Paulo Baldaia – Diário
de Notícias, opinião
Há uma lei de
limitação de mandatos aprovada no Parlamento que o Tribunal Constitucional (TC)
considera que não limita "porra" nenhuma. Melhor dizendo, obriga os
caciques a mudar a cacicada para o concelho vizinho. Ou, como diz Rui Rio, é
uma lei faz-de-conta. Faz de conta que os deputados estavam efectivamente
preocupados com os caciques, os vícios de gestão e os lóbis quando legislaram a
pseudo-limitação.
Concordando com
Passos Coelho, quando ele diz que o problema não é a Constituição mas a
interpretação que os juízes fazem dela, agora que a decisão lhe é favorável,
não pretendo discutir a restrição demasiado restritiva que esteve na base da
decisão dos juízes do TC e que poderia colocar na zona de não
constitucionalidade esta lei, mesmo que ela estivesse bem redigida. É tudo blá,
blá, blá...
Vamos lá à
política. O povo é estúpido porque entendeu na vontade do legislador limitar os
vícios de gestão, os lóbis e a corrupção? Afinal, o que pretendia o legislador
era apenas dar a oportunidade aos eleitores de não votar sempre no mesmo? Mas
os partidos e os movimentos de cidadãos não estavam capazes de gerar
verdadeiras alternativas de voto?
Os senhores deputados,
olhando para esta lei de que tanto se fala, estão entre os mais incompetentes
dos incompetentes profissionais que fazem deste país o que ele é. Na versão
mais maldosa, os senhores deputados estão entre os mais aldrabões dos aldrabões
profissionais que fazem deste país o que ele é.
Nesta fase do
texto, eu que tanto gosto de me sentir uma pessoa ponderada, suspiro para
tentar controlar a minha irritação com a aldrabice. Enganaram-me, tão simples
como isso. Disseram-me que, em benefício da maioria dos autarcas que exerce
exemplarmente a sua função, iriam limitar a capacidade dos aldrabões aldrabarem
"ad eternum". Afinal, só lhes exigem que, para continuar a aldrabar,
contratem uma frota de autocarros para transportar o seu modo de fazer política
para o concelho vizinho.
A lei aprovada, na
linha geral da demagogia que sempre marca o modo de fazer política, não serve
para nada. Ok! Para quase nada. Obriga os aldrabões a fazer "delete"
para começar tudo de novo. Com esta lei conseguiram colocar um anátema sobre
todos os autarcas, sabendo nós que a esmagadora maioria deles é gente séria,
beneficiando os infractores.
Era preferível que
não houvesse lei nenhuma. Teria sido bem mais honesto legislar no sentido de
construir uma maior fiscalização à gestão autárquica. Exigir maior
transparência na contratação de serviços e na passagem de licenças faria mais
pela diminuição dos vícios de gestão e pelo combate à corrupção que esta lei
estapafúrdia. Já toda a gente perdeu a vergonha ou somos todos estúpidos?
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