Artur Queiroz*, Luanda
Bendito povo que tais governantes tem. Estou rendido. De rastos. Esmagado. A coragem do Presidente João Lourenço deixou-me de boca para a nuca. Ali, na sua cantina Carrinho, com os líderes da República Democrática do Congo, Zâmbia e Tanzânia (vice) testemunhando, ele olhou o genocida Biden nos olhos e disse-lhe: Ó Joe tira as patas da Palestina. Não mates mais crianças e mulheres. Põe imediatamente fim ao cerco a Cuba. Não me obrigues a levar-te amarrado ao Tribuna Penal Internacional.
Joe Biden não sabia onde estava. Pediu para lhe mudarem a fralda. Engoliu em seco e murmurou: Sim chefe Adalberto da Costa Júnior! Vamos mesmo acabar com esses comunistas do MPLA. Vamos invadir Cuba com uma guerra fria. Vamos matar palestinos até onde for preciso.
O presidente do conselho de Administração do Porto do Lobito entrou de rompante na cantina Carrinho, casa de João Lourenço, e mostrou o seu coração repleto de alegria por receber Joe Biden. Um milagre daqueles. O chefe da Casa dos Brancos até o aconselhou a ter cuidado com os acidentes portuários.
Que inteligência! Que argúcia! (Enquanto tivermos gestores como aquele do Porto do Lobito só podemos estar de joelhos ante qualquer bandido!). O demente senil não sabia onde estava mas eu vou dar umas pistas ao visitante e ao Presidente João Lourenço.
O Acordo de Bicesse sucedeu aos Acordos de Nova Iorque assinados por Angola, Cuba e África do Sul, em Dezembro, há 36 anos. A UNITA era nessa época uma unidade especial das tropas sul-africanas invasoras, que na Batalha do Cuito Cuanavale “ficou feita em fanicos” como escreveu mais tarde o coronel Jan Breytenbach, o pai das forças armadas de Savimbi. Entre a retirada das tropas invasoras de Angola e as negociações no Estoril, Portugal, os racistas de Pretória esconderam Jonas Savimbi na Jamba ou no Gabão, para não atrapalhar.
Chester Crocker, secretário de Estado dos EUA, no seu livro “High Noon in Southern Africa” escreveu a propósito do clima na África do Sul, quando as forças armadas do apartheid acumulavam derrotas entre a Caixa do Chambinga e o Triângulo do Tumpo:
“A agitação e a resistência combativa em áreas urbanas habitadas por negros - e a falta de apoio do Ocidente a PW Botha – precipitaram a reacção dos brancos. PW Botha era culpado pela mudança e pela violência. Mas os brancos agora culpavam-no também pelas sanções e pelo isolamento da África do Sul. Este clima interno ajudou a explicar a mais recente série de repressões: No final de Fevereiro de 1988, o Governo proibiu praticamente todas as actividades das 17 principais organizações negras, incluindo as da Frente Democrática Unida. Nem mesmo escapou a actividade política da COSATU, a maior federação de sindicatos.”
Chester Crocker sabe o que escreve. O regime de apartheid em Fevereiro de 1988 já estava em decomposição, devido às derrotas que ia acumulando em Angola e que culminaram com a derrota final no Triângulo do Tumpo. Dia da Libertação da África Austral.
Em Pretória, PW Botha nem queria acreditar que as suas forças estavam derrotadas, porque os chefes militares lhe relatavam grandes êxitos no terreno e os jornalistas apresentavam Savimbi como um chefe militar imbatível. O derrotado presidente do regime de apartheid terminou seu mandato a 15 de Agosto de 1989, pouco mais de um ano depois da vitória das FAPLA no Triângulo do Tumpo e como resultado dos Acordos de Nova Iorque. Entregou o poder a Frederik de Klerk, o presidente da transição.
