sábado, 15 de junho de 2013

Portugal: A MINHA AUTOCENSURA SOBRE CAVACO




“Ó Cavaco tu na verdade és mesmo o que dizem de ti! Vai mas é trabalhar!”

Henrique Monteiro – Expresso, opinião

Vasco Pulido Valente, ontem no 'Público', escrevia que a coisa parecia do tempo da PIDE. Exagera; mas, de certo modo, é bom que o faça. Deter um cidadão e obrigá-lo a pagar 1300 euros porque chamou uns nomes ao Presidente da República, durante o dia de Portugal, em Elvas, é estúpido. Mas é mais do que estúpido: é um conceito, um programa, um modo de estar que não é admissível no séc. XXI. Ainda por cima, o que o cidadão gritou (parece que foi "Vai trabalhar, mas é!") nem sequer é bem um insulto e insere-se na linha cavaquista do "Deixem-me trabalhar!". Ainda mais por cima, o Ministério Público diz que o processo sumário foi ilegal, pelo que o cidadão foi mal condenado.

Tudo isto é mau. Péssimo! 

Como salienta Pulido Valente, um pouco mais acima ou um pouco mais abaixo, há grupos organizados de sindicatos e de partidos que, em coro, chamam todos os nomes ao venerando Chefe do Estado. Um pouco mais para lá, no Parlamento Europeu, um grupo parlamentar mostra-lhe cartazes. Definitivamente, estes não são bons tempos para um Presidente não ser insultado, invectivado, gozado, achincalhado, humilhado, rebaixado, ridicularizado, ofendido, ultrajado. zombado e mofado. Mas, a menos que pretenda deter e multar mais de meio país que o não grama, Cavaco tem de aguentar.

O mal do cidadão em causa terá sido, portanto, não estar integrado num grupo onde os seguranças à paisana (aí sim, aproximam-se da PIDE) não se atrevem a ir buscar os insultadores. O mal do senhor (de apelido Costal) foi agir por sua conta e risco, coisa que em Portugal é sempre mal vista.

Cavaco devia ter vergonha. O modo como se comportou em relação a Miguel Sousa Tavares (ao apresentar queixa na PGR) e agora em Elvas é de molde que um homem como eu, sempre disposto a manter a calma e a apelar ao bom senso, fique um bocado dividido. Não sei se hei de chamar também um nome a Cavaco e contradizer-me (acho que em princípio não se devem chamar nomes a ninguém), se não chamar e assim autocensurar-me. Porque, na verdade, o que me apetecia mesmo era dizer-lhe: Ó Cavaco tu na verdade és mesmo o que dizem de ti! Vai mas é trabalhar!

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