Emir Sader – Carta Maior,
em Blog do Emir
A direita
latino-americana atual é o agregado de vários segmentos. Um primeiro, é a
direita tradicional, que contém os jornais e revistas ligados à oligarquia, que
estiveram ligados ao velho modelo primário exportador, apoiaram as ditaduras
militares.
Se valeram da reinterpretação do liberalismo por aqui, favoráveis ao livre
comércio e contra qualquer protecionismo. São saudosistas, escrevem editorias
rançosos, expressam ódio de classe aberto aos sindicatos, aos partidos de
esquerda, a Cuba, Venezuela, Bolívia.
Exaltam a mídia conservadora como bastiões da liberdade, ameaçados pelos
“populismos” reinantes. Hoje manifestam melancolia e pessimismo sobre o estado
atual do mundo e, em particular, da América Latina e de seus países em
particular. Adoram os EUA de quem exigem sempre a dureza da época da “guerra
fria”. Sua cantilena preferida é a do risco que a liberdade e a democracia
correm.
O bloco neoliberal nos vários países no continente foi conduzido por outras
forças, que incorporaram esse ramos oligárquico da direita. Foram forças
originárias da social democracia e do nacionalismo – Ação Democrática na
Venezuela, PRI no México, o peronismo dos anos 1990 na Argentina, o PSDB no
Brasil, entre outros – os agentes do modelo neoliberal no continente.
Seguindo pelo caminho dos socialistas franceses e espanhóis, e dos trabalhistas
ingleses, essas forças organizaram um novo bloco de direita ou simplesmente
avançaram sós na condução de governos neoliberais.
Essas duas vertentes contaram com o monopólio oligárquico dos meios de
comunicação, numa fase em que estes ocuparam o lugar central na construção dos
consensos políticos e ideológicos.
Diante dos governos pós-neoliberais, a direita se viu fora do governo, com
muitas dificuldades para retornar. Esses governos ocuparam um amplo espaço do
campo politico, não deixando espaço para outro projeto com potencial
hegemônico. O que fazer diante do inegável sucesso das politicas sociais desses
governos?
Manter a concepção da direita de que os recursos utilizados nessas politicas
são gastos, via de regra considerados “excessivos”, responsáveis pelos
desequilíbrios das contas publicas, além de mal administrados – para o que se
centra na denuncia de supostas irregularidades e/ou ineficiência na sua
aplicação.
Diante das alianças que priorizam os processos de integração regional, a
direita centra suas criticas na situação política e econômica dos países
latino-americanos, tentando provar que a aliança com eles está permanentemente
ameaçada.
Não podem manter – pelo menos desde o começo da crise econômica no centro do
sistema – sua preferência pela aliança subordinada com os EUA, a Europa e o
Japão. Tentam então desqualificar projetos como o Mercosul, Unasul, o Banco do
Sul, a Celac, o Conselho Sul-americano de Defesa, sem grande efetividade.
Da mesma forma a direita ficou neutralizada na sua ojeriza ao Estado,
especialmente desde o começo da atual crise econômica internacional, quando
todos pediram ações estatais para minorar seus efeitos. Desviam então suas
críticas ao Estado, concentrando em supostos casos de corrupção, que teriam o
Estado como cenário, assim como supostas ineficiências dos programas
governamentais, que seriam melhor administrados se estivessem centrados em
empresas privadas e no mercado.
Com essas debilidades, a direita não consegue se recompor das derrotas que
tiveram em países como a Venezuela, o Brasil, a Argentina, o Uruguai, a Bolívia
e o Equador. Estes governos se elegeram e se reelegeram, encontrando-se em
condições favoráveis para cumprir sua primeira década e avançar para a segunda.
Incapacitada de obter maiorias eleitorais, a direita centra sua ação nos
grandes meios de comunicação, frente à debilidade confessa dos seus partidos, e
busca articular novas modalidades golpistas, contando com a velha mídia e com o
Judiciário – quando ainda o controla.
Os governos progressistas latino-americanos têm tudo para fortalecer-se diante
de uma direita como essa. Basta que zelem, antes de tudo, pela eficácia na
aplicação das suas políticas sociais, pelo seu fortalecimento, expansão e
criatividade. Essa é sua base fundamental de apoio e legitimidade, que lhes dá
as maiorias e a legitimidade que lhes permitem seguir triunfando.
E, ao mesmo tempo, avançar nas políticas de integração regional – em particular
o novo Mercosul e o Banco do Sul –, que é o permite a esses países resistir em
melhores condições aos influxos recessivos do centro do capitalismo e superar
obstáculos internos para construir um modelo alternativo de política econômica.
Em terceiro lugar, fazer as reformas do Estado e do sistema político, para
democratizar as instâncias de poder, incluindo o sistema eleitoral, o
Judiciário e os meios de comunicação.
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