quinta-feira, 14 de junho de 2012

Cabo Verde: O BOM E O MAU NEPOTISMO



Liberal (cv), editorial, com foto

O oportunismo tem destas coisas, para evitar o mal maior de outros escândalos serem revelados, os escribas ao serviço da estrela negra procuram fazer passar a ideia de que, em matéria de nepotismo, haverá um lado bom e um lado mau. Ou seja, somos todos culpados no geral e ninguém tem responsabilidades em particular

Governo e o PAICV/facção Neves tudo têm feito para “deixar morrer” o escândalo que envolve Janira Hopffer Almada e o marido, Carlos Pereira. E é mesmo um dos jornais oficiosos do partido que o confessa. Aliás, a estratégia de José Maria Neves para o interior do PAICV parece ser esta: estejam caladinhos porque todos têm telhados de vidro…

E é verdade! Este partido que está no poder há mais de 11 anos ininterruptamente, e há 26 com um hiato de uma década, existe fundamentalmente para distribuir empregos à sua clientela política, inundando o aparelho de Estado com incompetentes e vigaristas, com os danos que se conhecem para a sustentabilidade de Cabo Verde e para a eficácia da acção do Estado.

Um semanário da nossa praça fala mesmo de uma “briga de camaradas”, ou seja, de beneficiários dos mesmos tachos, uma parte deles aproveitando a “desgraça” de Janira para acertar contas com o líder contra quem conspiram na sombra e esperam o momento vital para desferir a estucada…

Os defensores de JMN atiçam-se agora, quais mastins, contra o ex-líder da JPAI que, segundo dizem (e não vemos razões para pôr em dúvida) também teria beneficiado (e beneficia) de prebendas, mordomias e outros pecadilhos à margem da Lei. Mas a intenção é óbvia: passar a mensagem que “somos todos iguais” e, por isso, o melhor é estarmos calados.

Para ajudar à mistificação e manipulação decorrente de abafamento público do escândalo, recorre-se mesmo ao argumento de que a fronteira entre “o aceitável” e o “não aceitável” é muito ténue, por razão de o País ser pequeno, toda a gente se conhecer e, de uma forma ou outra, todos estarmos ligados por laços de consanguinidade… O oportunismo tem destas coisas, para evitar o mal maior de outros escândalos serem revelados, os escribas ao serviço da estrela negra procuram fazer passar a ideia de que, em matéria de nepotismo, haverá um lado bom e um lado mau. Ou seja, somos todos culpados no geral e ninguém tem responsabilidades em particular.

Depois da comovente confiança política confirmada a Janira por José Maria Neves, os escribas a soldo da iniquidade consideram normal que o assunto caia no esquecimento, controlando danos maiores que poderiam advir para um Governo em acentuada queda de popularidade e para um Primeiro-ministro queimado pelo veneno das suas consecutivas mentiras.

É uma velha táctica, quando a verdade incomoda mata-se o mensageiro. Mas é um caminho perigoso, desde logo porque a oposição (finalmente) parece não querer calar-se e mesmo alguns sectores do PAICV, não queimados pela institucionalização da vigarice no poder, consideram não haver vantagens na manutenção de Janira Hopffer Almada no Governo.

Liberal, ao contrário do sugerido por uma das folhas oficiosas do Governo, não é inimigo de Janira. Não temos nada de pessoal contra a ministra, não queremos o seu mal, nem a sua desonra, até porque a rapariga cava o seu mal e a sua desonra em cada dia que se mantém no Governo, com aquela cara enfiada de quem está comprometida. A face de Janira é reveladora de quem foi apanhada em falso e sempre que aparece em público tem sobre si o dedo acusador da consciência colectiva.

A sua demissão é inevitável, demore mais ou menos tempo, esteja ou não condicionada ao resultado eleitoral de 1 de Julho, Janira Hopffer Almada é um cadáver adiado, sobre ela pairará sempre a ave negra do nepotismo, da desonestidade e da falta de respeito pela Nação cabo-verdiana. A (ainda) ministra não precisa de inimigos, tem-se a si própria!

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