticos poderão ter ditado esse adiamento, como a polémica em torno de afirmações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre os direitos humanos no Qatar.
Já a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, que marcou presença, em representação do primeiro-ministro, não fez uso do Falcon, e deslocou-se ao Qatar e regressou a Portugal através de voos comerciais.
Os jogos da seleção nacional têm-se realizado ao ritmo de quatro em quatro dias. Dado que cada deslocação de uma alta individualidade pressupõe uma estada à volta de dois dias no Qatar, o Falcon tem estado permanentemente a voar entre Portugal e este país.
Segundo a mesma fonte, o custo médio de cada hora de voo é de 3.500 euros. Como uma viagem ao Qatar dura 10 horas (com escala para reabastecimento), pode deduzir-se que cada ida e vinda de uma figura de Estado ao Mundial custa ao erário público, só em gastos com o Falcon, à volta de 70 mil euros. A deslocação através de uma companhia de aviação comercial seria incomparavelmente mais barata.
Conforme o Nascer do SOL noticiou em 2 de abril último, já na fase de qualificação para o Mundial o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa havia recorrido ao Falcon para cumprir a sua recheada agenda. Viajou no aparelho até ao Porto para chegar a tempo a um jogo entre Portugal e a Macedónia do Norte, realizado naquela cidade, e depois poder regressar a Lisboa a tempo de estar presente no final do concerto com o qual Simone de Oliveira assinalou no Coliseu dos Recreios o fim da sua carreira de 65 anos como cançonetista.
Na ocasião, uma fonte de Belém justificou ao Nascer do SOL que, no dia do jogo, o Presidente iniciara a tarde com uma receção em Lisboa à sua homóloga grega, Katerina Sakellaropoulou, com quem dera um passeio de elétrico pela capital (na companhia do presidente do município, Carlos Moedas), e ainda teve, a seguir, uma reunião com embaixadores. «Se não fosse de Falcon, não conseguiria chegar a tempo ao Porto», reforçou a mesma fonte.
Tratou-se de uma viagem-relâmpago. Marcelo foi um dos primeiros entrevistados na flash interview após o final do jogo com a Macedónia, quando os ponteiros do relógio indicavam as 21h50 – e surgiu no bar do Coliseu para cumprimentar Simone perto das 23h30. Significa isto que demorou apenas hora e meia a deslocar-se do Estádio do Dragão à sala de espetáculos na Baixa lisboeta.
Em 2016, Rebelo de Sousa já tinha recorrido ao Falcon para assistir em Lyon à meia-final do Euro 2016 (em que a seleção nacional ganhou ao País de Gales e garantiu a presença na final da prova). Contudo, segundo os relatos da imprensa da época, o chefe de Estado terá pago essa viagem do seu bolso.
Felicia Cabrita | jornal i
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