Domingos dos
Santos, Quibala – Jornal de Angola - foto Eduardo Pedro
O sonho de ser
empresário agrícola é hoje uma realidade para 17 jovens formados em Agronomia, que
no passado dia 30 de Novembro receberam as suas fazendas de 250 hectares, no
âmbito do Projecto Terra do Futuro. Localizado na comuna do Cariango, município
da Quibala, província do Kwanza-Sul, a iniciativa é financiada pelo Banco de
Desenvolvimento de Angola (BDA), num valor global de oito mil milhões de
kwanzas. Três anos depois do arranque do projecto, os beneficiários tornam-se,
assim, o segundo grupo de jovens a receber fazendas para produção agrícola,
depois de em Junho deste ano terem começado a produzir as primeiras nove
fazendas.
Os 17 jovens empresários agrícolas, que durante seis meses foram submetidos a uma formação intensiva no projecto Terra do Futuro receberam, além das fazendas, um crédito de mais de 50 milhões de kwanzas do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), para darem início à produção agrícola em grande escala, numa altura em que se prevê a primeira colheita para os meses de Setembro e Outubro do próximo ano.
Cudjenga João, 21 anos, um dos beneficiários, diz ser “um enorme desafio” assumir a responsabilidade de gerir e produzir uma fazenda de 250 hectares. “Daqui para a frente é trabalhar e abraçar o desafio que assumimos”, afirma Cudjenga João, estudante do segundo ano do curso de Agronomia no Instituto Superior Politécnico do Kwanza-Sul. O agora jovem empresário agrícola reconhece que cultivar produtos como milho, soja, feijão e arroz em grandes extensões de terra não é tarefa fácil, mas considera não ser uma “missão impossível”, principalmente para quem, desde muito cedo, decidiu que queria ser fazendeiro e produzir alimentos em grande escala.
“Já recebemos o financiamento do Banco de Desenvolvimento de Angola e acredito que até finais de Setembro ou Outubro do próximo ano já vamos ter uma produção para começar. Doravante é só trabalhar”, garante.
A felicidade de Domingas da Glória, 24 anos, por finalmente ter recebido a sua fazenda com o número 22, era contagiante até para quem assista ao sorteio das fazendas, que decorreu na sala de reuniões do projecto Terra do Futuro. Apesar de receber a fazenda, seis meses depois da formação no projecto, Domingas diz não ter ainda atingido o seu grande objectivo, que é a produção agrícola em grande escala para consumo interno.
“Estou no início da minha longa caminhada cujo objectivo é ser uma empresária agrícola de sucesso e que trabalha para assegurar a segurança alimentar no nosso país e reduzir substancialmente a importação”, revela a jovem, que diz estar preparada para uma nova vida no campo.
Ildefonso António, outro beneficiário, sublinha que aos novos fazendeiros só resta “trabalhar e trabalhar muito” para produzir alimentos, uma vez que o primeiro passo foi dado pelos promotores do Projecto Terra do Futuro que, com o apoio do Executivo, pretendem transformar jovens estudantes de agronomia em grandes gestores de fazendas agrícolas. “Esta é uma oportunidade que não podíamos deixar passar. Agarrámos a oportunidade e agora abraçamos o desafio. Um desafio que nos foi proposto e nós assumimos, por ser uma aposta nos jovens, não só dos promotores do projecto, mas também do Executivo”, afirma Ildefonso, que espera cumprir os prazos contratuais assumidos com o BDA, apesar dos problemas de seca que têm afectado o nosso país.
Investimento
O presidente do Conselho de Administração do BDA, Paixão Júnior, explica que já foram aprovados e investidos 4,6 mil milhões de kwanzas com o desenvolvimento do projecto Terra do Futuro, cujo valor global é de oito mil milhões de kwanzas.
O projecto prevê a criação de 60 fazendas, até o ano de de 2016, a serem geridas por jovens, estando neste momento em funcionamento 26, sendo que as primeiras nove já começaram com a produção do milho e feijão.
