Ana Suspiro e
António Ribeiro Ferreira – Jornal i – imagem We Have Kaos in the Garden
Primeiro-ministro
disse à noite que vai conciliar austeridade com crescimento. Comissão Europeia
disse de manhã que recessão vai ser pior com os cortes do governo
Alguém está errado.
De manhã, a Comissão Europeia avisou que vai rever em baixa as previsões
económicas de Portugal depois de conhecidos os cortes na despesa do Estado em
2013 e nos anos seguintes (ver páginas 8 e 9). À noite, na comunicação ao país,
Passos Coelho defendeu que esta segunda fase da reforma do Estado vai acontecer
em simultâneo com o crescimento da economia.
Num discurso longo,
de 28 minutos, o primeiro-ministro justificou os cortes de 4800 milhões até
2015 com um ultimato da troika: sem estes cortes, que compensem os chumbos do
Tribunal Constitucional a quatro normas do Orçamento do Estado, e as propostas
de redução da despesa pública, estruturais e permanentes de médio e longo
prazo, a sétima avaliação não seria fechada, a tranche de 2 mil milhões não
seria paga e o prolongamento das maturidades por mais sete anos para o pagamento
da dívida aos fundos europeus seria chumbado. Mais do que isso. Portugal
entrava em incumprimento e arriscava um segundo resgate e mesmo a saída do
euro.
Passos Coelho,
depois de enumerar o rol de medidas de austeridade, voltou ao crescimento, elogiou
o memorando apresentado pelo ministro da Economia e afirmou que "chegou o
momento de relançar o investimento privado".
Além do crescimento
a par da austeridade e do investimento privado, o primeiro-ministro falou da
importância do regresso aos mercados. "A margem na Europa é estreita, mas
é grande a confiança na Europa em Portugal", salientou Passos Coelho, que
dedicou poucas palavras às possíveis mudanças na política europeia. O primeiro-
-ministro acha desejável que isso aconteça, mas adiantou que até lá é preciso
cumprir. E falou do caminho da Irlanda: "Estamos próximos da experiência
irlandesa, que leva meio ano de avanço. As dificuldades têm sido muitas, mas as
medidas foram tomadas num ambiente de consenso político assinalável." Foi
a passagem para o tema seguinte, o apelo ao diálogo com as forças da oposição,
o bom senso e, claro, o consenso em torno da segunda fase da reforma do Estado,
como lhe chama Passos Coelho. Uma reforma cujo guião, a cargo de Paulo Portas,
será divulgado a curto prazo. Para este apelo ter algum sentido, o
primeiro-ministro mostrou-se aberto a aceitar alternativas, com uma condição:
que tenham o mesmo efeito na redução da despesa do Estado.
RECTIFICATIVO NO
FIM DO MÊS
O secretário de Estado do Orçamento, Luís Morais Sarmento,
afirmou ontem no parlamento que o Orçamento Rectificativo com as medidas para
compensar o desvio orçamental deste ano será apresentado só no final de Maio. O
Orçamento Rectificativo terá de conter as alterações orçamentais que permitam
ao governo cumprir a meta do défice revista de 5,5% do PIB para este ano,
depois dos buracos de 500 milhões provocados pela deterioração da conjuntura e
assumido em Março pelo ministro das Finanças e de 1326 milhões de euros do
chumbo do Tribunal Constitucional a quatro normas do Orçamento do Estado, num
total de 1823 milhões.
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