Diário de Notícias,
editorial - com foto
A medida
emblemática da baixa da TSU das empresas, compensada pelo contributo agravado
dos seus trabalhadores, é um nado morto. Repouse em paz a sua alma. Mas tudo o
mais à volta, que entrou em reboliço há duas semanas, ficará longe de se achar
pacificado, tal o abalo político, económico e social. As réplicas estão aí à
vista de todos.
Em termos
económicos, multiplicaram-se depoimentos em sentido contrário ao afiançado pelo
primeiro-ministro: em vez de ser a chave capaz de reabrir a porta ao emprego,
acabaria por ser um instrumento de reforço da hemorragia laboral em curso. Mas
a ideia da desvalorização fiscal como alavanca para a promoção da
competitividade das empresas portuguesas, essa, não morreu. Foi o que o
primeiro-ministro, "determinado, mas não intransigente", líder de um
Governo que não é "cego, nem surdo, nem ficará mudo", admitiu ontem
no Parlamento, depois à CGTP e mais tarde no Conselho de Estado
maioritariamente anti-TSU. Mas se a TSU se evapora para já, nada garante que
não volte a emergir transmutada numa qualquer benesse às gestões empresariais,
sendo fácil adivinhar de onde virá a sua base financeira.
Para tapar o vazio,
que a mudança de rumo orçamental abre - a três semanas da entrega do OE 2013 -
,a questão central passa a ser, agora, o equilíbrio global do documento. Mas
também a equidade das medidas de austeridade à luz do exigente referencial
constante do acórdão do Tribunal Constitucional e da reavivada atenção que a
nova proposta orçamental vai suscitar na opinião pública, nos parceiros sociais
e em todas as forças políticas. Aguarda-se, nesse contexto, o conjunto de
propostas por parte das cinco confederações subscritoras do acordo social.
Em termos
políticos, falta saber até que ponto esta monumental gafe deixa enfraquecida
uma coligação cujos parceiros se apunhalavam pelas costas há uma semana, e hoje
só trocam juras de fidelidade. Há traições difíceis de esquecer e que minam
qualquer relação com o tempo. A união, mesmo com o criado órgão de
"aconselhamento", pode durar apenas até que o Orçamento a separe. Ou
pode prolongar-se até ao fim da legislatura, em nome da superior e nobre
estabilidade do País, mas numa paz podre que terá de ultrapassar várias provas
de fogo.
E há uma outra
traição, a presidencial, que marcará também as relações institucionais S.
Bento/Belém. Passos ouviu os recados de Cavaco através das figuras que lhe são
próximas, viu o Presidente trocar uma conversa que podia ser a dois e em
privado por horas de interrogatório frente à maioria crítica dos 19
conselheiros de Estado e só após as explicações técnicas de Vítor Gaspar. E
tirará ilações.
Mas, acima de tudo,
há a revolta social. O descontentamento generalizado com a classe política
visível nas ruas e nas sondagens. Porque o povo, esse protagonista há tantos
meses calado, passou a gritar em cada momento crítico deste processo que já não
aguenta mais apertos. Como convencê--lo a aceitar agora seja lá o que for que
vem aí vai ser o mais duro teste de fogo de Passos. É como a pasta de dentes:
depois de saída da bisnaga, como voltar a metê-la donde nunca deveria ter saído?
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1 comentário:
Com TSU ou sem TSU, o rol dos fiados fechou, e a dolorosa chegou
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