Artur Queiroz*, Luanda
Dona Chica veio a Angola depois de cumprir castigo no Governo Português e foi entrevistada pela TPA. Já estávamos perto do 27 de Maio. Veio tratar do espectáculo e agora cobra os bilhetes. Por trás da operação estão o chefe Miala e o Presidente João Lourenço.
Adalberto da Costa Júnior afirmou hoje que “as histórias das vítimas do 27 de Maio continuam a ecoar como um lembrete sóbrio das consequências da intolerância e do autoritarismo”. Tem razão. Os golpistas mataram Comandantes do Estado-Maior Geral das FAPLA. Mataram o ministro das Finanças, Saidy Mingas. Mataram o diplomata Garcia Neto. Mataram o oficial do Ministério da defesa Hélder Neto. Executaram civis que se recusaram a participar na “manifestação” que ia servir de escudo para chegarem ao Palácio da Cidade Alta e assassinarem Agostinho Neto. Miala e João Lourenço contrataram um aldrabão compulsivo.
Os golpistas foram intolerantes para com todos os que se opuseram aos seus intentos de tomada de poder. Foram autoritários e carniceiros. Destruíram o Comité Amílcar Cabral, prenderam ou mataram os seus militantes. Destruíram a Organização Comunista de Angola (OCA). Prenderam e mataram os seus militantes. O mentiroso compulsivo que cuida dos diamantes de sangue da UNITA confundiu as vítimas.
Os golpistas prenderam os membros da Revolta Activa numa altura em que estavam integrados nas estruturas do Estado, nas empresas públicas (as privadas estavam todas fechadas), nas escolas, nos serviços de saúde. Leiam a carta de Joaquim Pinto de Andrade a Agostinho Neto, queixando-se das perseguições dos autoritários golpistas capitaneados por Nito Alves e a sua quadrilha de assassinos. Adalberto foi pago para apanhar a boleia do 27 de Maio mas estragou tudo. Chamou aos golpistas intolerantes e autoritários. Pela primeira vez na vida, o chefe de turno do Galo Negro disse a verdade.
Alguns dias antes do 27 de Maio, a turma do chefe Miala pôs a circular “documentos” falsos impregnados de mentiras. Falsidades infantis que até um coxo apanhava rapidamente. Nesses delírios afirmam que o 27 de Maio foi para travar o neocolonialismo porque “o almirante Rosa Coutinho, cunhado de Neto e simpatizante do MPLA, foi nomeado governador. Então os comunistas portugueses conseguiram manipular a descolonização de Angola. O MPLA pela sua parte viu-se enredado numa intensa e grande luta entre os pró soviéticos, os pró chineses e um "terceiro estado" de militantes moderados. O conflito dá-se sobre tudo entre Neto, Mário de Andrade, Daniel Chipenda, Lúcio Lara e Viriato da Cruz. Pese às insistências a favor de um entendimento entre as fracções pela parte de Cuba e da URSS, em Junho considera-se que Neto é letra morta dentro do MPLA”.
Os autores desta porcaria até põem Viriato da Cruz vivo em Junho de 1974!
Mas as aldrabices delirantes continuam: “No dia 1 de Agosto de 1975 chegou a Luanda em missão secreta uma comissão composta pelo Almirante Rosa Coutinho, o general Fabião e o capitão Canto e Castro. Dias depois Portugal nomeou Leonel Cardoso como Alto-Comissário em Angola, a quem se recomendou facilitar a entrega do poder ao MPLA. Os primeiros barcos com unidades de combate completas (cerca de 2.500 homens) partem de Cuba em meados de Julho debaixo do comando do general Raul Diaz Argueles; três semanas depois atracaram nos portos angolanos”.
Em Agosto de 1975 chegou a Luanda a “missão secreta” chefiada por Rosa Coutinho. Em Julho, um mês antes, chegaram os primeiros navios com combatentes cubanos, como combinado em Agosto! A kapuka vai matá-los! O almirante Leonel Cardoso ficou como Alto-Comissário porque Silva Cardoso foi demitido pelo MFA. Os ministros e secretários de estado da FNLA e da UNITA abandonaram o Governo de Transição, em Junho de 1975, para avançaram as tropas estrangeiras a Norte, de Mobutu, e a Sul, os racistas de Pretória. Os combatentes cubanos chegaram a Ponta Negra e não aos portos angolanos!
Miguel Francisco “Michel”, que se diz sobrevivente do 27 de Maio, publicou num jornal da UNITA, da Irmandade Africâner e do chefe Miala um montão de mentiras e delírios que metem pena. Escreve que os golpistas eram “verdadeiros patriotas” e apenas queiram restaurar os objectivos consagrados nos estatutos e no programa do MPLA, postos em perigo pelo “grupo de Agostinho Neto”. Quem eram esses patriotas? Nito Alves, José Van-Dúnem, Monstro Imortal, Bakaloff, Sianuk, David Aires Machado “Minerva”, Pedro Fortunato, Juca Valentim, Rui Coelho, Vicente Fortuna, Gungu Arão, e demais destacados dirigentes e militantes”.
