terça-feira, 2 de outubro de 2012

Portugal: O REGIME NUM BECO



Diário de Notícias, opinião

Desengane-se quem espera da esquerda uma alternativa estável à coligação PSD/CDS. O dia de ontem foi exemplar. PCP e Bloco de Esquerda, apesar de no essencial estarem unidos, não foram capazes de convergir numa única moção de censura ao Governo. Cada um apresentará a sua - sendo as duas discutidas no mesmo dia. Por outro lado, a jornada acabou com o PCP e o PS (que se prepara para se abster nas duas moções) a trocarem acusações. Os comunistas dizem que o PS recusa ser oposição; os socialistas respondem que o PCP foi aliado objetivo da direita na queda do Governo de José Sócrates, no ano passado.

Olhando para o puzzle da esquerda percebe-se algo elementar: é impossível um entendimento à esquerda que envolva os três partidos. Se entre o PS e o BE os caminhos se vão, lentamente, alargando (são ambos europeístas e defensores da permanência de Portugal no euro), já entre o PS e o PCP o entendimento é impossível (o PCP admite a saída de Portugal do euro, exigindo apenas como condição prévia um referendo que sancione a decisão).

Assim - e sabendo que o PS está muito longe da maioria absoluta nas sondagens - se conclui que, no curto prazo, é impossível uma alternativa estável de esquerda ao atual Governo de direita. No curto prazo ou mesmo no médio - enfim, enquanto Portugal estiver sob tutela da troika. E isto sugere algo ainda mais grave: que o regime se encontra bloqueado: nem a atual maioria no Governo parece ter hoje correspondência no País nem uma maioria alternativa tem condições reais para se formar.

Um ano sem verão

Não vale a pena entrar em grandes polémicas acerca da dimensão numérica da subida, em agosto último, da taxa de desemprego em Portugal para 15,9%. Essa é a medida estrita, convencionada em todo o sistema estatístico do Eurostat. No nosso caso, essa medição dará 881 mil desempregados. Mas, em cada país, tendo em conta realidades sociais específicas, a dimensão do desemprego e do subemprego estende-se a outras camadas da população, que se veem forçadas a mudar de vida: ou emigram, ou voltam para a terra e procuram refugiar-se na economia de subsistência, ou mergulham em biscates. Tudo isto reduz a população ativa formalmente contabilizada do País e, sobretudo, representa o dissipar de muitas capacidades e talentos numa economia de braços caídos.

Sazonalmente, entre abril e agosto, com o bom tempo, costuma descer o desemprego. Não aconteceu, assim, este ano: neste período de 2012 estão contabilizados mais 28 mil desempregados (nos últimos 12 meses vamos com mais 177 mil portugueses sem trabalho!). Pela frente temos os meses desfavoráveis, até março de 2013. E, se a meta do Governo para este ano (15,5%) pode falhar por muito pouco - uma ou duas décimas de ponto percentual a mais -, a projeção de 16% para a taxa média do desemprego em 2013 revela-se já francamente irrealista.

E quanto mais contracionista se revelar o OE 2013, maior será a subida deste, que é o número mais negro da atualidade. Bem como a incapacidade para as empresas do País se animarem a dar a volta a tão dura realidade.

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