quarta-feira, 14 de novembro de 2012

GREVE EM PORTUGAL EM DIA DE LUTA EUROPEIA – A GREVE AO MINUTO

 


Fabíola Maciel – Público - ontem
 
Os portugueses saem nesta quarta-feira à rua contra a austeridade num protesto que pretende ser “histórico” para toda a Europa. O dia é de greve geral, mas também de manifestações, ou melhor, manifestação, já que a Plataforma 15 de Outubro, os movimentos 12 de Março (M12M), Que se lixe a troika, Alternativa Socialista (MAS), Sem Emprego (MSE) e Cidadãos pela Dignidade (MCD) vão juntar-se à CGTP para, em uníssono, dizerem “basta de exploração e empobrecimento”.
 
A CGTP deu, no início de Outubro, o primeiro passo para a convocação de uma greve geral e, mais tarde, anunciou um protesto em frente à Assembleia da República. O ponto de encontro dos manifestantes afectos à central sindical é no Rossio, às 14h30.

Porém, a luta dos cidadãos começa mais cedo em vários pontos de Lisboa. Pela primeira vez, os movimentos decidiram, em conjunto, promover uma acção de solidariedade com os estivadores. Plataforma 15 de Outubro, MAS, MCD, MSE e M12M vão encontrar-se no Cais do Sodré, às 13h00, para protestar contra o Governo e a troika.

Ana Rajado, do Movimento Sem Emprego (MSE), justifica o protesto conjunto “com a propaganda muito forte que tenta dividir os estivadores”. Na terça-feira, o MSE defendeu que o “Governo está a condenar pessoas à morte”, já que, por exemplo, “obriga idosos a optar entre remédios e comida”. Por isso, o MSE assumiu, em comunicado, a legitimidade dos cidadãos utilizarem a “desobediência civil como forma de resistência”.

Durante a noite, membros do MSE estarão junto dos piquetes de greve e desde a semana passada que foram colados cartazes a apelar à adesão ao protesto. A porta-voz do MSE disse ao PÚBLICO que “foram colados mil cartazes do movimento, mas, entre todos os promotores, são cerca de 3500”.

Por sua vez, o Movimento 12 de Março convocou os cidadãos através das redes sociais para um protesto que, segundo João Labrincha, é “muito importante”. Por isso, os membros vão erguer 12 cartazes com mensagens em várias línguas contra a austeridade. “Privatizam a água, nacionalizam a sede”, “Austeridade é crime contra humanidade” e “Eu passo-me, Coelho” são alguns dos exemplos das palavras de ordem do M12M. Por volta das 13h30, os manifestantes seguem para o Rossio.

Em solidariedade não com os estivadores mas com a jornada de luta europeia, os membros do Que se lixe a troika vão concentrar-se, às 14h00, junto à embaixada de Espanha, no cruzamento entre a Avenida da Liberdade e a Rua do Salitre. João Camargo, do movimento, sublinhou ao PÚBLICO que existe “uma motivação comum dos povos da Europa para combater a situação de crise”, que “não pode ser resolvida num só país”.

Ao longo do dia vários membros deste movimento vão estar com os piquetes da greve e a partir das 10h00 vai andar por Lisboa um piquete móvel a apelar à adesão à greve geral e à participação na manifestação. Às 14h30, os manifestantes juntam-se ao protesto da CGTP, no Rossio. A partir desta hora e deste local, o protesto passa a ser uniforme. Na Assembleia da República, os portugueses vão gritar a uma só voz que não querem mais austeridade.

A PSP confirmou que está previsto um reforço de policiamento, em particular nos locais com maior afluência de pessoas.

