FP - Lusa
Bissau, 21 set
(Lusa) - O representante do secretário-geral das Nações Unidas em Bissau,
Joseph Mutaboba, garantiu hoje que entre as organizações regionais CEDEAO e
CPLP existem apenas "incompreensões" sobre a Guiné-Bissau e que ambas
estão disponíveis para dialogar.
A CEDEAO
(Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) e a CPLP (Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa) têm posições divergentes sobre a Guiné-Bissau na
sequência do golpe de Estado de 12 de abril passado. A primeira apoia o governo
de transição formado depois do golpe, enquanto a CPLP não reconhece o o
referido governo.
A crise na
Guiné-Bissau levou Joseph Mutaboba e Ovídio Pequeno, representante da União
Africana (UA) em Bissau, a contactos em vários países de África e também em Lisboa.
Hoje, em
conferência de imprensa em Bissau, Mutaboba sintetizou que "o que resulta
claramente de todas estas consultas é que não existem grandes divergências
entre a CEDEAO e a CPLP, mas acima de tudo incompreensões".
Nas consultas, se
por um lado ambos "reiteraram as suas posições" eles
"manifestaram sobretudo disponibilidade para o diálogo", declarou
Joseph Mutaboba, acrescentando que a ONU e a UA vão prosseguir nos esforços de
diálogo e que encontros entre parceiros importantes da Guiné-Bissau vão
acontecer nos próximos dias.
Um deles decorrerá
à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, organizado pela ONU e pela UA e
que junta CEDEAO, CPLP e União Europeia.
"Os resultados
deste encontro servirão de base à reunião do grupo de contacto internacional
sobre a Guiné-Bissau, previsto para Adis-Abeba", referiu Mutaboba.
Mas, acrescentou,
mais do que diálogo entre parceiros da Guiné-Bissau é fundamental o diálogo
entre os guineenses. Porque são eles os responsáveis por todas as crises
históricas e são eles quem tem de determinar "se esta é a última".
"O diálogo é
difícil, mas não impossível. Todos dizem que estão prontos a dialogar",
esclareceu Joseph Mutaboba, considerando o momento atual uma ocasião única para
os guineenses se olharem nos olhos, dizer a verdade, dizer que é preciso parar
de uma vez por todas, mudar de página, reconciliar-se e construir uma base,
para que depois a comunidade internacional os ajude "sobre uma base sólida
e sincera".
Ovídio Pequeno
manifestou a mesma opinião. E acrescentou que essa preocupação para com o
diálogo interno vem do "reconhecimento de que de facto na Guiné-Bissau há
muitos problemas internos, particularmente a nível dos partidos
políticos".
"Os partidos
têm dialogado, é um início de um processo ainda frágil, mas que poderá dar
frutos. Mas temos de ter paciência e reconhecer que há dificuldades, que os
partidos têm problemas internos e que enquanto não os resolverem qualquer
iniciativa de diálogo terá obstáculos", apontou Ovídio Pequeno.
O representante do
presidente da Comissão da UA lembrou o problema da Assembleia Nacional,
paralisada desde o golpe de Estado, uma questão "urgente" mas sobre a
qual "o diálogo já foi iniciado".
Mas há também a
questão, lembrou, de haver um governo inclusivo, ou a harmonização de uma
posição a nível internacional. "É preciso ir paulatinamente resolvendo os
problemas, com visão e respeito pela Carta de Transição. Se as partes na altura
concluírem que não pode ser feito isso já é outra etapa do percurso",
disse, quando questionado sobre se as eleições poderão acontecer em abril de
2013, como previsto.
Joseph Mutaboba não
falou das eleições. Mas explicou que quem representa a Guiné-Bissau na
Assembleia Geral das Nações Unidas é "uma questão dos Estados
membros".
Serifo Nhamadjo e o
governo de transição estarão em Nova Iorque, como também estarão Raimundo Pereira
e Carlos Gomes Júnior, o Presidente e o primeiro-ministro depostos.
Joseph Mutaboba
explicou que quando há mudanças num país, como aconteceu na Guiné-Bissau, o
"dossier" é enviado ao Comité de Protocolo e de Acreditação, composto
por Estados membros eleitos anualmente, sendo esse comité que decide quem
participa, razão pela qual não sabe quem ou se alguém discursará na assembleia.
Mas uma certeza
deixou perante os jornalistas: "Gostávamos de afirmar aqui e agora que nem
as Nações Unidas nem a União Africana deixaram ou deixarão de apoiar plenamente
este país para que ele alcance a paz que o povo deseja", declarou.
O mesmo já tinha
sido expresso numa mensagem à Guiné-Bissau do secretário-geral da ONU, Ban
Ki-moon, por ocasião do Dia Internacional da Paz, que hoje se celebra.
"Reitero que
as Nações Unidas vão prosseguir o seu apoio, mas quero antes de mais sublinhar
que qualquer apoio recebido não dará os frutos necessários enquanto não houver
a participação de todos os guineenses nos esforços pela paz", lê-se na
mensagem.
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