Eduardo Oliveira Silva – i online, opinião
Sobra um governo moribundo mas em funções
Por razões diferentes, tanto o Presidente da República como o primeiro-ministro têm margens muito estreitas para resolver o problema que Passos Coelho e Vítor Gaspar (e, quer queira quer não, o próprio Paulo Portas) criaram ao país com o anúncio descabido, desadequado e contraproducente de um pacote de medidas de aumento de impostos disfarçado de outra coisa que, diga-se de passagem, ainda não se percebeu o que é.
Cavaco está na fase na intermediação da procura de um equilíbrio impossível do ponto de vista da equidade, já que, obviamente, qualquer recuo não irá evitar que a classe média (a tal que começa a contar a partir de 750 euros de ordenado) venha a arcar com o sacrifício.
A verdade é que o Presidente não tem espaço e legitimidade moral para ser mais do que um oficial de bons ofícios.
De algum modo fragilizado por não ter sido mais duro com Sócrates e os seus desvarios no seu governo minoritário, o chefe de Estado tem pouca margem para utilizar os mecanismos mais radicais contra um executivo desgastado mas maioritário.
Até agora, o que aconteceu institucionalmente foi uma fricção interna violenta, mas não irreversível, entre CDS e PSD. O clamor da rua, por mais forte que tenha sido, não mudou essa circunstância.
Quanto a Passos Coelho, a sua margem política também é curta. Como nada indica que bata com a porta, como já ameaçou duas vezes, há que esperar que, dado o “raspanete” ao dr. Portas, a coisa se componha minimamente.
Nos próximos dias, a tensão ainda irá subir, mas depois, aos poucos, o lume ficará mais brando e o caldo não se vai entornar entre os parceiros de coligação, caindo, sim, para cima dos cidadãos comuns, que até há dias pensavam que o esforço, a contenção e a paciência tinham servido para alguma coisa.
Todos os quadrantes políticos admitem que agora o pior seria uma crise política e, mais grave ainda, seria resolvê-la por eleições.
Apesar de se ter manifestado estrondosamente nas ruas, apesar de considerar o governo o maior de todos os males, apesar de não tencionar já renovar a sua confiança nos partidos da coligação, não é líquido que a maioria dos cidadãos esteja disponível para viver mais um período de vacatura política, com todos os problemas e agravamentos que isso acarreta.
Os erros de Vítor Gaspar, a ineficácia de Santos Pereira, a falha de comunicação de Passos Coelho e a meia-desfeita de Paulo Portas, cujo acólito Mota Soares esteve também na génese da TSU, não vão alterar a circunstância concreta de que não há espaço, nesta fase, para rupturas, venham de onde vierem, seja de Belém, seja do interior da coligação, seja das oposições, até das mais radicais.
Como há dia lembrava Marcelo Rebelo de Sousa, é o mexilhão quem se trama sempre e até pode acontecer que ainda tenha de desembolsar mais algum já este ano se a ANA não for despachada por 1% do défice.
Por mais apelos que haja a soluções de ruptura, é de apostar singelo contra dobrado que elas não acontecerão no imediato, embora Passos e Portas estejam fortemente desacreditados. Sobra, assim, um governo moribundo, mas em funções.
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