“Ó Cavaco tu na
verdade és mesmo o que dizem de ti! Vai mas é trabalhar!”
Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Vasco Pulido
Valente, ontem no 'Público', escrevia que a coisa parecia do tempo da PIDE.
Exagera; mas, de certo modo, é bom que o faça. Deter um cidadão e obrigá-lo a
pagar 1300 euros porque chamou uns nomes ao Presidente da República, durante o
dia de Portugal, em Elvas, é estúpido. Mas é mais do que estúpido: é um
conceito, um programa, um modo de estar que não é admissível no séc. XXI. Ainda
por cima, o que o cidadão gritou (parece que foi "Vai trabalhar, mas
é!") nem sequer é bem um insulto e insere-se na linha cavaquista do
"Deixem-me trabalhar!". Ainda mais por cima, o Ministério Público diz
que o processo sumário foi ilegal, pelo que o cidadão foi mal condenado.
Tudo isto é mau.
Péssimo!
Como salienta
Pulido Valente, um pouco mais acima ou um pouco mais abaixo, há grupos
organizados de sindicatos e de partidos que, em coro, chamam todos os nomes ao
venerando Chefe do Estado. Um pouco mais para lá, no Parlamento Europeu, um
grupo parlamentar mostra-lhe cartazes. Definitivamente, estes não são bons
tempos para um Presidente não ser insultado, invectivado, gozado, achincalhado,
humilhado, rebaixado, ridicularizado, ofendido, ultrajado. zombado e mofado.
Mas, a menos que pretenda deter e multar mais de meio país que o não grama,
Cavaco tem de aguentar.
O mal do cidadão em
causa terá sido, portanto, não estar integrado num grupo onde os seguranças à
paisana (aí sim, aproximam-se da PIDE) não se atrevem a ir buscar os
insultadores. O mal do senhor (de apelido Costal) foi agir por sua conta e
risco, coisa que em Portugal é sempre mal vista.
Cavaco devia ter
vergonha. O modo como se comportou em relação a Miguel Sousa Tavares (ao
apresentar queixa na PGR) e agora em Elvas é de molde que um homem como eu,
sempre disposto a manter a calma e a apelar ao bom senso, fique um bocado
dividido. Não sei se hei de chamar também um nome a Cavaco e contradizer-me
(acho que em princípio não se devem chamar nomes a ninguém), se não chamar e
assim autocensurar-me. Porque, na verdade, o que me apetecia mesmo era
dizer-lhe: Ó Cavaco tu na verdade és mesmo o que dizem de ti! Vai mas é
trabalhar!
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