quinta-feira, 9 de maio de 2024

Angola | Os Parceiros Incontornáveis -- Artur Queiroz

Heróis da luta pela libertação do colonialismo. Houari Boumédiène, Argélia e Agostinho Neto, Angola


Artur Queiroz*, Luanda

O continente africano continua a ser um corpo inerte onde os abutres debicam até se saciarem. Já foi muito pior mas ainda está mal. A Independência da Argélia, arrancada a ferro e fogo pelos nacionalistas, foi o primeiro passo para escorraçar as aves de rapina, insaciáveis. Daquele país irradiou o exemplo e a força que levou à Luta Armada de Libertação Nacional nas antigas colónias portuguesas. 

O processo angolano foi a marca distintiva na via agreste para a Liberdade. O Povo Angolano, sob a bandeira do MPLA, derrotou o colonialismo português. Derrotou os invasores estrangeiros no Norte. Derrotou o regime racista de Pretória. Os abutres ficaram furiosos. Fugiram espavoridos. Agora regressam em bandos para debicar o seu pedaço de riqueza. O Presidente João Lourenço foi a Dalas, Texas, garantir que guardado está o bocado para todos.

No seu discurso oficial disse estas palavras elucidativas:

“ Permitam-me realçar a oportunidade deste encontro, que ocorre num momento em que os Estados Unidos da América e a África, plenamente conscientes do potencial de que dispõem, têm estado a intensificar o diálogo ao nível institucional, no intuito de reforçar as relações de cooperação bilateral e multilateral, num contexto em que os Estados Unidos, com o seu desenvolvimento industrial, a sua capacidade de inovação tecnológica, e a África, com a sua vasta riqueza em recursos naturais, a sua população jovem e o seu mercado em expansão, posicionam-se como parceiros incontornáveis para juntos enfrentarem os grandes desafios da segurança alimentar, da segurança energética, da defesa do Ambiente, do comércio internacional e da economia global”.

Agostinho Neto denunciou os abutres que exauriram África das suas riquezas. João Lourenço diz que são “parceiros incontornáveis” para enfrentarmos “os grandes desafios da segurança alimentar, da segurança energética, da defesa do Ambiente, do comércio internacional e da economia global”. Dois líderes do MPLA defendem posições diametralmente opostas. Será o mesmo partido? 

No Níger os “parceiros incontornáveis” foram corridos. Tratados como abutres insaciáveis. Burkina Faso e Mali estão na mesma sintonia. O Gabão vai pelo mesmo caminho. O Senegal começa a pensar duas vezes se abre ou não fogo contra os passarões que debicam as riquezas nacionais. França e EUA estão a perder espaço em África. Sãos os abutres mais perigosos e insaciáveis.

Os EUA em Angola tiveram um trajecto que vale a pena recordar. Apoiaram desde a primeira hora a guerra colonial. Ora como parceiros da OTAN (ou NATO) ora como amigos especiais da ditadura colonialista e fascista. A troco de apoio militar e político, o ditador Salazar entregou à Chevron (Cabinda Gulf) o petróleo. Quase de borla. 

O Zaire do ditador Mobutu ocupou “silenciosamente” (leia-se com o apoio das autoridades militares portuguesas) o Norte de Angola em finais de 1974 e primeiros meses de 1975. Os invasores aproveitaram a saída do governo do Almirante Rosa Coutinho e o vazio criado até à tomada de posse do Governo de Transição. Saquearam, mataram e destruíram, Oficiais da CIA comandaram as operações. Washington financiou com milhões a tremenda agressão contra o Povo Angolano.

Derrotados no Norte de Angola, os EUA apoiaram a invasão sul-africana no Sul e Sudeste de Angola. Todas as operações de sabotagem aos complexos económicos angolanos tiveram o dedo do “amigo americano”. Os racistas de Pretória foram derrotados. EUA ficaram com a sua parte de derrota. Fizeram tudo para destruir Angola Independente. O Presidente José Eduardo dos Santos e seus companheiros de luta venceram em toda a linha.

EUA e as potências coloniais, desde o advento das Independências, debicaram ainda mais o corpo inerte de África. Serviram-se dos Senghor, Mobutu, Bokassa, Idi Amin, Félix Houphouët-Boigny, Bongo e outros pastores de abutres. 

Depois de uma guerra sangrenta, entre 1961 e 2002, Angola entrou na via da paz. O Presidente João Lourenço, no segundo e último mandato, estendeu a passadeira vermelha aos abutres. Foi ao Texas tratá-los como “parceiros incontornáveis” para enfrentarmos “os grandes desafios da segurança alimentar, da segurança energética, da defesa do Ambiente, do comércio internacional e da economia global”.

Em princípio, o Presidente João Lourenço está a conduzir na contramão. Espero que não provoque um acidente grave ao Povo Angolano e a ele próprio. 

Os “parceiros incontornáveis” de João Lourenço estão a matar civis palestinos em Rafah. Na Casa Branca dizem que não estão de acordo. A operação de Rafah não tem o acordo do estado terrorista mais perigoso do mundo! E para o mundo não ficar chocado com a escalada no genocídio na Palestina, hoje puseram a circular que os russos querem matar o Zelensky! Até prenderam dois coronéis ucranianos que iam assassinar o nazi de Kiev.

Os “comentadores” dos Media no ocidente alargado não falam de outra coisa. Assim ninguém se indignou com a matança em Rafah. Correcção: O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que estremeceu face ao avanço das tropas nazis para a fronteira da Palestina com o Egipto. Coitadinho. Biden também deve estar estremecido. Encomendou o genocídio, apoia os genocidas e depois chora lágrimas de jacaré. Um verdadeiro parceiro incontornável da morte e da destruição. O chefe incontornável dos genocidas.

* Jornalista

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