quarta-feira, 30 de outubro de 2013

JOAQUIM OLIVEIRA E MARINHO PINTO NA EQUIPA DE EDUARDO DOS SANTOS

 

Folha 8 – 26 outubro 2013
 
Joaquim Olivei­ra, presidente e suposto dono da Controlinveste, empresa pro­prietária – entre outros meios – do Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Dinheiro Vivo e TSF, e Marinho Pinto (bas­tonário da Ordem dos Ad­vogados portugueses em fim de mandato) também saíram à rua para defender a honra, que dizem vilipen­diada, de Eduardo dos San­tos e do seu regime.
 
Curiosamente ambos usam a mesma argumenta­ção, dizendo que se ques­tiona sempre a origem do dinheiro de Angola (quase exclusivamente originá­rio de um grupo restrito ligado aos dirigentes do regime) e – note-se – não se questionam os investi­mentos norte-americanos, por exemplo.
 
Ambos, e é verdade que estão acompanhados cada vez em maior número, es­quecem o que nesta maté­ria é essencial e valorizam, numa atitude mesquinha que só leva em conta o próprio umbigo, o acessó­rio.
 
Vejamos, fazendo uso dos EUA e de Angola. Os in­vestimentos ditos ango­lanos têm origem no nú­cleo-duro do presidente. Os norte-americanos têm origem em algum núcleo, duro ou não, ligado a Bara­ck Obama?
 
Quantos anos esteve Bara­ck Obama como presiden­te dos EUA sem ter sido eleito? Eduardo dos San­tos esteve 32 anos. O pre­sidente norte-americano tem limite de mandatos, o seu homólogo angolano não.
 
As filhas do Barack Oba­ma, ou de qualquer outro presidente, são as mais ri­cas cidadãs do país? Não. As de Eduardo dos Santos são.
 
Nos EUA, é Barack Oba­ma que escolhe – grosso o modo e no que é aplicável - todos os juízes do Tri­bunal Constitucional, to­dos os juízes do Supremo Tribunal, todos os juízes do Tribunal de Contas, o Procurador-Geral da Re­publica, o Chefe de Estado Maior das Forças Arma­das, os Chefes do Estado­-Maior dos diversos ra­mos? Não.
 
Em Angola é o Presidente que escolhe.
 
Na democracia norte­-americana, o poder ju­dicial é independente, o Povo sabe quem elege ou quem não elege. Em An­gola não.
 
Portanto, os EUA ofere­cem mais garantias de transparência nos seus investimentos do que An­gola. Ou, melhor, do que aquele protagonizado por alguns, poucos, angolanos.
 
Bem antes dos novos arau­tos da honorabilidade dos investidores angolanos, já em Setembro de 2009, Ângelo Correia – um dos “pais” de Pedro Passos Coelho – aconselhava o lí­der do PSD a falar (bem, é claro) do regime de Eduar­do dos Santos.
 
Em Luanda, Ângelo Cor­reia considerou (27 de Setembro de 2009) “legí­timos e legais” os investi­mentos feitos por empre­sas angolanas em Portugal.
 
Em declarações à impren­sa no âmbito das pales­tras sobre o ambiente, o ex-ministro da Adminis­tração Interna do PSD, afirmou “não existir nada no ordenamento jurídico português” que impeça empresários estrangeiros de investirem no mercado luso, procurando gerar ca­pitais e conhecimentos.
 
“Da mesma forma que os portugueses investem em Angola, é legitimo que os angolanos o façam tam­bém no nosso país. Os be­nefícios são mútuos e em alguns casos Portugal sai mesmo a ganhar porque recebe investimentos em áreas onde não tem pro­dução”, sublinhou, apon­tando o sector petrolífero como exemplo.
 
Considerando “reaccio­nárias” as pessoas que já então se manifestavam contrárias ao investimento de angolano ligados ao clã presidência em Portugal, Ângelo Correia referiu-se ao investimento da petro­lífera Sonangol na Galp, como sendo uma iniciativa que ajudava a reforçar os laços de cooperação entre os dois estados.
 
