sábado, 17 de dezembro de 2022

Angola | CONDECORADO COM FALTA DE COMBUSTIVEL – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Rafael Marques, o condecorado do Presidente João Lourenço, está sem combustível. Antes da condecoração estava na mesma. Deu uma entrevista ao jornal “Expresso”, o epicentro de todos os ataques a Angola livre e independente. Chamou corruptos a João Lourenço e sua esposa, Ana Dias. Disse que o seu governo era o pior do mundo. Insultou membros do Executivo. Ousou alvitrar que o Presidente da República eleito ia durar pouco tempo no cargo.

Uma condecoração e tudo o que ela tem de bem bom, atestaram de novo o depósito. O “activista” ficou manso e mudo. O Jornal de Angola escreveu em editorial que Rafael Marques era um exemplo para os jovens jornalistas. Os cofres do Estado abriram-se de par em par para o condecorado. Kamanga que chega! Tudo de bom. O problema é que estes artistas quanto mais têm, mais gastam. E o depósito ficou de novo vazio.

A situação de penúria ficou clara quando Rafael Marques chamou gatuno ao Chefe de Estado. Mas pelos vistos ninguém se aproximou para lhe atestar o depósito. Aí não esteve com meias medidas e foi à cimeira de Washington morder os calcanhares do chefe. Mas prestou-lhe mais um relevante serviço, atitando para as ruas da amargura com o sector da Justiça

Todas as generalizações são perigosas. Mas dizer ante os patrões na capital do estado terrorista mais perigoso do mundo que “o Poder Judicial é epicentro da corrupção em Angola” é um ataque descabelado. Já não é assim tão mau acusar o Presidente João Lourenço de retaliar politicamente contra inimigos pessoais. 

Os traficantes de todas as manigâncias e negócios escuros têm todo o interesse em denegrir e descredibilizar o sector da Justiça em Angola. Porque é aquele que mais evoluiu após a Independência Nacional. Milhares de mulheres e homens têm dado tudo para que o Poder Judicial esteja de pé e sirva o Estado de Direto e Democrático. Acusar todo um sector de ser o “epicentro da corrupção em Angola” é um serviço relevante prestado aos donos. Rafael Marques, ao generalizar, ao acusar sem critério, já justificou que lhe atestem de novo o depósito.

ELEIÇÕES EM ÁFRICA: “É PRECISO ALTERNÂNCIA DE PODER”

Ilustres da política angolana e moçambicana estiveram reunidos em Lisboa para uma conferência sobre pluralismo democrático. Intolerância, intoxicação mediática e justiça politizada são entraves à democracia, destacaram.

Justino Pinto de Andrade, presidente do partido angolano Bloco Democrático (BD), defende que no seu país "há espaço para todos, mas é preciso alternância de poder".  A declaração aconteceu no âmbito da conferência "Pluralismo, Democratização e Eleições em Angola e Moçambique", do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (IUL), que aconteceu esta quarta-feira (14.12), na capital portuguesa, para analisar os últimos pleitos eleitorais nos dois países, respetivamente em 2022 e em 2019.

O líder partidário, que fez parte da coligação eleitoral Frente Patriótica Unida (FPU), afirma que a oposição deve, em primeiro lugar, organizar-se melhor para vencer as próximas eleições, criando lobbies para alterar a legislação em vigor.

"É ter capacidade de promover alterações na lei e na composição dos órgãos. Porque se mantivermos as leis tal e qual como estão, e os órgãos ligados ao processo eleitoral tal como eles estão, o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola] vai ganhar sempre. Se não for com 51 por cento será com 50,9 por cento", referiu em declarações à DW África.

Justino Pinto de Andrade lamentou a impossibilidade de a Frente Patriótica Unida (FPU), encabeçada por Adalberto Costa Júnior, confrontar os dados eleitorais que reuniu com os dados oficiais, "porque a lei não permite isso".

O problema está também na intoxicação que antecede o dia do voto, acrescenta o político angolano. "As pessoas pensam que ser livre é verem [os eleitores] no dia do voto numa fila ordeira a votarem e depois irem para casa. (…) O problema é antes do voto. A intoxicação que se faz ao longo dos anos, o modo como se controlam as leis e as instituições, esse é que é o grande problema. Porque as pessoas vão votar", frisa.

Interferência do presidente Ramaphosa provoca reação no governo do ANC

O presidente da África do Sul está buscando um segundo mandato e é amplamente visto como o candidato mais forte do partido, apesar de um escândalo agrícola.

Al Jazeera | com agências | # Traduzido em português do Brasil

Aliados do partido e até mesmo alguns rivais do presidente sul-africano Cyril Ramaphosa condenaram os oponentes que interromperam seu discurso de abertura com cânticos e gritos em uma conferência do governante Congresso Nacional Africano (ANC).

