segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

ANGOLA E REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA EM DESTAQUE NA IMPRENSA ALEMÃ





Desapontamento com o "El Dorado" angolano e tensões na República Centro-Africana foram temas que mereceram a atenção dos jornais germânicos na primeira semana de 2013.

"Se há uma cidade que cresce exponencialmente, essa cidade é Luanda, em Angola. Esse crescimento suscita esperança na antiga potencia colonial Portugal", escreve o Süddeutsche Zeitung, num longo artigo dedicado aos "refugiados económicos" europeus em Angola.

"Em Angola a paz dura há uma década e desde o final do conflito em 2002 que as exportações de petróleo e diamantes contribuem para um crescimento económico que ultrapassa a fasquia dos 20 por cento anuais". Apesar disso, salienta o jornal, Angola é ainda um dos países mais pobres do mundo.

Este "capitalismo brutal" é criticado por Rui Filomeno de Sá, que integrou o comité central do MPLA durante a luta pela independência. Apesar de continuar militante do partido no poder não morre de amores por José Eduardo dos Santos. "Eu sonhava na altura com uma social-democracia de modelo escandinavo. Com escolas e hospitais gratuitos para todos", afirma Rui Filomeno de Sá, citado pelo Süddeutsche Zeitung.

O artigo prossegue falando dos mais de cem mil portugueses que emigraram para a antiga colónia e em vez do esperado "el Dorado" encontram ressentimentos e dificuldades. A procura de emprego é de tal forma elevada que, nota o Süddeutsche Zeitung, "nos últimos dois ou três anos os salários pagos aos engenheiros diminuíram para metade".

Mais uma rebelião na República Centro-Africana

O coração de África fervilha escreve o Tagesspiegel. Depois do reacender da guerra civil na República Democrática do Congo, a vizinha República Centro-Africana é palco de uma rebelião cuja principal vítima é a população. Há vários anos que o governo centroafricano é confrontado com insurreições e fora de Bangui, a capital, não tem quase influência nenhuma. O jornal sublinha que François Bozizé "foi bem acolhido pela população após o seu golpe de Estado, em 2003, contra Patassé. Mas rapidamente o velho esquema do clientelismo étnico se voltou a instalar em Bangui". Apesar de Bozizé ter ganho as eleições por uma larga margem em 2005 e 2011, as tensões no país nunca se atenuaram.

Para o Süddeutsche Zeitung o rápido avanço dos rebeldes, em tão pouco tempo, é um indicio da falta de equipamento e de moral nas Forças Armadas centroafricanas. A crise é por outro lado, sublinha o diário, reveladora da fragilidade do país, um dos menos desenvolvidos do mundo e quese situa numa região extramente instável: como vizinhos têm o Sudão, o Sudão do Sul e a República Democrática do Congo.

O die tageszeitung recorda que uma intervenção oficial do presidente congolês Joseph Kabila a favor de Bozizé desperta memórias sombrias. "Há dez anos as tropas congolesas estiveram em Bangui para proteger o então presidente Ange-Félix Patassé de uma rebelião encabeçada por François Bozizé". As atrocidades cometidas por esses soldados congoleses levaram ao Tribunal Penal Internacional o antigo rebelde congolês e mais tarde vice-presidente Jean-Pierre Bemba.

As imagens de África

A República Centro-Africana não é o único país em África a assistir a uma rebelião. É precisamente essa linha de pensamento de uma longa reflexão publicada pelo die tageszeitung." A imagem tradicional de África como continente assolado por crises e catástrofes foi rapidamente substituída, na percepção internacional, por uma nova imagem, a de África como um continente de esperanças e oportunidades. Antes eram os refugiados famintos que faziam as manchetes, hoje são as taxas de crescimento recorde e as exportações". Na verdade, escreve o jornal, não há contradição entre as duas imagens. Algumas regiões de África vivem um acelerado crescimento económico, outras um boom de conflitos. "Os actores são por vezes idênticos e os dois fenómenos estão mais profundamente ligados do que aquilo que os afro-pessimistas e os afro-optimistas querem admitir". Quanto mais África se desenvolve, maiores são os ganhos potenciais e também maiores os meios disponíveis para disputar pelas armas o controlo dos mesmos, conclui.

Autora: Helena Ferro de Gouveia - Edição: António Rocha

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