Para restaurarem esses valores em perigo, os “patriotas” organizaram uma manifestação pacífica, cordata, com punhos de renda. Escreve Francisco Miguel que também se diz advogado: “A resposta à manifestação, foi a violenta repressão levada a cabo pelo referido grupo de Neto, que a qualificou de tentativa de golpe de estado, pior: “INTENTONA FRACCIONISTA” (…) tudo com o vil propósito de eliminar, selectivamente, a maior nata pensante que o MPLA tinha no seu seio, com destaque para a eliminação cruel e selvagem de Nito Alves, cujo corpo, segundo informações que me chegaram aos ouvidos, foi atirado ao mar”. As provas dele são o ouvido. Grande advogado!
A maior nata pensante do MPLA tinha o nível do “Michel”. Nito Alves era um básico. Cita Vales, Rui Coelho e outros ajudantes escreveram-lhe as “teses”, os poemas e fizeram dele poeta e pensador. Na realidade era um usurpador. Aderiu à guerrilha quando já não existia guerrilha na I Região. Teve uma intervenção notável no Congresso de Lusaka mas essa reunião magna nem começou. Não existiu. Era professor de posto e apresentou-se como “comandante”. Estávamos no tempo do oportunismo, da aldrabice, do carreirismo.
O único membro da direcção política e militar do golpe de 27 de Maio com algum nível era Jacob Caetano (Monstro Imortal). Conhecia todos, muito bem. Oportunistas, bazófias, incultos, golpistas, analfabetos políticos, ainda que alguns frequentassem a universidade. Cita Vales era uma fala-barato. Meteram-lhe na cabeça, a martelo, umas coisas do marxismo-leninismo e ela despejava o palavreado. Mas comparada com os outros, era prémio nobel da política.
Eliminar “a maior nata pensante que o MPLA tinha no seu seio” foi, segundo “Michel”, o que “esteve na base do 27 de Maio, que depois resvalou no massacre que todos conhecemos, que tinha como único propósito a eliminação seletiva da nata pensante, honesta e patriota de militantes no seio do MPLA. Este era o propósito do grupo que previamente concebeu, planificou e executou o plano macabro”.
O que ele escreve é grave. Mas mais grave é ninguém reagir quando alguém falsifica a História Contemporânea de Angola com tal desfaçatez. Falta ao respeito aos Fundadores da Nação Angolana na maior das impunidades. Mente, distorce, manipula.
Miguel Francisco diz que a derrota dos golpistas deu no que vivemos hoje. Pobreza, miséria, fome. “Que Angola temos hoje, caros compatriotas, desde que ela vem sendo governada pelo MPLA?”. Ele responde com mais delírios. Mas esconde que em 1992 o regime político mudou. Da democracia popular passámos para a democracia representativa. Do socialismo passámos para a “economia de mercado”, o tal capitalismo que, segundo o Papa Francisco, mata!
No máximo delírio, “Michel” diz que “o MPLA governa o País há quase meio século. Ao longo destes anos todos, nem um único Hospital em condições aceitáveis construiu”. Este ainda não sabe da cirurgia robótica nem lhe disseram que abriu o Hospital Cardeal Alexandre do Nascimento. A kapuka está muito barata…
O “sobrevivente” ataca o General Higino Carneiro porque no seu livro conta como foi detido Nito Alves. “Mentira! Ele só tinha 15 anos no dia 27 de Maio!” Maldita kapuka! Higino Carneiro nasceu a 8 de Julho de 1955, portanto tinha 22 anos quando participou na detenção do golpista Nito Alves, que se escondeu na cabeleira de uma palmeira, fingindo ser “trepador”. Com o jovem oficial das FAPLA estava o lendário Comandante Margoso. Naquele tempo, aos 22 Anos os combatentes das FAPLA já eram veteranos!
Um exemplo. O General Ngueto, comandante da região onde se travaram os combates da Batalha do Cuito Cuanavale, que duraram quase um ano, tinha apenas 29 anos. O comandante das tropas no Triângulo do Tumpo era o General Nado Cuito, que tinha 27 anos. O próprio “Michel” em 1974 tinha apenas 19 anos e pelo que escreve, era tu cá, tu lá com os membros da direcção política e militar do golpe de estado em 27 de Maio de 1977.
Este ano o 27 de Maio foi um festival de abraçar e perdoar. Os fraccionistas assassinos já têm tudo, da base ao topo. Mas ainda querem mais. Só enterram o machado de guerra quando Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos forem riscados da lista dos mortos. Nunca existiram. Antes de João Lourenço nada existia. Nem as nossas Mamãs.
Grave, muitíssimo grave é a campanha das fotografias de personalidades com a legenda “Eu Também Matei no 27 de Maio”. Ninguém reagiu, nem as vítimas. Por isso os mentores do banditismo político e mediático continuam a viver na maior das impunidades.
E os mortos? No genocídio de Gaza, em sete meses, morreram 38.000 civis. Israel bombardeia o território com artilharia e aviões de guerra. Tropas especiais matam à toa. Em Angola, no 27 de Maio, sem bombas, sem armas pesadas, sem franco-atiradores, como podiam morrer 80 mil? Ou 8.000? Ou 800? Impossível. Digam à Dona Chica e aos “sobreviventes” para perdoarem e abraçarem a verdade. Acabem com as aldrabices e com o terrorismo verbal.
* Jornalista
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