“Devemos condenar [a interrupção] porque não é o comportamento dos membros do ANC”, disse Siboniso Duma – presidente do ANC provincial de KwaZulu-Natal, o maior bloco de poder que tenta remover Ramaphosa – disse no sábado.

“Você não pode simplesmente [fazer barulho] quando o presidente está falando”, disse ele à emissora Newzroom Afrika, refletindo uma reação negativa à interrupção de sexta-feira que algumas pessoas disseram que poderia fortalecer o presidente.

Ramaphosa falou em uma reunião de cinco dias do ANC para eleger candidatos para as eleições nacionais de 2024. O presidente está buscando um segundo mandato e é amplamente visto como o candidato mais forte do partido, apesar de um escândalo envolvendo a descoberta de um estoque de dinheiro em sua fazenda de caça Phala Phala, na província de Limpopo.

Portugal | O ESPARTILHO DA POBREZA

Pedro Ivo Carvalho* | Jornal de Notícias | opinião

Não seria honesto, nem sequer justo para largos milhares de famílias, afirmar que o apoio de 240 euros atribuído pelo Governo a mais de um milhão de agregados carenciados é um mero ato de propaganda política. Apreciemos ou não a estratégia de gestão orçamental de António Costa, trata-se de uma quantia que, infelizmente, faz a diferença na vida de muita gente. Ainda que não tire ninguém da pobreza. As ajudas públicas fazem sentido porque há demasiados cidadãos a precisar delas. Basta atentarmos na evolução dos rendimentos para percebermos que a fronteira entre as classes baixas e a média é cada vez menos visível, o que se traduz necessariamente num definhamento da qualidade de vida e, em particular, do poder de compra. De resto, os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística mostram que Portugal continua a ficar para trás na maratona do crescimento e da competitividade, ocupando uma nada honrosa 16.a posição entre os 19 países da Zona Euro. Atrás de nós só mesmo a Letónia, a Eslováquia e a Grécia.

A verdade é que nenhum Governo tem sido capaz de conter este atraso estrutural do país, por mais loas que nos cantem de que o pior já passou e que agora é que vai ser, com o dilúvio de fundos comunitários. É, pois, neste contexto que um Estado excessivamente assistencialista se torna perversamente perigoso. Porque a pobreza e as carências daqueles que, geração após geração, dependem das ajudas públicas para sobreviver acabam por transformar-se na regra de um jogo em que quem lança os dados para a mesa é o partido de turno no comando, que passa a poder "usar" a pobreza estrutural como terreno fértil para obter ascendente político e eleitoral. E isto, repito, nada tem que ver com a justeza dos apoios atribuídos agora aos mais carenciados. Mas um país de mão estendida está condenado a ficar agrilhoado neste espartilho vicioso.

*Diretor-adjunto

Portugal | CORROMPINHO


Henrique Monteiro | Henricartoon 

A auto-imolação da Europa, a imperícia do Fed e a mudança da ordem mundial

Michael Hudson [*] entrevistado por Mohammad Itmaizeh, da Almayadeen TV (Líbano)

Almayadeen: A Europa experimenta neste momento elevados preços da energia com repercussões no setor industrial, como o encerramento de fábricas e elevados custos de produção. Na sua opinião, os países europeus têm capacidade e recursos para impedir que os investimentos industriais lhe "escapem"? Especialmente porque os EUA planeiam em geral restaurar a indústria no seu país, portanto, isso pode representar uma oportunidade para atrair as indústrias europeias para se mudarem para lá e aproveitarem os preços da energia mais baratos. Esta mudança terá amplas repercussões nas capacidades produtivas e na competitividade da Europa, bem como na sua balança comercial. Então, o que acontecerá com a posição da Europa no sistema económico global? Continuará a fazer parte do centro capitalista ou desviar-se-á dele?

Michael Hudson: A sua pergunta basicamente responde a si mesma. Os líderes políticos europeus não estão dispostos a resistir às exigências dos EUA. Tudo o que eles podem fazer é reclamar de seus maus-tratos. Isso levou a uma divisão entre empresários alemães e outros empresários europeus e os partidos políticos europeus.

Ver, por exemplo, Político, 24/novembro/2022: Europe accuses US of profiting from war (Europa acusa EUA de lucrar com a guerra).

Os subsídios e impostos verdes de Biden, segundo Bruxelas, desviam injustamente o comércio da UE e ameaçam destruir as indústrias europeias. Apesar das objeções formais da Europa, Washington até agora não mostrou sinais de recuar. (...) o preço que os europeus pagam é quase quatro vezes mais alto do que os mesmos custos de combustível na América. Depois, há o provável aumento de encomendas de kits militares fabricados nos EUA, já que os exércitos europeus estão a ficar sem esse material depois do envio de armas para a Ucrânia.

