Diário de Notícias, opinião
Desengane-se quem
espera da esquerda uma alternativa estável à coligação PSD/CDS. O dia de ontem
foi exemplar. PCP e Bloco de Esquerda, apesar de no essencial estarem unidos,
não foram capazes de convergir numa única moção de censura ao Governo. Cada um
apresentará a sua - sendo as duas discutidas no mesmo dia. Por outro lado, a
jornada acabou com o PCP e o PS (que se prepara para se abster nas duas moções)
a trocarem acusações. Os comunistas dizem que o PS recusa ser oposição; os
socialistas respondem que o PCP foi aliado objetivo da direita na queda do
Governo de José Sócrates, no ano passado.
Olhando para o
puzzle da esquerda percebe-se algo elementar: é impossível um entendimento à
esquerda que envolva os três partidos. Se entre o PS e o BE os caminhos se vão,
lentamente, alargando (são ambos europeístas e defensores da permanência de
Portugal no euro), já entre o PS e o PCP o entendimento é impossível (o PCP
admite a saída de Portugal do euro, exigindo apenas como condição prévia um
referendo que sancione a decisão).
Assim - e sabendo
que o PS está muito longe da maioria absoluta nas sondagens - se conclui que,
no curto prazo, é impossível uma alternativa estável de esquerda ao atual
Governo de direita. No curto prazo ou mesmo no médio - enfim, enquanto Portugal
estiver sob tutela da troika. E isto sugere algo ainda mais grave: que o regime
se encontra bloqueado: nem a atual maioria no Governo parece ter hoje
correspondência no País nem uma maioria alternativa tem condições reais para se
formar.
Um ano sem verão
Não vale a pena
entrar em grandes polémicas acerca da dimensão numérica da subida, em agosto
último, da taxa de desemprego em Portugal para 15,9%. Essa é a medida estrita,
convencionada em todo o sistema estatístico do Eurostat. No nosso caso, essa
medição dará 881 mil desempregados. Mas, em cada país, tendo em conta
realidades sociais específicas, a dimensão do desemprego e do subemprego
estende-se a outras camadas da população, que se veem forçadas a mudar de vida:
ou emigram, ou voltam para a terra e procuram refugiar-se na economia de
subsistência, ou mergulham em
biscates. Tudo isto reduz a população ativa formalmente
contabilizada do País e, sobretudo, representa o dissipar de muitas capacidades
e talentos numa economia de braços caídos.
Sazonalmente, entre
abril e agosto, com o bom tempo, costuma descer o desemprego. Não aconteceu,
assim, este ano: neste período de 2012 estão contabilizados mais 28 mil
desempregados (nos últimos 12 meses vamos com mais 177 mil portugueses sem
trabalho!). Pela frente temos os meses desfavoráveis, até março de 2013. E, se
a meta do Governo para este ano (15,5%) pode falhar por muito pouco - uma ou
duas décimas de ponto percentual a mais -, a projeção de 16% para a taxa média
do desemprego em 2013 revela-se já francamente irrealista.
E quanto mais
contracionista se revelar o OE 2013, maior será a subida deste, que é o número
mais negro da atualidade. Bem como a incapacidade para as empresas do País se
animarem a dar a volta a tão dura realidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário