Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
Porque é barato e dá milhões, meio mundo bajula Eduardo dos Santos e o outro meio quer bajular. São poucas, cada vez menos, as excepções.
Por muito que isso custe, os portugueses – sobretudo os responsáveis políticos, económicos e jornalistas - só estão mal informados sobre a realidade angolana porque querem, ou porque têm interesses eventualmente legítimos mas pouco ortodoxos e muito menos humanitários.
De facto, os políticos, os empresários e os (supostos) jornalistas portugueses (há, é claro, para aí duas ou três excepções) fazem um esforço tremendo (bem remunerado) para procurar legitimar o que se passa de mais errado com as autoridades angolanas, as tais que estão no poder desde 1975.
É claro que nem todos pensam pela cabeça dos outros, ou pelos dólares dos outros.
“A economia angolana cresce a bom ritmo, mas só beneficia alguns. Daí os protestos contra o regime do Presidente José Eduardo dos Santos estarem a aumentar”, diz um importante meio de comunicação social.
Não. Não é, obviamente, português. No caso foi o Frankfurter Allgemeine Zeitung num longo artigo com o título “Zé Du e os seus inimigos”.
Para este jornal, Angola vive, por culpa do regime e de um presidente não eleito e que está há 32 anos no poder, numa enorme injustiça social e numa incomensurável corrupção.
“No dia da sua libertação Dionísio Casimiro volta a manifestar-se”, escreve o Frankfurter Allgemeine Zeitung, especificando que o estudante de informática de 28 anos marcha para a Praça da Independência, no centro de Luanda. Perto da estátua de Agostinho Neto estão aglomeradas centenas de polícias, com coletes à prova de bala, cavalos e cães. Indiferentes os manifestantes gritam: “ Prendam o Zé”, “32 é demais”.
Diz o jornal, alemão é claro, que o alvo dos protestos é o presidente José Eduardo dos Santos que “dirige Angola como uma multinacional”.
“O presidente, ex-marxista, está nos lugares cimeiros da lista dos homens mais ricos do continente africano”, conta o Frankfurter Allgemeine Zeitung, acrescentando que, apesar da riqueza do país, “54 por cento dos cerca de 20 milhões de habitantes vive abaixo do limiar da pobreza, com menos de um euro por dia”.
Perante isto, fica um desafio aos ilustres jornalistas portugueses, os tais que o consultor político do Presidente da República, e seu ex-assessor de imprensa, Fernando Lima, quer “domesticados”, para que me digam em que meio de informação portuguesa se pode ler que:
- 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças;
- Apenas 38% da população tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico;
- Apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade;
- 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos;
- A taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação é agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino;
- 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos;
- A dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos;
- 80% do Produto Interno Bruto angolano é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população; que 70% das exportações angolanas de petróleo tem origem na sua colónia de Cabinda;
- O acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: META ELEITORAL DO MPLA APONTA PARA 110%
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