Mas mesmo os negócios estão a render-se e a planear mudarem-se para os Estados Unidos, tornarem-se empresas americanas. As empresas estão planeando novos investimentos nos EUA ou até mesmo realojando os seus negócios existentes na Europa para fábricas americanas. Ainda esta semana, a multinacional química Solvay anunciou que está a escolher os EUA em detrimento da Europa para novos investimentos. 

Para um cenário do consequente despovoamento e desindustrialização da Europa, ver o êxodo em massa de pessoas da Letónia, Estónia e Lituânia a partir de 1991.

A alternativa é mudarem-se para a Rússia ou a China, que produzem energia – e também armas – a um custo muito menor do que os Estados Unidos. O problema é que a Europa não se pode retirar da NATO sem dissolver a União Europeia, a qual está comprometida com a política militar da NATO e, portanto, com uma imensa drenagem da balança de pagamentos para comprar armas americanas de alto preço, bem como outros bens que necessita.

Se a questão é por quanto tempo a Alemanha e a Europa podem colocar a lealdade política e militar aos Estados Unidos acima de sua própria prosperidade económica e emprego, a resposta dos Verdes é que a "terapia de choque" ajudará a tornar a Europa mais verde. À primeira vista, isso está certo, pois a indústria pesada está a fechar. Mas parece que o combustível do futuro da Europa será o carvão e o abate das suas florestas.

Por outro lado, a Reserva Federal dos EUA está a prosseguir políticas que têm consequências internas e externas.

Kiev vinga ataques russos no sistema de energia matando civis em Donbass

A Rússia lançou ataques maciços com foguetes contra a infraestrutura de energia da Ucrânia no início de outubro, após a explosão na ponte da Criméia, bem como uma série de ataques terroristas a instalações estratégicas, como a usina nuclear de Kursk e os gasodutos, cuja responsabilidade é assumida pelo Serviços especiais ucranianos.

South Front | # Traduzido em português do Brasil

Em 16 de dezembro, outro ataque maciço atingiu a infraestrutura de energia da Ucrânia.

Pela manhã, o prefeito de Kiev relatou explosões nos distritos de Goloseevsky, Dneprovsky e Desnyansky da cidade.

Pelo menos 7 golpes foram registrados na capital ucraniana.

O governador da região de Kharkov afirmou que, como resultado de três ataques com mísseis, instalações críticas de infraestrutura foram danificadas. Mísseis russos supostamente atingiram uma usina termelétrica na cidade.

Instalações críticas de infraestrutura também foram danificadas no distrito de Chuguevsky da região.

O QUE OS EUA DIZEM SOBRE OS ATAQUES UCRANIANOS NA RÚSSIA?


 Ted Snider* | AntiWar | # Traduzido em português do Brasil

Declarações recentes de Washington sobre ataques ucranianos dentro do território russo às vezes parecem confusas e às vezes falsas.

Em 5 e 6 de dezembro, mísseis ucranianos atingiram três bases da força aérea russa a centenas de quilômetros dentro do território russo, com o alvo mais distante a 390 milhas de terras controladas pela Ucrânia.

Dias depois, em 9 de dezembro, uma fonte de defesa dos EUA não identificada disse ao The Times de Londres que "Não estamos dizendo a Kiev: 'Não ataque os russos [na Rússia ou na Crimeia]'. Não podemos dizer a eles o que fazer. Cabe a eles decidir como usarão suas armas. Mas, quando usarem as armas que fornecemos, a única coisa em que insistimos é que os militares ucranianos cumpram as leis internacionais de guerra e as convenções de Genebra." A fonte da defesa acrescentou: "São as únicas limitações, mas isso inclui nenhum alvo de famílias russas e nenhum assassinato. No que nos diz respeito, a Ucrânia tem cumprido."

Quando eles usam quais armas os EUA forneceram? O governo Biden teve o cuidado de evitar colocar os EUA em um conflito mais direto com a Rússia e empurrar a OTAN para a guerra, limitando as armas que fornece à Ucrânia àqueles sem alcance ou capacidade de atacar dentro do território russo.

Em uma coletiva de imprensa sobre os mesmos ataques ucranianos dentro da Rússia, o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, foi questionado: "Qual é a opinião dos EUA sobre esses ataques? alvos bem dentro do território russo?"

Price respondeu categoricamente que "não fornecemos à Ucrânia armas para usar dentro da Rússia". Ele então acrescentou que Biden foi muito claro sobre isso: "Deixamos muito claro que se trata de suprimentos defensivos. Nós - o presidente disse muito claramente há algum tempo, não estamos permitindo que a Ucrânia ataque além de suas fronteiras. Não estamos encorajando Ucrânia para atacar além de suas fronteiras."