Durante sete anos, o projecto vai prestar consultoria técnica às fazendas até o reembolso do crédito concedido pelo BDA. Com as 60 fazendas em funcionamento, o projecto terá uma área de produção de 15 mil hectares, onde será possível produzir cerca de 100 toneladas de cereais por ano.
Por isso, Paixão Franco vê esses resultados com muita satisfação, pois em seu entender o projecto está a ser levado a cabo com muito método e profissionalismo. “Enquanto entidade financiadora do projecto, temos a certeza que ele está a ser muito bem realizado”, diz Paixão Franco, lembrando que os objectivos são a fixação dos jovens no campo, a produção de alimentos, a redução das importações e a criação de uma base produtiva para o país no sentido de garantir a auto-suficiência alimentar.
Por seu lado, o presidente do Conselho de Administração do Projecto Terra do Futuro, Manuel João, refere que o projecto já atingiu uma maturação de 50 por cento e conta hoje com uma área de 1.300 hectares cultivados com milho e feijão.
Seguro agrícola
No projecto Terra do Futuro há uma combinação da cultura irrigada com a de sequeiro. Numa primeira fase, foi dado início à de sequeiro, por ser aquela que é relativamente mais barata em termos de custos de investimentos, mas, segundo Paixão Franco, está prevista a colocação de pivôs de irrigação para hortícolas e leguminosas.
O uso da cultura de sequeiro tem, para já, levantado muitas inquietações, devido à seca que assola o país e que tem levado à perda de muitos investimentos no sector agrícola. Por isso, são muitos os que já clamam pela criação do seguro agrícola no país, no sentido de salvaguardar os investimentos.
Paixão Franco explica que se trata de uma matéria delicada e complexa, que o BDA está a tentar pôr na agenda do Executivo, para ser discutida e aprovada.
“O Executivo tem um papel importante a desempenhar neste assunto, as seguradoras também, mas é um trabalho que deve ser feito em conjunto com os produtores, entidades financiadoras, seguradoras e reguladoras do seguro”, diz o presidente do Conselho de Administração do BDA.
Paixão Franco acrescenta que em toda a parte do mundo, o seguro agrícola tem uma componente pública muito forte, por isso, defende que o Executivo tem de pôr na sua agenda essa matéria de extrema importância para o crescimento da nossa agricultura. “Neste momento, não tenho nenhuma informação sobre como está ser tratado este assunto a nível do Executivo, mas temos a certeza que os eguro agrícola será uma realidade no nosso país”.
Capacidade criadora
O governador do Kwanza-Sul, Eusébio de Brito Teixeira, considera o Projecto Terra do Futuro “a prova irrefutável e incomensurável” da capacidade criadora e empreendedora do sector privado, que diz ser um parceiro estratégico do Estado, na concretização dos grandes objectivos de fazer crescer e desenvolver a nossa economia, através de etapas bem definidas.
Essas etapas, explica, passam, primeiro, pela produção de produtos alimentares para reduzir significativamente a nossa dependência das importações. Em segundo lugar, por produzir o suficiente para a cobertura das nossas necessidades internas alimentares e, em terceiro, para criar excedentes para esses produtos serem exportados para outros mercados.
Um outro grande objectivo, que muito agradou ao governador, é a mobilização da juventude, sobretudo aquela que terminou ou está a terminar a sua formação superior no ramo agrícola e que por razões diversas não encontra emprego no mercado de trabalho. “Neste projecto abrem-se as portas para a construção dos seus anseios, tanto profissionais como económicos. Aqui, aprendem, trabalham e tornam-se, num exercício simples e prático, futuros empresários agrícolas, que esperam vir a ter um grande sucesso e felicidade”.
Para Eusébio de Brito Teixeira, a correcta gestão dos solos e da água, dos equipamentos específicos, das sementes, da gestão dos custos de produção, das tarefas produtivas com a finalidade de obter lucros sólidos para fazer o retorno dos financiamentos sem sobressaltos, vai criar excelentes capacidades para novos investimentos.
6 comentários:
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