"Obediência não é cega" e "o tempo do chicote" acabou. Sargentos e praças defendem militares do navio Mondego
No Fórum TSF, a Associação Nacional de Sargentos e a Associação de Praças da Armada defendem que há limites para a disciplina.
O presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS), Lima Coelho considera a polémica que envolve os militares do navio Mondego mostra que é tempo de discutir os limites da obediência dos militares.
"A obediência não é cega e uma ordem mal dada que possa pôr em risco a vida do militar pode, e vai ser contestada. E isto é a consciência que se tem que ter da condição militar", defendeu Lima Coelho em declarações no Fórum TSF, depois de o chefe do Estado-Maior da Armada, Henrique Gouveia e Melo, ter afirmado que a disciplina é a "cola essencial" das Forças Armadas.
"O tempo em que o chicote é que determinava e o 'quero, posso e mando' é que determinava, é um tempo diferente. Infelizmente, vivemos demasiado esse tempo e infelizmente esse tempo ainda prevalece em algumas mentalidades menos informadas".
O NRP Mondego não cumpriu no sábado à noite uma missão de acompanhamento de um navio russo a norte da ilha do Porto Santo, na Madeira, depois de 13 elementos (quatro sargentos e nove praças do navio) recusaram embarcar alegando riscos de segurança.
O presidente da ANS nota que, neste cenário, "os militares nunca abandonaram um navio, nunca abandonaram os seus camaradas, nunca abandonaram a guarnição."
Ao formar militarmente no porto onde o navio estava atracado passaram uma "imagem de grande significado em termos militares", considera. "Desvalorizar tudo isto é passar para a opinião pública a manipulação".
"Alguns daqueles militares conhecem este navio desde o dia em que o foram receber, e em que se formaram, na Dinamarca. Portanto, se alguém conhece as condições e os mecanismos daquele navio, são alguns destes militares que ali estavam."
Também o presidente da Associação de Praças da Armada, Paulo Amaral, defende que a obediência não pode ser cega.
"Ensinaram-nos a ser disciplinados e nós aprendemos, muitas das vezes à custa de sabe lá Deus o quê, a ser disciplinados, mas também nos ensinaram a ser honestos. Também nos ensinaram a ser sérios e também nos ensinaram a ser coerentes com as nossas posições", defende.
"Nós não somos seres acéfalos. A disciplina não pode ser uma disciplina cega (...) também temos que exigir o dever de tutela que os nossos chefes têm que ter para com os seus subordinados."
Os 13 militares que se recusaram a embarcar no NRP Mondego vão ser alvo de processos disciplinares internos e serão ouvidos na segunda-feira pela Polícia Judiciária Militar.
Pedro Cruz com Carolina Rico | TSF
Imagem intermédia: O navio Mondego © João Homem Gouveia/Lusa
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