A UCRÂNIA PROIBE A IGREJA ORTODOXA

O Conselho de Segurança Nacional e de Defesa da Ucrânia decidiu, em 1 de Dezembro de 2022, «proibir às organizações religiosas afiliadas a centros de influência da Federação da Rússia operar na Ucrânia», anunciou o Presidente Zelensky ao assinar o decreto 820/2022.

Os «nacionalistas integralistas» haviam já interdito a Igreja Ortodoxa durante a Segunda Guerra Mundial.

O «Serviço do Estado para a Etnopolítica e a Liberdade de Consciência» (lindo nome para um conceito racista!) foi encarregado de fechar os edifícios da Igreja Ortodoxa que respondem ao Patriarcado de Moscovo (Moscou-br). Uma dezena de padres foram presos, para começar.

A Presidência ucraniana considera que respeita a liberdade de consciência segundo as normas do Conselho da Europa, uma vez que a Federação Russa já não faz parte dele.

NÃO HÁ CAMINHO CLARO PARA A RECONCILIAÇÃO EUA - CHINA

A noção crescente de que a concessão unilateral de Washington é a única maneira de reabilitar as relações sino-americanas está errada

Denny Roy | Asia Times | # Traduzido em português do Brasil

Muitos analistas, incluindo americanos, argumentam que a melhora nas relações EUA-China depende de os Estados Unidos ajustarem seu comportamento para acomodar as preocupações chinesas.

Isso curiosamente isenta Pequim de responsabilidade equivalente. Também desvia a importante questão de saber se o governo da República Popular da China se prendeu a uma incapacidade de fazer as mudanças políticas que poderiam ressuscitar as relações bilaterais.

A professora da Universidade de Cornell, Jessica Chen Weiss, em um  artigo muito discutido  na revista Foreign Affairs, reconhece os perigos de “agressão” e “coerção” por parte da RPC, mas limita suas recomendações políticas específicas aos Estados Unidos. Weiss diz que Washington deveria:

- interromper atos que parecem encorajar a independência de fato de Taiwan;

- parar de “opor-se reflexivamente” às iniciativas internacionais chinesas;

- deixar de visar empresas de tecnologia chinesas; e

- trabalham por meio de agrupamentos internacionais que incluem a China, em vez daqueles que excluem a China.

OS EUA AUMENTAM AS TENSÕES DE GUERRA COM A CHINA PELO PODER GLOBAL

John Pilger: Os EUA estão aumentando as tensões de guerra com a China em uma tentativa desesperada de manter o poder global

Finian Cunningham* | Strateguc Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

Em entrevista a Finian Cunningham, o jornalista e documentarista de renome internacional John Pilger diz que os Estados Unidos estão conduzindo uma guerra contra a China, não por força, mas pelo medo de perder sua antiga posição de superpotência.

As forças motrizes são múltiplas: a percepção dos Estados Unidos de si mesmos como uma potência global em declínio; o militarismo destrutivo do capitalismo estadunidense e seus “mercadores da morte”; racismo histórico profundamente arraigado em relação à China; e uma noção americana anacrônica de “direito divino” de dominar o resto do globo.

A China não é uma ameaça militar intrínseca aos EUA. Certamente é um desafio à chamada “ordem baseada em regras” dos Estados Unidos – que é um eufemismo para a dominação americana. Pequim tem continuamente apelado aos EUA para que abracem o respeito multipolar e abandonem sua mentalidade de Guerra Fria. No entanto, Washington persiste em afirmar que a China é sua maior ameaça de longo prazo. A verdadeira “ameaça” é que a ascensão econômica da China e o sucesso fenomenal do desenvolvimento estão expondo a falência do capitalismo americano.

Tragicamente, a União Européia parece estar acompanhando o fluxo beligerante dos EUA em direção à China. No entanto, o chanceler alemão Olaf Scholz caiu em si recentemente depois de visitar Pequim para se encontrar com o presidente chinês Xi Jinping?

John Pilger adverte que, se os EUA não aceitarem a realidade de um mundo multipolar e a igualdade genuína das nações (como os EUA professam), então o conflito armado com a China está em jogo. Ele também discute como Taiwan está sendo cinicamente usado pelos EUA como uma provocação à China, armando massivamente o território da ilha e minando a soberania de Pequim. Ele compara essa situação com a forma como a Ucrânia foi armada pelos EUA e pela OTAN nos últimos oito anos para antagonizar a Rússia.

VER ENTREVISTA EM Youtube – em inglês

*Finian Cunningham - Ex-editor e redator de grandes organizações de mídia. Ele tem escrito extensivamente sobre assuntos internacionais, com artigos publicados em vários idiomas

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