Sofia Branco - Lusa
Lisboa, 01 out
(Lusa) -- O secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP) acusou hoje a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental
(CEDEAO) de estar a ser "parte do problema" na Guiné-Bissau, em vez
de "parte da solução", violando normas internacionais.
"A ação da
CEDEAO complica um pouco todas as outras ações internacionais porque violam
todas as normas do Direito Internacional em relação à Guiné-Bissau",
reconheceu, em entrevista à Lusa, na sede da CPLP, em Lisboa, o moçambicano
Murade Murargy, que inicia agora o seu mandato à frente da organização
lusófona.
O diplomata de
carreira recordou que a CEDEAO "empossou um Governo" não eleito na
Guiné-Bissau (numa alusão ao apoio manifestado aos militares golpistas) e
mobiliza, no terreno, "forças compostas por países que são parte
interessada no conflito".
Mas, destacou,
Governo eleito e Governo imposto pelos militares golpistas iniciaram hoje um
diálogo em Nova Iorque.
O Presidente
deposto Raimundo Pereira e o seu sucessor Serifo Nhamadjo reuniram-se à margem
da Assembleia-Geral das Nações Unidas, que hoje termina, provavelmente sem que
nenhum representante da Guiné-Bissau suba ao palanque para se dirigir à
restante comunidade, dadas as divergências entre as partes.
No final do
encontro, ambas as partes encarregaram os seus ministros dos Negócios
Estrangeiros de continuar as discussões.
Murade Murargy
confirmou que "há muitos esforços que estão a ser desenvolvidos" para
"identificar as divergências que existem", mas salientou que o
conflito é "um problema a ser resolvido pelos próprios guineenses",
que "têm de dialogar".
As organizações
internacionais podem ser apenas "facilitadores e promover o diálogo",
sublinhou Murade Murargy.
"É um assunto
de guineenses, tem de ser resolvido pelos guineenses", insistiu, sem
arriscar um prazo, porque, "em questões de conflitos internacionais, é
difícil prever um tempo", mas esperando que "seja o mais rapidamente
possível".
"Enquanto
tivermos um membro na situação em que se encontra a Guiné-Bissau, dificilmente
podemos desenvolver ações de cooperação mutuamente vantajosas entre nós",
reconheceu o secretário-executivo.
As outras
organizações internacionais envolvidas na resolução do diferendo -- ONU, União
Europeia, União Africana -- "estão de acordo" no que é preciso fazer
agora, garantiu Murade Murargy.
"Querem que a
legalidade internacional seja reposta, (...) que "as forças da CEDEAO
sejam substituídas por forças internacionais, que envolvam outros países,
incluindo os da CPLP, e que seja constituído um Governo de transição com base
nos resultados das eleições", enumerou.
Murade Murargy
disse não temer o peso que o conflito na Guiné-Bissau poderá ter no seu
mandato. O assunto "está a ser seguido ao mais alto nível", nomeadamente
entre representantes da CPLP e da CEDEAO, e disse acreditar que vai ser
possível "encontrar uma saída para este imbróglio".
"A
Guiné-Bissau não nos vai desviar dos nossos objetivos", assegurou,
recordando que Moçambique fixou o tema da segurança alimentar e nutricional
como prioridade para o seu mandato à frente da CPLP, até 2014.
"Os nossos
países têm capacidades e potencialidades" para "participar na
produção mundial" de alimentos, justificou o ex-chefe da Casa Civil
durante a presidência de Joaquim Chissano.
SBR (PDF) //VM.
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