domingo, 15 de outubro de 2023

Angola | O Voto da Honra e Dignidade -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O processo de destituição do Presidente da Repúblico morreu. Votaram contra a fantochada da UNITA 123 deputados. E uma abstenção do PRS. Todos de mãos no ar. Como eu sempre votei. Para que saibam de que lado estou. Jamais imaginei esconder-me numa cabine, pôs uma cruz num papel e depois depositá-lo numa urna, dobradinho. Isso é uma criancice. Ou uma cobardia. Nos grandes plenários da Emissora Oficial de Angola (RNA) todos dávamos a cara, de braço no ar. Depois éramos ameaçados de morte pelas Brigadas da Juventude Revolucionária (BJR), a Frente Revolucionária de Angola (FRA) e pelos esquadrões de extermínios armados e financiados pelos independentistas brancos. 

Os sicários do Galo Negro queriam fazer aprovar uma comissão eventual de inquérito para a destituição do Presidente João Lourenço. Depois faziam arrastar os trabalhos até ao fim da legislatura. Colocavam nos Media “amigos” (sobretudo a agência noticiosa portuguesa Lusa) as aldrabices necessárias ao apodrecimento do regime democrático. Não conseguiram. Os deputados do MPLA, a deputada do Partido Humanista e o deputado do PRS honraram a democracia. Respeitaram o voto popular.

Li com atenção aquele lençol enfadonho apresentado pela UNITA para destituir o Presidente da República. Jamais votaria a favor seguindo cada um dos argumentos apresentados. Mas muito menos por três. Uma filha do cidadão João Lourenço foi nomeada para a administração da Bolsa de Valores. Tem formação superior na área. Quem a nomeou entendeu que é a pessoa certa para o cargo. Seria gravíssimo se lhe cortassem as pernas só porque é filha do Chefe de Estado. Não pode ser beneficiada mas muito menos pode ser prejudicada. 

O argumento da contrastação pública simplificada jamais seria aceite por mim enquanto deputado. Osa sicários do Galo Negro destruíram Angola, sobretudo entre 1992 e 2002. Criaram tantos e tão graves problemas que todas as medidas de cariz social e económico são para ontem. Felizmente há a contratação simplificada e a contratação emergencial. Ainda bem. Quando estiverem removidos todos os escombros que a UNITA criou ao demolir Angola, as contratações passam a ser normais. Acaba urgência e emergência.

O terceiro argumento inaceitável dos sicários da UNITA tem a ver com as Eleições para o Poder Local. Felizmente o Presidente da República e Titular do Poder Executivo não caiu nessa armadilha. Hoje temos dezenas de municípios onde não existem actividades económicas. Indústria zero. Comércio pouco mais do que zero. Agricultura de subsistência. Ninguém está em condições de pagar impostos, taxas e derramas. O próprio líder da UNITA diz que temos municípios onde nem sequer existe uma agência bancária. A desertificação humana atingiu um nível tal que os bancos não podem abrir um balcão por falta de clientes. 

Quem criou este quadro social e económico? Os sicários da UNITA. Primeiro porque se tornaram uma unidade armada dos racistas sul-africanos na guerra de agressão contra Angola. Depois de 1992 a 2002 com o banditismo armado. Partiram tudo. Destruíram tudo. Mataram. Provocaram o êxodo de milhões de angolanas e angolanos das suas terras de origem para as grandes cidades. Os autores destes crimes contra a Humanidade, armados com o rótulo de deputados, querem fazer cair o poder na rua. 

O grupo parlamentar do MPLA assumiu na íntegra todas as suas responsabilidades. Honrou o voto popular. Defendeu a democracia. Ninguém no seu perfeito juízo esperava outra coisa. É bom que o Presidente da República e Titular do Poder Executivo tenha sempre presente que o seu cargo não lhe foi dado por Deus. Não é um ser divino. É simplesmente o cabeça de lista do MPLA, partido que ganhou as eleições de 2022 com maioria absoluta. No final da legislatura dá lugar a outro. O MPLA vai continuar a acumular vitórias e a dirigir as nossas lutas pela Liberdade e a Dignidade.

Se amanhã me chamarem para ir viver na mansão confiscada ao Adalberto da Costa Júnior não vou aceitar. Muito menos se me quiserem oferecer uma casa roubada a outro. Preferia viver no luando debaixo das mandioqueira. Algumas centenas de judeus aceitaram ir viver nas casas roubadas pelos ingleses aos palestinos. Cultivar as terras que lhes pertenciam. Construir a sua pátria na terra alheia. O problema do Médio Oriente tem a ver com esta realidade.

Os sicários da UNITA cercaram a cidade do Cuito em 1994. Durante um mês bombardearam com armas pesadas a capital do Bié. Montaram um cerco total, não entrava nem saía ninguém. Não entrava comida, medicamentos, combustíveis. Imaginem um mês inteiro de bombardeamentos e cerco total. Mataram sete mil civis!

O 28 de Junho é o Dia dos Mártires da Resistência da Batalha do Cuito. Uma data muito importante. A resistência na capital do Bié foi decisiva. Porque impediu que Jonas Savimbi balcanizasse Angola. Recebi em Luanda o jornalista Abel Abraão. O director-geral da RNA, Agostinho Vieira Lopes, chamou-o para a sede, porque estava com problemas de saúde. Falámos longas horas. Contou-me pormenores que nunca chegaram ao conhecimento público. Mas sempre digo que a fome matou muita gente. E muitos mortos foram enterrados nas cacimbas e nos quintais. Abel Abraão ficou muito traumatizado. Nunca mais recuperou.

O cerco total à Faixa de Gaza é igual ao cerco da cidade do Cuito. Os efeitos são os mesmos. Os “Abel Abraão” palestinos estão a ser mortos, António Guterres anunciou que os bombardeamentos dos sionistas já mataram dezenas de médicos e outros técnicos de saúde. A Cruz Vermelha denunciou a morte de 38 socorristas. Centenas de civis mortos. As deportações continuam. As ameaças dos cercadores aumentam. Na democrática Europa os polícias proibiram manifestações a favor da Palestina. 

Uns dizem que o Hamas é uma organização terrorista. Outros dizem que os sionistas de Telavive são os terroristas. Isso não muda nada. Os ditadores Salazar e Marcelo Caetano chamavam-nos terroristas. Adiantou alguma coisa? O império colonial português acabou. Os terroristas afinal eram libertadores. E demolidores do fascismo e do colonialismo.

Os sionistas podem chamar terroristas aos militantes do Hamas. Isso não adianta nada. Aqueles que foram escorraçados das suas casas, das suas lavras, das suas aldeias, vilas e cidades estão a lutar pela sua pátria. Chamem-lhes terroristas que isso não muda nada. No dia 7 de Outubro a revolta do medo estoirou e ninguém mais a vai deter. Quem ocupa a terra alheia devia pensar nisso, muito a sério. 

* Jornalista

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