Henrique Monteiro –
Expresso, opinião, em Blogues
Quando se falou na
privatização da RTP, muita gente aplaudiu, convencida de que se iria poupar
muito dinheiro ao Estado. Pois bem, um serviço público de televisão pode bem
viver dos quase 170 milhões de taxas pagas anualmente sem qualquer contributo
do Orçamento. E assim deveria ser.
A sua passagem para
mãos privadas implicaria uma de duas coisas: ou acabar com qualquer serviço
público na televisão (modelo desconhecido mesmo nos EUA) ou compensar quem o
fizesse, gastando mais ou menos o mesmo dinheiro.
A entrega da RTP a
um privado arruína toda a comunicação social. Alguns veem nisto uma guerra
comercial simples. Mas não é. São todos prejudicados, incluindo rádios e
jornais, porque o mercado publicitário que já está a cair mais de 20 por cento
ao ano teria mais um fortíssimo competidor.
Acresce que a
grande divisão nos grupos de media coloca de um lado aqueles que pretendem
ganhar a vida através dos seus projetos de comunicação social, e do outro, os
que utilizam a comunicação social para potenciar negócios estranhos ao meio e
interesses que nada têm a ver com o jornalismo e a comunicação em si.
É por isso que o
mais inacreditável, o pior dos mundos, está a acontecer com a RTP caso se confirmem
as mais recentes notícias. Se o Governo vender 49% da RTP ficamos com uma televisão
nominalmente pública gerida por privados. Privados esses que, a avaliar pelos
que se mostraram interessados, não têm nem a menor credibilidade no mundo da
comunicação social, nem cumprem os requisitos legais que impõem o conhecimento
dos seus proprietários (ao contrário do que um comunicado dos próprios, a
Newshold, pretendia).
Para avaliar a
isenção da Newshold, faça-se o seguinte exercício: tente-se encontrar a notícia
da abertura do inquérito a dirigentes angolanos pelo DCIAP no semanário 'Sol',
propriedade daquele grupo. Pois bem, o mais que encontram - no mesmo jornal tão
lesto a destacar uma investigação a Medina Carreira - é um comunicado oficial,
três dias depois de a notícia ser conhecida. Pormenor interessante - enquanto
todos os outros órgãos de comunicação leram esse comunicado como a confirmação
de que tinha sido aberto um inquérito a altos dirigentes angolanos (o
vice-Presidente e um ministro, entre eles), o cuidadoso 'Sol' vislumbrou apenas
que os mesmos dirigentes não são arguidos.
Em resumo, e como
já afirmei na SIC - podemos estar a caminho de retirar o controlo da RTP ao
Estado português para o entregar ao Estado angolano... mas como 51% da propriedade
ainda fica na posse de Portugal, adivinhem quem vai pagar a taxa?
É inacreditável,
não é? Até a mim me custa a crer. Veremos...
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