Direto da Redação,
em Espaço Livre
A questão do
racismo, como pautada na entrevista de Joaquim Barbosa à imprensa neste final
de semana, esconde uma armadilha capaz de subverter qualquer abordagem,
nivelando por baixo as avaliações todas, sobre qualquer assunto, ao nível da
mera questão da cor da pele da pessoa envolvida.
Joaquim Barbosa
alega na entrevista referida abaixo que, por ser negro, foi eliminado quando da
sua tentativa de ingressar no corpo diplomático do Itamaraty, quando atingiu a
etapa final das entrevistas. E foi à forra, agredindo a idoneidade da
instituição responsável por todo o corpo diplomático brasileiro, desfazendo da
seriedade do Instituto Rio Branco, responsável pelo certame. Baseado
exclusivamente na sua frustrada experiência pessoal no passado, Joaquim
sentenciou: “- O Itamaraty é uma das instituições mais discriminatórias do
Brasil”.
Todavia, há
elementos que permitem concluir que a reprovação de Barbosa, na sua tentativa
de ingresso na carreira diplomática, teria sido acertada, passando por razões
sem qualquer vinculação com a cor da sua pele.
É percepção de
muitos que Barbosa tem se revelado arrogante, ríspido, mantendo o hábito de
constranger pessoas e instituições em público. Não raro, beira a estupidez em
situações que já tornaram-se notórias. Ele xinga jornalistas (chamou de
“porco”, na frente das câmeras, um repórter que tentou entrevistá-lo meses
atrás), ofende e humilha interlocutores (como os presidentes de entidades
associativas da magistratura que o visitaram recentemente em seu gabinete),
desfere impropérios contra categorias profissionais inteiras (alegou no CNJ que
os 700 ml advogados brasileiros costumam dormir até as 11h da manhã), é
grosseiro com autoridades públicas (deixou de cumprimentar a própria Presidente
da República, em frente às câmeras, após apertar a mão do Papa Francisco, na
solenidade oficial que recebeu o líder da Igreja Católica no país, semana
passada), e etc., etc.
A lista de
episódios bizarros, quando não grotescos, protagonizados pelo temperamento de
difícil trato de Joaquim Barbosa é enorme. Que o digam aqueles que já foram
espinafrados publicamente pelo ministro, como no caso, inclusive, de colegas
dele, ministros do STF, durante as sessões públicas da sisuda Corte Suprema.
Além de autoritário, Barbosa é vaidoso. Adora aparecer na mídia. Foi a vedete
da imprensa no julgamento do mensalão, quando encarnou o papel de espécie de
“reserva moral e ética do país”, ocasião inclusive em que uma revista o pintou
de vingador-da-capa-preta, comparando-o com o “Batman”.
Porém, quando
contrariado em suas opiniões ou, pior, quando confrontado com situações em que
suas explicações ficam escassas ou difíceis (exemplos: usar aviões da FAB para
ir assistir partida de futebol no Rio de Janeiro, tornar-se empresário - o que
é vedado a magistrados - para deixar de recolher impostos numa intrincada
operação de compra de apartamento em Miami, etc.), o ministro deixa de lado
qualquer fidalguia e passa a desferir xingamentos e impropérios para ofender
pessoas e instituições. A bola da vez é o Itamaraty, no que parece ser uma
desforra pessoal de Barbosa por conta de sua eliminação, no passado, em
concurso público para ingresso no corpo diplomático brasileiro. Barbosa queria
ser diplomata. Como não conseguiu, destrata agora o Itamaraty.
O torpedo
arrasa-quarteirão de Barbosa contra o Itamaraty foi destinado a desconstituir a
boa reputação e longa tradição de seriedade da instituição, acusando-a de
racista. E mais: indiretamente, sugere que o Itamaraty teria “errado” na
eliminação dele, quando abortou o sonho de Barbosa de tornar-se diplomata de
carreira. Por fim, Barbosa demonstrou soberba, ao especular que todos os
diplomatas brasileiros estariam invejando-o no cargo que ele hoje ocupa no STF.
Será que Barbosa está correto na acusação, na insinuação e na especulação?
Há que se
perguntar: o Itamaraty praticou racismo, ao eliminar Barbosa no concurso? A
resposta parece óbvia: alguém como ele, com tão pouca diplomacia em suas
atitudes, jamais poderia trabalhar como diplomata. Se foi reprovado para
ingressar no Itamaraty, não deve ter sido pelo fato da cor da sua pele, mas
porque Barbosa é notoriamente despreparado para a diplomacia. Ele próprio dá
mostras públicas disso, a todo instante. Logo, o que se vê é o contrário: o
Itamaraty soube selecionar candidatos para a diplomacia, reprovando os que não
tinham perfil para a função, como Joaquim Barbosa.
Talvez o ministro
fosse eliminado novamente, hoje, caso se candidatasse de novo a uma vaga no
Itamaraty, por conta de seu temperamento. Dizer que os diplomatas do Brasil
gostariam de ser ministros do STF é uma estultice. Ser diplomata, implica em
uma carreira que tem poucos pontos em comum com as carreiras públicas de Estado
como as do Ministério Público e a do STF, percorridas por Joaquim. São vocações
muito diferentes.
Uma questão ética
descola-se da acusação de Barbosa. Se ele, de fato, crê ter sido descartado no
Itamaraty por ser negro, deveria ter ingressado com uma ação de anulação do ato
administrativo que o eliminou do certame, ao fundamento de racismo. O fato dele
ter aceito pacificamente sua eliminação por um suposto racismo, sem jamais ter
tomado qualquer atitude para reverter a decisão, vindo somente agora, quando
ocupa um cargo de grande relevância, a acusar a instituição de racista, é algo
que remete a uma postura ética questionável, para dizer-se o mínimo.
A questão central
da entrevista, enfim, não reside em o Brasil ter ou não um “presidente negro”.
Barack Obama não tornou-se presidente dos EUA porque é negro e sim porque
demonstrou ser um político capaz e qualificado para exercer o cargo. As
questões que importam são estas: o que esperar de alguém como Joaquim Barbosa,
caso se tornasse Presidente da República? Teria ele qualificação necessária
para este cargo? Para a função de diplomata, como viu-se, ele não tem
qualificação, sendo notória sua falta de vocação para agir de forma
diplomática. E isto, com certeza, não tem rigorosamente nada a ver com o fato
de ser negro.
Leia a íntegra da
entrevista do ministro ao jornal O Globo. Clique aqui
Contribuição de
Rogério Guimarães Oliveira, advogado. Seu email é rgo@via-rs.net
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