Lisboa é o centro dos protestos, mas a CGTP tem marcadas concentrações para todos os distritos do continente e também para os Açores e a Madeira. Portugal está hoje em greve geral, tal como Espanha, Grécia e Itália, mas um pouco por toda a Europa vão realizar-se acções de solidariedade, conferências e protestos
 
Greve ao minuto: serviços municipais e transportes pontuam paralisação
 
Público - 14.11.2012 - 07:14 Por Victor Ferreira, Romana Borja-Santos, Ricardo Vilhena, André Jesus, Rita Brandão Guerra
 
Portugal vive nesta quarta-feira um dia de greve. A paralisação foi convocada pela CGTP. A UGT não aderiu ao protesto, mas muitos sindicatos ligados a está central sindical tomaram uma opção diferente e emitiram pré-avisos de greve. O PÚBLICO acompanha aqui o dia de Norte a Sul do país. Para actualizar a página clique no botão respectivo do browser ou na tecla F5 do teclado.
 
8h36 A manhã na Pampilhosa ficou marcada pelos tumultos entre as forças de segurança e os piquetes de greve que estavam na estação de comboios desta freguesia do concelho da Mealhada, avança a Antena 1. Um dos elementos do piquete ferido por um militar da GNR teve de receber tratamento hospitalar e a União dos Sindicatos de Coimbra admite apresentar queixa pela “extrema violência”, informou o sindicalista António Moreira. A CGTP já foi informada do incidente. Romana Borja-Santos

8h32 Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, disse aos jornalistas presentes à porta da Lisnave que o balanço actual era bastante positivo, com os “transportes parados a nível nacional” e uma “grande adesão nos hospitais”. A adesão do sector privado merece também o destaque de Arménio Carlos, que avança com uma forte mobilização dos trabalhadores.“A esta hora, esta é uma das maiores lutas que nós travámos”, disse.

Para o secretário-geral da CGTP, esta greve ganha maior importância com as greves marcadas na Grécia, Espanha e Itália, e com os protestos marcados na Bélgica e França.

“Ainda é muito cedo para estar já a adiantar números", diz Arménio Carlos, realçando que o importante é a forte mobilização que já se faz sentir em todo o país. Porém, “quando as coisas começam bem, devem acabar bem”, disse o líder da CGTP.

Questionado acerca da possibilidade de vários trabalhadores não aderirem à greve com medo de represálias, Arménio Carlos foi peremptório ao afirmar que “os trabalhadores só se devem orgulhar e participar na greve”.Em relação ao incidente registado em Coimbra entre um grevista e as forças de segurança, Arménio Carlos disse que “as forças de segurança têm mais que fazer do que se meter no que não são chamados”, pedindo que as mesmas regressem aos quartéis e esquadras e que deixem os sindicatos fazer o seu trabalho.

António Pardal, dirigente sindical e membro da Comissão de Trabalhadores da Lisnave, avançou ao PÚBLICO que, actualmente, a produção está “completamente parada” e que a empresa regista uma adesão à greve de cerca de 96%. Cerca de 80 trabalhadores encontravam-se à porta da empresa, sendo que mais de metade eram empreiteiros precários de origem maioritariamente africana e romena, que reclamavam a entrada nas instalações da empresa. André Jesus

8h25 Na aviação, a operação da companhia aérea portuguesa TAP está a decorrer “conforme o previsto”, disse fonte da empresa ao PÚBLICO neste início de manhã. A empresa previa o cancelamento de 173 voos nesta quarta-feira e, para já, não faz publicamente nenhum balanço do impacto da greve. Os primeiros números oficiais da TAP deverão ser apresentados por volta das 12h. A mesma fonte frisa que foram postas em marcha “medidas preventivas” para minimizar os efeitos da paralisação sobre a vida dos passageiros que tinham reservas para os voos cancelados. Essas medidas passaram por “oferecer alternativas em voos noutras horas ou datas”. Victor Ferreira

7h52 Os dados da CGTP às 7h dão nota de serviços de enfermagem com adesão à greve na ordem dos 100% em vários hospitais do país: Hospital do Fundão, Hospital de Peniche, Hospital Dona Estefânia, em lisboa, ou Hospital de Torres Novas. Várias serviços municipais de recolha de lixo paralisaram em absoluto esta noite. Os dados do início da manhã disponibilizados pela central sindical indicam também que as principais empresas de transportes públicos não estão a funcionar: TAP (90%), CP Cais Sodré e Rossio (100%), Transtejo (100%), Aeroporto Francisco Sá Carneiro no Porto (100%), CP Porto (100%). Rita Brandão Guerra

