... para planear ataques e assassiná-lo
Fernando Bismarque –
O País
“O país” visitou a
inacessível base militar da Renamo em Gorongosa.“Não podemos falar de uma democracia própria,
sem que tenhamos uma administração pública e uma política de defesa e segurança
isentas de influências da Frelimo”, defende Afonso Dhlakama.
Dois meses após o
líder da Renamo, Afonso Dhlakama, ter abandonado a sua residência em Nampula e
afixar-se na sua antiga base, no interior do posto administrativo de Vunduzi,
em Gorongosa, concretamente na região de Sanjundjira, a equipa de reportagem do
matutino “O País” deslocou-se à inacessível base para ver de perto os contornos
e o dia-a-dia de Afonso Dhlakama.
É um local de
difícil acesso devido ao rigor imposto pelos homens que garantem a protecção do
seu líder. Assim, por várias vezes, a viatura em que seguíamos foi abordada
pelos guardas pessoais de Afonso Dhlakama e fomos submetidos a um
questionamento típico de gente que não quer intrusos no local.
Durante um percurso
de cerca de 5 quilómetros, a partir da sede do posto, vimos acampamentos
militares dos seus comandos, idos de Sofala, Manica e Nampula. Chegados ao local,
permanecemos cerca de duas horas a aguardar ordens, que sairiam de um
escritório construído de estacas e capim, onde éramos aguardados pelo líder da
“Perdiz”.
Eis a síntese duma
entrevista de 45 minutos que o “O País” fez ao líder da Renamo:
Dois meses depois
de se ter instalado aqui em Sanjundjira, como se sente?
Estou satisfeito,
porque já conhecia este sítio desde o tempo da guerra e porque também vim cá
voluntariamente à procura desta democracia que é esperada por todos. Sinto-me
muito bem porque consegui colocar energia e televisão e vejo aqui as notícias,
acompanho os debates, onde vários académicos dizem, publicamente, que as
reivindicações de Dhlakama são justas. isso significa que não sou maluco, e sim
estratega. Significa também que já não estou a exigir apenas aquilo que não foi
implementado em termos partidários, estou a exigir o bem-estar de todo o povo
moçambicano. deixei de ser apenas o líder da Renamo, passei a ser de todo o
povo sofredor. Por isso, é o que me motiva a continuar esta tarefa.
Está satisfeito com
o rumo das negociações entre o governo e a Renamo?
Ainda não tive um
relatório formal, recebi um telefonema do secretário-geral que lidera a
delegação e informou-me que teremos a segunda ronda, outros dados vi na
imprensa. Entendi que para a Frelimo há um susto, nós não estamos a exigir para
desenterrar o Acordo Geral de Roma, estamos a falar da lei eleitoral para
evitar fraudes eleitorais. Falei recentemente com a chefe da bancada da Renamo
na Assembleia da República, disse que as consertações havidas entre as chefias
das bancadas em torno do pacote eleitoral falharam. A intenção da Frelimo é
levar a proposta à votação. A Frelimo vai querer manter como está, para
continuar a manipular os resultados eleitorais. Por isso, recomendei à chefe da
bancada a abandonar, e nós vamos tratar do pacote eleitoral a partir de
Gorongosa.
Por que o senhor
presidente está aqui na base?
É aqui onde o
fundador da Renamo morreu. a maneira de chorar e de se lembrar dele é
mantendo-se aqui e, acima de tudo, vincar que não morreu em vão e o objectivo
vai ser concretizado. é isto que motiva os homens que aqui estão. Eu não estou
a fazer turismo aqui, estou a trabalhar para meu país e para todos aqueles que
querem ver um estado de direito, uma administração pública isenta de opções
partidárias. Hoje mesmo, para ser um chefe de escalão superior, é preciso ser
da Frelimo, nunca algo semelhante, mesmo na China comunista, mesmo na antiga
União Soviética era assim. O povo está nacionalizado, eu quero desnacionalizar.
Não podemos falar de uma democracia própria sem que tenhamos uma administração
pública e uma política de defesa e segurança isentas de influências da Frelimo.
As políticas de defesa e segurança são da Frelimo, um comportamento que rejeita
tudo que combinámos em Roma.
As suas ameaças não
são levadas a sério, é quase um disco riscado, porque nunca produziram
resultados. esta não é mais uma encenação?
Respeito a opinião
das pessoas. O Dhlakama esperou e demonstrou em 20 anos. Desde as eleições de
1994 até 2009, sempre ameaçámos em não reconhecer e de fazer confusão, mas
sempre recuamos, eu dizia às populações e aos militantes: “vamos ver se a
Frelimo vai recuar”. As pessoas que dizem que Dhlakama ameaça e recua têm
razão. confesso que fazia por bem, se eu não tivesse recuado ao logo destes
anos, hoje teríamos um país como Somália ou Madagáscar. Se chegamos até aqui
deveu-se à minha paciência e não da Renamo. Quero chamar atenção às pessoas:
historicamente completámos 20 anos de uma paz camuflada e de sacrifício, este
foi um ciclo. Abrimos um novo ciclo, isto é uma outra forma de estar dos
membros da Renamo.
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