“Nada está a acontecer à margem da lei, portanto, é legítimo que os angolanos escolham determinadas áreas para investir. Quem se manifesta contra é por­que ainda vive no passado e deve, por isso, actualizar­-se. Estamos num mundo globalizados e num mer­cado aberto para todos”, disse o inspirador, mentor e criador da criatura que hoje é primeiro-ministro de Portugal.
 
De facto, com tantos flo­reados, até parece que tudo é transparente nos in­vestimentos feitos em Por­tugal. Parece mas não é.
 
Ângelo Correia sabia e sabe isso muito bem. Mas, é claro, há coisas que se sabem mas não se dizem, sobretudo porque isso po­deria ser visto como estar a cuspir no prato onde se come. E Joaquim Oliveira, Marinho Pinto e Ângelo Correia (entre muitos ou­tros) são pessoas de gran­de e bom alimento.
 
Ao contrário do que dizia Ângelo Correia e agora re­petem o “dono” da Contro­linveste e o bastonário dos advogados portugueses, ninguém cá como lá põe em causa os investimentos angolanos em Portugal. O problema está em que não são investimentos ango­lanos, são investimentos de uma família e de meia dúzia de amigos que quase representa 100 por centro do Produto Interno Bruto do nosso país.
 
Fossem, de facto, empre­sas angolanas e tudo esta­ria bem. Mas não são. São de um clã.
 
Aliás, quantas empresas tem o homólogo portu­guês de José Eduardo dos Santos? Que percentagem do PIB português repre­senta, por analogia com o presidente angolano, Ca­vaco Silva?
 
Ao contrário de Ângelo Correia, os reaccionários não estavam, não estão e nunca estarão contra as empresas angolanas. Estão isso sim (e até ficava bem Ângelo Correia estar tam­bém desse lado) contra o facto de haver meia dúzia de pessoas, todas ligadas ao clã Eduardo dos Santos, que são donas de Angola.
 
Do outro lado da questão estão os investimentos portugueses em Angola. Que se saiba, legais ou não, transparentes ou não, não pertencem ao núcleo-duro de Cavaco Silva. Mas isso é irrelevante.
 
Segundo o vice-primeiro­-ministro português, Paulo Portas, o sucesso dos in­vestimentos de empresas portuguesas em Angola é a chave para a manuten­ção de postos de trabalho em Portugal.
 
Assim, mais de um milhão e duzentas mil pessoas que estão no desemprego fica­ram, valha-lhes ao menos isso, a saber que nada de­vem ao regime que foi pre­sidido por um cidadão que esteve 32 anos no poder sem nunca ter sido eleito.
 
“O mercado angolano é o primeiro fora da Europa para as nossas empresas, que fazem aqui uma apos­ta muito importante, que fazem aqui investimentos significativos e que ao ter uma posição importante em Angola estão a prote­ger postos de trabalho na rectaguarda, em Portugal”, disse Paulo Portas.
 
Recorde-se que o comen­tário bajulatório (como todos os que partem de Lisboa) de Paulo Portas veio na sequência de de­clarações do então minis­tro de Estado e da Coorde­nação Económica, Manuel Vicente, segundo o qual Angola não iria reforçar os investimentos no tecido produtivo português.
 
“Angola é um país cujo crescimento económico é enorme. Tem uma prio­ridade importante que é fazer com que esse cresci­mento signifique também uma melhor distribuição. Tem inúmeros planos nas áreas económica e social para o território angolano e na internacionalização, Portugal foi, é e será im­portante, como se vê to­dos os dias pelos factos”, salientou Paulo Portas.
 
As relações entre Portu­gal e Angola “são boas e podem ainda ser me­lhores, sempre numa perspetiva duplamente ganhadora. É preciso que os interesses de Portugal em Angola sejam defen­didos e é preciso que os investimentos de Angola em Portugal sejam prote­gidos”, disse Paulo Portas, certamente depois de ter sido suficientemente afa­gado pelos especialistas do regime.
 
“Há muitas empresas portuguesas presentes no mercado angolano: grandes, médias e peque­nas, e há inúmeros planos para o futuro de Angola onde a participação das empresas portuguesas é relevante e hoje em dia é muito significativa, em sectores importantes, a entrada de capitais ango­lanos em Portugal”, acres­centou Paulo Portas.
 

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