7h59 Em Vale de Mulatas, Setúbal, a fábrica da Pastelaria Vitória laborou durante toda a noite. "Temos de trabalhar para comer", justifica Isidro Teixeira, gerente da casa que fornece cerca de 300 cafés e outros estabelecimentos em Setúbal, Palmela e Pinhal Novo. "Não recebemos encomendas das escolas", lamenta denunciando que a greve tenciona atacar o ensino. Na fábrica da Pastelaria Vitória, venderam-se bolos quentes durante toda a madrugada. Até a polícia acorreu. Em emergência calórica, claro está. Merkel já regressou à Alemanha. Mas Berlim continua presente na vida dos setubalenses. Em formato de bolas. Ricardo Vilhena

7h55 A Atlantic Ferries tem os ferries "Rola do Mar" e "Pato Real" paralisados. Os navios, que costumam transportar carros entre as duas margens do rio Sado, estão atracados em Setúbal. No que aos passageiros diz respeito, o Público testemunhou a primeira de seis travessias de catamaran de serviços mínimos que a empresa tenciona realizar, à 1h. Está prevista ida para Tróia às 8h15 e 18h e travessia inversa para as 8h40 e 18h30. Ricardo Vilhena
 
7h40 Os primeiros dados da CGTP sobre esta paralisação, relativos às 2h desta madrugada de quarta-feira, levam o secretário-geral da central sindical, Arménio Carlos, a declarar que o arranque do protesto foi muito positivo. Dados enviados pela central para a imprensa indicam que, àquela hora, a paralisação era total na SESIBAL - Portos de Setubal e Sesimbra - Frota do Cerco, Câmara de Lisboa (Bombeiros Sapadores Chelas e recolha do lixo Olivais, com 98% de adesão), no Hospital da Covilhã, CP-Coimbra, Câmara de Évora (recolha do lixo), Câmara de Loulé (recolha do lixo), Lota de Olhão, ILMA - empresa de lacticínios no Funchal, Câmara do Funchal (limpeza urbana), Europack (Leiria), Câmara da Amadora (recolha do lixo), CP-Lisboa (Cais do Sodré, Rossio, e Santa Apolónia), Câmara de Alter do Chão (recolha do lixo), Câmara de Castelo de Vide (recolha do lixo), Câmara de Nisa (recolha do lixo), Hospital de São João Porto (enfermeiros), CP Porto, Câmara de Almada (recolha noctura), CP Barreiro, SMAS Loures (recolha do lixo), Câmara da Moita, do Seixal, de Setúbal e Câmara de Palmela (recolhas de lixo), CP Poceirão (CP Carga), Refer Praias do Sado, Hospital de Lamego (Enfermeiros, turno da noite) e Hospital de Tondela (Enfermeiros). Victor Ferreira

7h36 Os profissionais do Teatro do Elefante, em Setúbal, estão em greve. Este grupo, que se tem destacado pelas actividades para bebés e crianças, não tinha nenhum espectáculo previsto para hoje, mas está "solidário na luta com os restantes trabalhadores portugueses". Em mensagem publicada no Facebook, Fernando Casaca, director artístico do Teatro do Elefante, teme que a austeridade "ameace de morte a actividade cultural". Ricardo Vilhena
 
7h14 Em Setúbal há mobilização para a greve. Mas também há quem vá trabalhar para perder o medo de ficar sem trabalho. Na estação de comboios de Setúbal, junto à Praça do Brasil, há painéis de azulejos de que ilustram a "Dor" e a "Revolta". Há também uma placa onde se lê que as obras que a estação sofreu em 2010, "contribuem para a redução das disparidades económicas e sociais entre os cidadãos da União Europeia". Neste cenário, Pelé Semedo, 46 anos, na construção civil desde os 15, desesperado por ver que a supressão do comboio para o trabalho no Barreiro lhe há-de suprimir um dia de salário. "A austeridade não me deixa fazer greve", justifica. Vinha apanhar o último comboio do dia para fintar a greve de hoje. A greve fintou Pelé. Ricardo Vilhena
 
 

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