Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
Realmente Passos
Coelho não aumentou impostos. Optou por ir directamente ao ganha--pão de cada
uma das pessoas que trabalham para o Estado ou daquelas que descontaram uma
vida inteira e têm reformas ou pensões.
Num discurso
deficiente na substância e confuso na forma, o primeiro-ministro embrulhou a
essência das coisas numa série de trapalhadas quase sem nexo. Os factos são os
cortes em salários públicos, pensões e despesas sociais, pois é dessas que se
trata nos anunciados cortes de 10% nos ministérios. São cortes e mais cortes
para fazer frente ao que chamou emergência nacional, ou seja, o estado a
que o país chegou pela sua mão e pela de Gaspar. São 4,8 mil milhões de euros
que Passos fingiu querer discutir, mas vai impor sem diálogo, ao longo dos
próximos anos e no Orçamento Rectificativo.
O que mais aflige é
o ataque a reformados e pensionistas. É um modelo insensível, impiedoso e
injusto. Afecta os mais indefesos, os que já contribuíram e não têm expectativa
de melhorar a sua vida. É certo que protege mais as pensões mais baixas, mas a
regra das pensões é corresponderem a descontos.
Noutros campos o
discurso foi oco. Sobre o desemprego nada. Sobre retoma quase nada. Sobre PPP e
swaps nada de nada. É lamentável e triste.
O discurso de
Passos foi a concretização de medidas já genericamente inseridas no Documento
de Estratégia Orçamental (DEO), que as embrulha de miserabilismo num preâmbulo
vergonhoso, que mais parece escrito por um alemão de direita ou por um daqueles
fanáticos chamados “verdadeiros finlandeses”.
Sem o menor pudor
ou respeito pelos portugueses e pelos sacrifícios que têm feito desde 2008, o
documento arrasa tudo, fala em atavismos, e no fundo tem subjacente um
preconceito antipatriótico, porque não fala da agiotagem, das vigarices e das
roubalheiras montadas por consórcios internacionais para usarem deliberadamente
os países do Sul.
Depois desse
primeiro enquadramento, patético e pateta, o DEO, entusiasma-se
com as medidas que o actual governo tem levado a efeito desde 2011,
tecendo-lhes loas e elogios tão ditirâmbicos como absurdos. Absurdos porque
estão assentes em pressupostos errados e objectivos inatingíveis, mas sobretudo
porque o documento ignora olimpicamente uma realidade social que está muito
próxima da ruptura. E ignora também que, desde a chegada catastrófica de
Vítor Gaspar, todos, mas mesmo todos, os indicadores se têm degradado com as
sucessivas medidas de austeridade recessivas. Ainda ontem a União Europeia se
mostrava mais uma vez pessimista relativamente a Portugal. Foi outro outlook
negativo a juntar a muitos.
Quem tenha lido o
DEO não ficou minimamente surpreendido com as medidas que Passos Coelho
anunciou ao cair da noite de ontem, porque elas não passam de mais uma decorrência
de uma visão que “miserabiliza” o país.
O lado manhoso da
comunicação
Sexta-feira, 20 horas. Fim-de-semana já em curso. Toca de apresentar as más notícias ao pagode, que está mais virado para o repouso. Ainda por cima o futebol está ao rubro. Da última vez foi meia hora antes de um jogo. Não há jornais de economia e os outros têm pouco tempo para a análise. Os mercados estão fechados. Portas desapareceu outra vez. Artimanhas.
Sexta-feira, 20 horas. Fim-de-semana já em curso. Toca de apresentar as más notícias ao pagode, que está mais virado para o repouso. Ainda por cima o futebol está ao rubro. Da última vez foi meia hora antes de um jogo. Não há jornais de economia e os outros têm pouco tempo para a análise. Os mercados estão fechados. Portas desapareceu outra vez. Artimanhas.
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