O povo brasileiro,
ultimamente, de forma avassaladora, tem tomado conhecimento, cada vez com maior
assiduidade, de fatos e situações que, por sua sordidez, confirmam a existência
de destacados e numerosos focos de corrupção incrustados na estrutura estatal.
Há algum tempo a
imprensa tem dado destaque a algumas revelações verdadeiramente escandalosas
sobre o envolvimento de políticos e autoridades governamentais em atos
desairosos e denunciado o enriquecimento ilícito de maus patriotas no exercício
da função pública.
Dentre os casos
mais recentes e mais retumbantes, destacam-se os escândalos envolvendo
políticos de diversos níveis, mancomunados com empresários inescrupulosos.
Se adicionarmos a
estes lamentáveis casos as denúncias e investigações que envolvem, em
diferentes oportunidades, funcionários do setor administrativo, inclusive
colaboradores diretos da Presidência da República, chega-se à conclusão de que
a maré de anomalias, torpezas e suspeitas está profundamente enraizada nos três
poderes do Estado.
É correto que
muitos desses deploráveis acontecimentos estão sendo investigados pela Justiça,
numa pálida tentativa de dar conta à opinião pública do que tem sido realizado
para coibir atos desta natureza. Entretanto, é importante salientar o efeito
desmoralizador que tal acúmulo de irregularidades e canalhices produzem no
ânimo coletivo.
É muito difícil
para a opinião pública assimilar o caudal de informações deprimentes que
golpeiam, diariamente, a sensibilidade dos cidadãos, sem que seja experimentado
um profundo desalento moral e observado, com um fundo de incredulidade, o
funcionamento das instituições sobre as quais repousa a ordem republicana.
Ante esta dura
realidade é imprescindível criar-se, o quanto antes, as condições que permitam
reconstruir o prestígio da Organização Estatal, hoje fortemente afetado pela
sordidez desses maus brasileiros.
Uma sociedade que
não confia em suas instituições dificilmente poderá caminhar com passo firme na
direção de metas perduráveis de progresso, justiça e bem-estar. A
honorabilidade dos homens públicos, qualquer que seja o nível e a natureza de
sua função, é um oxigênio insubstituível para o desenvolvimento da capacidade
criativa do corpo social, que dificilmente mobilizará, com profundidade, suas
energias espirituais e materiais, se considerar que o fruto de seu esforço será
aproveitado, desavergonhadamente, pela voracidade, ambição, vileza e falta de
escrúpulos de uns poucos.
À imprensa lhe
corresponde uma missão fundamental nesta empreitada de reconstrução nacional.
Na maioria das vezes tem sido a mídia o instrumento de denúncia de manejos
ilícitos por quem exerce o poder (seja de quem tenha chegado à função pública
pelo voto popular ou de quem desempenha cargo de confiança em virtude de
nomeação). É alarmante imaginar quantos focos de corrupção teriam permanecido
ocultos se os profissionais de imprensa não lhes houvesse focado a luz. Daí
ressalta-se o valor estratégico da liberdade de expressão como pilar da ordem
constitucional.
Frente à onda de
seguidos fatos e focos de corrupção que ameaçam erodir os alicerces do Estado,
toda a sociedade brasileira deve pôr-se de pé, para exigir que os atos ilícitos
identificados e denunciados pela imprensa – desde que devidamente comprovados
–, sejam punidos exemplarmente, e que os controles do sistema democrático
funcionem com eficácia e em plenitude, na salvaguarda da transparência moral,
que é a virtude suprema da República.
**Até a presente
data, este artigo também foi publicado nas revistas do Clube Militar e do Clube
de Aeronáutica, e nos seguintes jornais: Monitor Mercantil,Jornal do
Brasil, Estado de Minas e Tribuna da Imprensa.
*Manuel Cambeses
Júnior é coronel-aviador, membro emérito do Instituto de Geografia e
História Militar do Brasil, membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil, conselheiro do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica e
conferencista especial da Escola Superior de Guerra.
Sem comentários:
Enviar um comentário