Desapontamento com
o "El Dorado" angolano e tensões na República Centro-Africana foram
temas que mereceram a atenção dos jornais germânicos na primeira semana de
2013.
"Se há uma
cidade que cresce exponencialmente, essa cidade é Luanda, em Angola. Esse crescimento
suscita esperança na antiga potencia colonial Portugal", escreve o Süddeutsche
Zeitung, num longo artigo dedicado aos "refugiados económicos"
europeus em Angola.
"Em Angola a
paz dura há uma década e desde o final do conflito em 2002 que as exportações
de petróleo e diamantes contribuem para um crescimento económico que ultrapassa
a fasquia dos 20 por cento anuais". Apesar disso, salienta o jornal,
Angola é ainda um dos países mais pobres do mundo.
Este
"capitalismo brutal" é criticado por Rui Filomeno de Sá, que integrou
o comité central do MPLA durante a luta pela independência. Apesar de continuar
militante do partido no poder não morre de amores por José Eduardo dos Santos.
"Eu sonhava na altura com uma social-democracia de modelo escandinavo. Com
escolas e hospitais gratuitos para todos", afirma Rui Filomeno de Sá,
citado pelo Süddeutsche Zeitung.
O artigo prossegue
falando dos mais de cem mil portugueses que emigraram para a antiga colónia e
em vez do esperado "el Dorado" encontram ressentimentos e
dificuldades. A procura de emprego é de tal forma elevada que, nota o Süddeutsche
Zeitung, "nos últimos dois ou três anos os salários pagos aos engenheiros
diminuíram para metade".
Mais uma rebelião
na República Centro-Africana
O coração de África
fervilha escreve o Tagesspiegel. Depois do reacender da guerra civil na
República Democrática do Congo, a vizinha República Centro-Africana é palco de
uma rebelião cuja principal vítima é a população. Há vários anos que o governo
centroafricano é confrontado com insurreições e fora de Bangui, a capital, não
tem quase influência nenhuma. O jornal sublinha que François Bozizé "foi
bem acolhido pela população após o seu golpe de Estado, em 2003, contra
Patassé. Mas rapidamente o velho esquema do clientelismo étnico se voltou a
instalar em Bangui". Apesar de Bozizé ter ganho as eleições por uma larga
margem em 2005 e 2011, as tensões no país nunca se atenuaram.
Para o Süddeutsche
Zeitung o rápido avanço dos rebeldes, em tão pouco tempo, é um indicio da
falta de equipamento e de moral nas Forças Armadas centroafricanas. A crise é
por outro lado, sublinha o diário, reveladora da fragilidade do país, um dos
menos desenvolvidos do mundo e quese situa numa região extramente instável:
como vizinhos têm o Sudão, o Sudão do Sul e a República Democrática do Congo.
O die
tageszeitung recorda que uma intervenção oficial do presidente congolês
Joseph Kabila a favor de Bozizé desperta memórias sombrias. "Há dez anos
as tropas congolesas estiveram em Bangui para proteger o então presidente
Ange-Félix Patassé de uma rebelião encabeçada por François Bozizé". As
atrocidades cometidas por esses soldados congoleses levaram ao Tribunal Penal
Internacional o antigo rebelde congolês e mais tarde vice-presidente
Jean-Pierre Bemba.
As imagens de
África
A República
Centro-Africana não é o único país em África a assistir a uma rebelião. É
precisamente essa linha de pensamento de uma longa reflexão publicada pelo die
tageszeitung." A imagem tradicional de África como continente assolado por
crises e catástrofes foi rapidamente substituída, na percepção internacional,
por uma nova imagem, a de África como um continente de esperanças e
oportunidades. Antes eram os refugiados famintos que faziam as manchetes, hoje
são as taxas de crescimento recorde e as exportações". Na verdade, escreve
o jornal, não há contradição entre as duas imagens. Algumas regiões de África
vivem um acelerado crescimento económico, outras um boom de conflitos. "Os
actores são por vezes idênticos e os dois fenómenos estão mais profundamente
ligados do que aquilo que os afro-pessimistas e os afro-optimistas querem admitir".
Quanto mais África se desenvolve, maiores são os ganhos potenciais e também
maiores os meios disponíveis para disputar pelas armas o controlo dos mesmos,
conclui.
Autora: Helena
Ferro de Gouveia - Edição: António Rocha
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