Urariano Mota, Recife*
- Direto da Redação
A última
experiência com os gringos made in USA foi um tanto desconfortável, para o
colunista. No consulado, quando fui portador do abaixo-assinado dirigido ao
presidente Obama, um documento que reivindicava liberdade para os cubanos
presos nos Estados Unidos, o tratamento foi um tanto mal-educado. Ali,
entreguei o texto em pé, varrido por câmeras de todos os lados, sem cafezinho,
sem água, sem um bom-dia, enquanto os companheiros, vereadores, sociólogos,
estudantes, ficaram nos degraus de acesso, do lado de fora. Pior, este nativo
bem que poderia ter saboreado balas vindas de dois policiais com a mão na
pistola, que defendiam a funcionária contra o terrorista.
Mas agora o site da
Caixa Econômica Federal vem em sentido oposto, porque ensina como os brasileiros
devem tratar os norte-americanos nos Estados Unidos. Ah, bom. Meus raros
amigos, esta coluna já vem pronta. Se não creem, acompanhem por favor as
preciosas recomendações de Etiqueta no site da Caixa. Os comentários são do
colunista, as informações vêm de Clique aqui :
“Em situações
formais, norte-americanos costumam se cumprimentar com um aperto de mãos firme
e rápido ou com um aceno de cabeça, acompanhado de uma saudação verbal”. Hi,
rai, será isso?
“Nos EUA, procure
ficar a uma distância mínima de 33 cm (a distância aproximada de um braço
esticado) quando conversar com outras pessoas”. Aí é bronca, como os
mal-educados nos dizemos no Recife. 33 cm como tamanho de um braço?! Das duas
uma: ou o redator da etiqueta para brasileiros entre gringos errou a unidade,
ou a parte do corpo humano. Mas não exageremos. Adiante.
“Se você estiver
num grupo que está conversando em inglês, não é educado falar em outra língua
mais do que duas ou três frases”. Magnífico. Nos Estados Unidos fale
inglês, sempre, não importa em que circunstância. E se alguma necessidade
interna houver, de fala entre seus semelhantes nativos, comporte-se: faça como
eles fazem em terras do Brasil: fale em inglês, sempre.
“Mantenha suas
roupas sempre limpas e arrumadas, sejam elas formais ou informais. O mesmo vale
para os sapatos”. Como se sabe, os brasileiros somos desleixados, sujos,
mal-amanhados, deselegantes. Nesse particular, não precisamos copiar os
norte-americanos que chegam em hordas de turistas para o Brasil: sem banho, de
sandálias, bermudões, em fila indiana, em marcha que anda como se tivessem
calos e caroços nos pés. Mas como pinguins graciosos, pois são norte-americanos.
“Nos EUA, fazer
contato visual com o garçom, com um aceno da cabeça, normalmente é suficiente
para chamar sua atenção. Em ambientes muito cheios, pode-se
chamar o garçom educadamente com um ‘excuse me, waiter’ ou erguer o dedo indicador
com um aceno de cabeça”. O genial dessas recomendações
para os mal-educados, isso quer dizer, nós, é que elas preveem
todas as situações, se não as reais, pelo menos as imaginárias. Os garçons nos
Estados Unidos atendem às mil maravilhas todo cucaracha. Basta um dedo
indicador e eles vêm sorridentes e ágeis. Nunca o médio, do dedo, que esse é o
que nos dão, por falta de coordenação motora, talvez.
“Ao ser convidado
para um evento na casa de alguém, é de bom tom perguntar ao anfitrião se ele
deseja que você leve alguma coisa. Se ele disser que não, leve assim mesmo um
vinho ou algum doce para a sobremesa.
Se o evento for uma
festa de comemoração de aniversário, aposentadoria ou formatura, mesmo que lhe
digam que não é necessário dar presentes, leve uma lembrancinha acompanhada de
um cartão.
Quando visitar uma
casa pela primeira vez, leve um presente para o anfitrião – flores para a mesa
ou uma garrafa de vinho são boas escolhas”.
Ou seja: leve
sempre um presente. Nunca se esqueça. Mas.
“Não prolongue além
da conta a sua estada – a não ser que o anfitrião peça”.
Antes, o gringo
dizia não e devíamos entender sim. Agora, dizem sim e devemos entender sim.
Como saber quando os gringos falam a verdade?
Na verdade, a Caixa
devia escrever um Manuel de como os norte-americanos deviam tratar os
brasileiros, porque a economia deles vai mal-educada. Ou pelo menos, como eles
devem se comportar quando invadem as praias do Brasil e veem em cada mulher uma
prostituta, e em cada brasileiro um cafetão.
Enquanto a nova
Etiqueta não vem, pela que está no ar só resta uma conclusão: brasileiros
selvagens, não visitem os Estados Unidos. A não ser que desejem viver sob a
camisa de ferro de um desatualizado Manual de Etiqueta.
*É pernambucano,
jornalista e autor de "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias
de Soledad Barret, mulher do cabo Anselmo, executada pela equipe do Delegado
Fleury com o auxílio de Anselmo.
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