O PAÍS (Angola)
JOSÉ MACHADO (UNL), SOBRE “QUADROS IMPORTADOS”
Numa entrevista a este jornal, o professor doutor José Machado, director da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Nova de Lisboa, afirmou, sobre Angola, que “50% dos quadros importados tem perfil errado”. Foi a partir desta informação que O PAÍS resolveu questionar alguns dos mais ilustres académicos angolanos. Porque estamos perante um dos assuntos que mais preocupam os angolanos, e que é também um dos factores mais importantes para os desequilíbrios sociais que se vão acentuando.
O pagamento de impostos é apenas um dos problemas.
Empresas estrangeiras (ou detidas por estrangeiros) sobretudo, mas também empresas angolanas contratam funcionários, assessores e até consultores estrangeiros que exercem a sua actividade sem que para tal estejam autorizados. O trabalho ilegal alastra-se, muito bem pago, mas atira muitos angolanos cada vez mais para a periferia dos benefícios económicos e sociais.
Trabalhador ilegal não paga impostos, isso é crime, isso é prejudicar os angolanos hoje e também no futuro.
A comunicação social vai revelando, ainda que a espaços, denúncias feitas por trabalhadores angolanos que vêm os seus postos de trabalho ocupados por pessoas que vieram com um visto de turismo e, mais grave, de casos de verdadeira discriminação. Hoje, esta“ocupação silenciosa” já não se fica pelas empresas petrolíferas, ou gabinetes de análise, apenas. Hoje a disputa de postos de trabalho vai até ao serviço de estafeta, passando pela própria comunicação social (área estratégica), com empresas estrangeiras a ocupar nichos importantes de mercado e a contratar serviços de outras empresas da “mesma nacionalidade” – veja-se como são agências estrangeiras (ou detidas por estrangeiros) quem faz a comunicação e publicidade das empresas em Angola.
Quase se acabou o argumento da mais-valia técnica – salvo algumas raras excepções –. Não se vem ensinar nada, vem-se ganhar dinheiro, se sem impostos melhor. E a “capa” de investidores também cai na maioria dos casos. Não se criam empregos para os angolanos, não se pagam impostos, nem se gera conhecimento, tira-se dinheiro.
Tudo isso e o tal “perfil inadequado” estão a causar danos cujas consequências poderão facilmente fugir ao controlo de quem decide.
Alves da Rocha, director do Centro de Investigação Científica da Universidade Católica, conhecido economista e autor de várias obras de cariz científico e técnico e Paulo de Carvalho, um dos mais reputados sociólogos angolanos, também professor universitário, e também autor de várias obras, aceitaram responder às questões colocadas por este jornal. Nas suas respostas estão reflexões e também indicações muito importantes para compreender e resolver o fenómeno.
José Kaliengue
Sem comentários:
Enviar um comentário