sábado, 15 de abril de 2023

Portugal | A NORMALIZAÇÃO DA CRISE POLÍTICA

Inês Cardoso | TSF | opinião

Os argumentos não são novos e o presidente da República tem sido cristalino a repetir a sua visão sobre a crise política e o cenário de dissolução do Parlamento. São duas as condicionantes que explicam o facto de Marcelo Rebelo de Sousa considerar um risco para o país recorrer à bomba atómica. Uma, o facto de vivermos um ano decisivo, com um nível recorde de execução de fundos comunitários, em ambiente de incerteza económica agravada pela guerra na Ucrânia. Em segundo lugar, o chefe de Estado aponta a falta de alternativas claras à Direita.

Somando as duas condições, torna-se claro que o presidente da República considera só haver segurança para novas eleições legislativas após as europeias, em 2024. Aliás, dispensa mesmo ter de estar constantemente a repetir a sua visão, alertando a oposição de que não será a permanente pressão pela dissolução da Assembleia que o convencerá a mudar de ideias, com os riscos que daí decorrem.

Acontece que, em simultâneo com as explicações de Marcelo e os seus puxões de orelhas ao Governo, a quem pede que evite situações permanentes de desgaste, continuamos a ter motivos diários para nos inquietar com a governação. Mesmo que outros motivos de preocupação não houvesse, a comissão parlamentar de inquérito à TAP fornece, a cada audição, um manancial de munições à oposição.

Enquanto ainda se exigem respostas a tantas questões levantadas pelas novidades da semana passada, do assombroso pedido escrito do ex-secretário de Estado Hugo Mendes sobre o voo de Marcelo à não menos inacreditável reunião que juntou deputados, membros de gabinetes ministeriais e a CEO da TAP, vamos ouvindo novos elementos prestados pelo chairman, que voltam a colocar em causa a atuação (ou falta dela) do ministro das Finanças no acompanhamento da empresa.

Na próxima semana, o presidente da República recebe em Belém o líder do PSD e será incontornável que o tema da falta de alternativas esteja na ordem de trabalhos. Como será inevitável que a fragmentação da Direita e a mal resolvida aproximação ao Chega entrem em qualquer análise relativa a cenários futuros.

Não é fácil o quadro político que Marcelo Rebelo de Sousa tem entre mãos e as sondagens têm demonstrado o quanto o chefe de Estado tem sido contaminado pela crise em que o Governo mergulhou. Ainda assim, o país não pode correr o risco de normalizar essa crise, aceitando sucessivas polémicas e atropelos do PS, em nome da estabilidade e da execução de fundos europeus. Sem um Governo capaz de retomar um caminho credível, e sem alternativas de Oposição que ofereçam segurança, é a democracia que perde, abrindo espaço ao populismo. Triste cenário, precisamente no mês em que se inicia a contagem decrescente rumo ao meio século das conquistas de Abril, que supúnhamos maduras e livres de ameaças.

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