Comunidade muçulmana anuncia protestos perante onda de raptos
26 de Agosto de 2012, 10:09
Maputo, 26 ago (Lusa) - Organizações muçulmanas de Moçambique anunciaram a realização de protestos, envolvendo o encerramento do comércio e manifestações em todo o país, acusando o governo de Maputo de ineficácia face à onda de raptos dirigida à comunidade.
Num comunicado divulgado na noite de sábado, após uma reunião com o governo de Maputo, a Islam Moz anunciou o encerramento na segunda-feira dos estabelecimentos comerciais da comunidade e convocou para 01 de setembro a realização de manifestações nas 11 capitais provinciais de Moçambique.
Mas mensagens divulgados através de telefones móveis estão a apelar ao alargamento da paralisação comercial para terça-feira e quarta-feira.
"O que sentirias se chegasses a casa e descobrisses que a tua filha foi raptada? Se te ligassem no trabalho dizendo que o teu irmão foi assassinado?", diz a mensagem, que apela a três dias de paralisação.
Mesmo uma cedência do governo da Frelimo, que permitiu na última semana o uso permanente de véu islâmico pelas estudantes muçulmanas em escolas públicas - quando, antes, estava proibido - não acalmou os protestos da comunidade que, desde o início do ano, é alvo de raptos selectivos.
As organizações da comunidade têm jogado a "carta eleitoral", ameaçando votar na oposição nas próximas eleições autárquicas, em 2013, e nas gerais, em 2014.
A Frelimo, que perdeu para o terceiro partido da oposição, MDM, as importantes câmaras da Beira e de Quelimane, receia uma derrota em Nampula, capital da província com o mesmo nome, a mais populosa e de predominância muçulmana.
Minoritária no país, mas forte no norte de Moçambique, a comunidade muçulmana, grande parte da qual constituída por moçambicanos de origem asiática, é a mais próspera economicamente e domina o setor do comércio.
LAS.
Zimbabueanos continuam a atravessar a fronteira à procura de comida
26 de Agosto de 2012, 10:16
André Catueira, da Agência Lusa
Chimoio, Moçambique, 26 ago (Lusa) - Apressado e carregado, Mazhai Puch, 34 anos, ajeita a bagagem na cabeça, na fila para carimbar o passaporte, de regresso ao Zimbabué, na fronteira de Machipanda, em Manica, no centro de Moçambique.
"Quando chegar em Mutare (Zimbabué) devo apanhar outro transporte para ir à zona onde vivo e o sol já vai deitar. Levo comigo arroz, massas, óleo e bolachas, parte do produto ainda deve servir para o jantar" disse à Lusa Mazhai Puch, que respira de alívio por conseguir chegar a tempo à fronteira que divide os dois países.
Milhares de zimbabueanos continuam a atravessar a fronteira de Machipanda, à procura de produtos de primeira necessidade em Manica, como sabão, óleo, arroz, pão e 'chips' (batatas fritas), para consumo ou revenda, apesar da "economia local estar a sair de coma".
"A economia zimbabueana tem tentado recuperar, mas a população ainda atravessa a fronteira à procura de alimentos básicos e melhores condições de vida. Os números não são tão piores como há três anos" explicou à Lusa José Marizane, chefe do posto fronteiriço de Machipanda.
Estatísticas migratórias naquele posto indicam que em 2011, das 269.592 pessoas que atravessaram a fronteira, 198.983 foram de nacionalidade zimbabueana, basicamente motivadas pela procura de comida e troca comercial.
Entre janeiro e junho deste ano, o movimento migratório aponta para 81.276 zimbabueanos que atravessaram a fronteira, do global de 124.384 pessoas que passaram do posto fronteiriço de Machipanda.
Um relatório do Programa Alimentar Mundial (PAM) prevê dias negros para o Zimbabué, ao estimar que cerca de 1,6 milhões de pessoas vão necessitar de ajuda alimentar durante a próxima estação seca, de janeiro a março de 2013, face à fraca produção agrária, a mais baixa desde 2009, quando o colapso atingiu o pico.
Segundo o relatório, divulgado na semana passada, a produção cerealífera deste ano caiu para 1.760.722 toneladas, ou seja, um terço menos do que em 2011. Contudo, o número de pessoas necessitadas aumentou 60 por cento relativamente ao milhão que necessitavam de ajuda alimentar na última estação seca.
"Nas zonas rurais, as pessoas estão a passar fome de verdade, uma situação crítica nunca antes vista, com celeiros vazios e sem a que recorrer. As pessoas estão a ficar pálidas e os que têm gado estão a vender para adquirir comida", disse à Lusa um residente da região de Manicaland, uma zona atingida pelas carências alimentares.
Em declarações à Lusa, Kudha Kwache, residente em Masvingo, uma região que dpode vir a ser afetada pela fome, previu que "pode ser a pior catástrofe" dos últimos anos, se não houver uma reação das organizações humanitárias que atuam no país.
"Alguns só restaram com gado, mas se a fome se arrastar por muito tempo, este recurso pode esgotar. Aí é que ficaremos de mão estendida mesmo" precisou Kudha Kwache.
De acordo com o relatório, para responder às crescentes necessidades alimentares, sobretudo nas regiões mais críticas (Masvingo, Matabeleland Norte e Matabeleland Sul, e Mashonaland, Midlands e Manicaland), o PAM e os seus parceiros vão iniciar distribuições de alimentos, com cereais comprados na região, em como com óleo vegetal e legumes importados.
Moçambique e Zimbabué assinaram, em 2008, um acordo de supressão de vistos de entrada e comércio livre, quando o Zimbabué estava no pico da crise política e económica, gerado pela controversa reforma agrária de Robert Mugabe, mas o acordo não impediu que muitos continuassem a violar a fronteira à procura bens alimentares.
AYAC.
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG
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