Declaração MIL
sobre a Situação na Guiné-Bissau
No rescaldo de mais
um grave incidente ocorrido na Guiné-Bissau, de que resultaram mais uma série
de trágicas mortes a acrescentar a tantas outras, alguns militares envolvidos
no mais recente Golpe de Estado que destituiu os representantes legítimos – porque
democraticamente eleitos – do nosso povo irmão guineense, envolveram, conforme
imagens que passaram em todas as nossas televisões, um prisioneiro (capitão
Pansau N’Tchama) com a bandeira portuguesa. O sentido da provocação é óbvio:
trata-se de insinuar que a resistência ao Golpe de Estado tem sido induzida por
Portugal.
Como se sabe, não
é, porém, isso o que se passa. De todo. O repúdio ao Golpe de Estado foi
expresso pela CPLP no seu conjunto e não apenas por Portugal. Nessa medida,
lamentado sobretudo as mortes ocorridas (isso é, de longe, o mais importante),
não podemos deixar também de repudiar mais esta tentativa de manipulação do
povo guineense.
Temos consciência
de que a situação na Guiné-Bissau é particularmente complexa. Como sempre
defendemos, ela só se resolverá pelo envolvimento firme de toda a Comunidade
Lusófona e no respeito pelas resoluções já tomadas pela ONU.
A Guiné-Bissau será
lusófona ou não será. Trabalhemos, pois, por isso. O MIL, a entidade que, em
todo o espaço da lusofonia, mais tem pugnado por esse Horizonte, não desistirá
de prosseguir este caminho – aquele que, a nosso ver, melhor garante um futuro
digno para o povo guineense e para todos os outros povos lusófonos. Nessa
medida, reiteramos a nossa Carta Aberta à CPLP sobre a Situação da
Guiné-Bissau:
Nós, Cidadãos
Lusófonos, estamos fartos:
- estamos fartos de
grandes proclamações retóricas, sem qualquer atitude consequente.
- estamos fartos de
ouvir que “a nossa pátria é a língua portuguesa”, sem que isso tenha depois
qualquer resultado.
- estamos fartos de
escutar que a convergência lusófona é o nosso grande desígnio estratégico, sem
que depois se dêem passos concretos nesse sentido.
Nós, Cidadãos
Lusófonos, sabemos bem que a CPLP só faz o que os Governos da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa a deixam fazer e, por isso, responsabilizamos
sobretudo os Governos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa pela
inoperância da CPLP, 15 anos após a criação. Muitos desses Governos parecem
continuar a considerar que a CPLP só serve para promover sessões de poesia –
nada contra: sempre houve na nossa língua excelente poetas. Mas a CPLP tem que
agir muito mais – não só no plano cultural, mas também no plano social,
económico e político.
A situação a que
chegou a Guiné-Bissau é um dos exemplos maiores dessa inoperância. Como o MIL
há vários anos alertou, teria sido necessário que a CPLP se tivesse envolvido
de modo muito mais firme, para além das regulares proclamações grandiloquentes
em prol da paz, proclamações tão grandiloquentes quanto inócuas. Como sempre
defendemos, exigia-se a constituição de uma FORÇA LUSÓFONA DE MANUTENÇÃO DE PAZ
para realmente pacificar a Guiné-Bissau e defender o povo irmão guineense dos
desmandos irresponsáveis e criminosos de muitas das suas autoridades políticas
e militares.
Dada a situação
extrema a que se chegou, só agora a CPLP parece acordar, ao propor “uma força
de interposição para a Guiné-Bissau, com mandato definido pelo Conselho de
Segurança das Nações Unidas, em articulação com a CEDEAO - Comunidade Económica
dos Países de África Ocidental, a União Africana e a União Europeia”, bem como
a “aplicação de sanções individualizadas” aos militares envolvidos neste último
golpe militar – nomeadamente, a “proibição de viagens, congelamento de bens e responsabilização
criminal”.
Obviamente, nós,
Cidadãos Lusófonas, concordamos com essas propostas. Apenas esperamos que não
cheguem demasiado tarde. E, sobretudo, que não fiquem por aí. O apoio à
Guiné-Bissau terá que se estender aos mais diversos planos – desde logo, ao da
Educação, da Saúde e da Economia. É mais do que tempo que o povo martirizado da
Guiné-Bissau possa viver em paz, com acesso à Educação e à Saúde e com uma
Economia que lhe permita viver dignamente.
Nós, Cidadãos
Lusófonos, exigimos isso. E por isso exortamos a CPLP a dar, finalmente, passos
concretos nesse sentido.
MIL: Movimento
Internacional Lusófono - www.movimentolusofono.org
Sem comentários:
Enviar um comentário