quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Cheias em Moçambique | Médicos Sem Fronteiras alerta para situação humanitária

A organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) considera urgente o reforço do saneamento para evitar doenças nos centros de acolhimento das vítimas das inundações no distrito de Boane, província de Maputo.

A coordenadora médica Ana Gabriel falou à DW sobre o trabalho da organização humanitária MSF no apoio às autoridades moçambicanas para evitar a proliferação de doenças como a malária e a cólera.

surto de cólera já provocou a morte de 37 pessoas em Moçambique, entre os 5.260 casos registados pelas autoridades, anunciou hoje o ministro da Saúde, Armindo Tiago. O país já recebeu vacinas e prepara-se para iniciar uma campanha de vacinação a partir do próximo dia 26.

DW África: Qual é o cenário que se vive atualmente?

Ana Gabriel (AG): Desde as nossas primeiras avaliações, detetamos que há ainda uma necessidade de melhorar a situação de saneamento, principalmente. Como sabemos, esses centros de realojamento, pelas próprias condições e porque estamos a falar de eventos de cheias que trazem consigo os seus próprios riscos de saúde e a criação de doenças infecciosas, como a cólera e outras doenças diarreicas, é necessário assegurar as condições básicas de saneamento. E é basicamente nisto que nós agora, como Médicos Sem Fronteiras, estamos focados.

DW África: Estão focados na questão do saneamento do meio?

AG: Exatamente. Então, nós temos duas intervenções principais: a primeira é a distribuição de kits de higiene. São kits de higiene familiar e estamos a fazer esta distribuição em colaboração com a Cruz Vermelha Nacional.

DW África: O que é que se pode dizer em relação às doenças que afetam as pessoas que estão neste momento nessa situação de vítimas das inundações?

AG: Neste tipo de condições, são sempre as mesmas doenças que causam uma maior morbilidade, ou seja, que as pessoas fiquem doentes, que são principalmente as doenças diarreicas, que afetam muito mais as crianças menores de cinco anos. E as doenças do trato respiratório superior, que também afetam mais as crianças. A malária é a terceira doença que afeta mais as pessoas.

DW África: Tendo em conta a vossa experiência no terreno, existe pessoal de saúde suficiente para poder atender as pessoas de modo a que as doenças que referiu não se tornem um problema?

AG: O Ministério da Saúde está a fazer um bom trabalho. Eles foram muito rápidos e colocaram realmente um posto médico em cada sítio de reassentamento para as pessoas.

DW África: Está também previsto mais mau tempo em Moçambique. Embora as projeções indiquem que será no centro do país, também parte da zona sul poderá ser afetada por este mau tempo. Neste momento, quais são os trabalhos que estão a ser feitos pelos Médicos Sem Fronteiras de modo a contribuir para minimizar os danos a causar eventualmente pelo ciclone Freddy?

AG: Nós sabemos que este tipo de eventos climáticos extremos é muito provável que continuem a aumentar tanto em frequência como intensidade. Sabemos que Moçambique é um dos países mais afetados em termos de eventos climáticos e temos de estar preparados. Temos de conseguir detetar as comunidades vulneráveis e trabalhar em termos de incrementar a sua resiliência.

Delfim Anacleto | Deutsche Welle

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