Chester Crocker também diz no seu livro que a “missão do embaixador sul-africano Neil van Heerden a Washington, em Março de 1988, acabou por marcar o ponto de viragem na política externa sul-africana”. Mas depois reconhece que “nós soubemos da decisão sul-africana de reunir com os cubanos e os angolanos em meados de Abril. Não havia necessidade de uma etapa intermédia de negociações de proximidade: Este era um encontro directo”.
A mudança na política externa de Pretória foi tão grande que deixou Washington de fora e PW Botha, face à derrota militar, decidiu negociar directamente com Angola e Cuba. Só mais tarde a diplomacia norte-americana voltou a ganhar protagonismo. Quem nunca esteve, nem de perto nem de longe, nas negociações, foi a UNITA. Nos negócios faz-de-conta com o demente senil Joe Biden também não entraram os sicários da UNITA. Palpita-me que foi bom para eles.
Pretória escondeu Savimbi na Jamba ou no Gabão e rapidamente esqueceu os seus aliados. Washington, no dia da Independência da Namíbia, meteu “uma cunha” ao Presidente José Eduardo dos Santos, para dar uma mão aos derrotados. Assim se chegou a Bicesse, uma oportunidade de ouro que Savimbi desperdiçou.
O governo de Angola ajoelhou-se ontem aos pés da Casa dos Brancos no Aeroporto Paulo Jorge, na Catumbela. Nem no colonialismo os governadores da colónia se dobravam tanto face aos presidentes de Lisboa que visitavam Luanda.
João Lourenço nem esperou pelo presidente dos EUA eleito, assinou a capitulação mesmo com o demente senil Joe Biden, que já não vale nada nem manda nada. Quem diria. No mês de Dezembro há 36 anos, foi o regime racista de Pretória, braço armado dos EUA, que capitulou aos pés de angolanos e cubanos.
No dia 22 de Dezembro de
1988, Angola, Cuba e África do Sul assinaram o “Acordo Global de Paz”
O Acordo Global de paz
Chester Crocker faz a seguinte leitura à situação em finais de 1987: “Existia o caos económico em Angola, devido à queda dos preços do petróleo. Mas militarmente as FAPLA estavam firmes nas frentes de batalha”. Este comentário do antigo Secretário de Estado é completado com esta posição lúcida: “Savimbi estava entalado entre a sua dependência da África do Sul e a superioridade convencional das FAPLA”. Por isso, “José Eduardo dos Santos recusou negociar com Savimbi mas reforçou o Programa de Perdão e Clemência”.
Na frente diplomática, o ano de
1987 foi muito importante e abriu o caminho à assinatura do Acordo Global de
Paz,
No terreno, as FAPLA marchavam sobre Mavinga. Em Lusaka, na cimeira regional, o Presidente José Eduardo dos Santos anunciou que Angola ia propor um Acordo Quadro Global com a África do Sul, Cuba e a SWAPO, sob a égide da ONU. As grandes potências ficavam de fora. O inquilino da Casa dos Brancos, Ronald Reagan, nem queria acreditar que estava fora da carroça.
No seu livro, Chester Crocker,
apesar de glorificar Savimbi e a UNITA, foi forçado a reconhecer que “Dada a
ausência de orientação estratégica em relação aos níveis políticos de topo, era
importante que o chefe do Estado-Maior General das SADF, Jannie Geldenhuys e os
seus colegas militares evitassem o desastre em Angola durante o primeiro
semestre de
Aqui ficam, como homenagem e eterna gratidão, os nomes dos construtores do Acordo Global de Paz de Nova Iorque: Afonso Van-Dúnem (Mbinda), Alexandre Rodrigues (Kito), António França (Ndalu), Francisco Paiva (Nvunda), José Maria, Mário Cirilo de Sá (Ita), Pitra Neto e Gilberto Veríssimo. Aproveito para lhes pedir perdão por não estarmos à altura dos seus feitos e não sermos capazes de evitar a capitulação de João Lourenço, assinada na sua cantina Carrinho ante o demente senil Joe Biden.
* Jornalista
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