Standart,
Sófia – Presseurop – imagem Steve Bell
No próximo dia 1 de
janeiro, o mercado de trabalho será aberto a búlgaros e romenos em toda a UE.
Mas Londres, Paris e Berlim pretendem erguer novas barreiras em detrimento dos
valores europeus, lamenta um colunista búlgaro.
“Caiu a penumbra da
noite, mas os bárbaros não chegaram. Os emissários voltaram da fronteira: ‘Os
bárbaros já não existem!’, disseram. Que faremos agora sem eles? Eram-nos tão
úteis para resolvermos os nossos problemas…” Assim termina o poema À Espera dos
Bárbaros do poeta grego do século XX Constantin Cavafy (1863-1933).
Nos últimos dias,
os países ricos da Europa Ocidental redescobriram a milenar ameaça dos
bárbaros, desta vez disfarçados sob a forma de parentes pobres do Leste do
continente. Na semana passada, o primeiro-ministro britânico tirou da manga uma
série de medidas que têm como objetivo limitar o acesso de nacionais romenos e
búlgaros ao mercado de trabalho e às prestações
sociais britânicas. A partir de 1 de janeiro de 2014, no entanto, vão
desaparecer as últimas restrições nesta matéria.
Esta quarentena
decretada por Londres provocou um tímido protesto de Bruxelas e uma reação um pouco
mais enérgica do que o habitual à diplomacia búlgara. Nos dias seguintes, a
Alemanha e a França juntaram-se ao Reino Unido decretando, por sua vez,
restrições suplementares para os búlgaros e os romenos. A grande coligação de
Angela Merkel, que junta direita e esquerda, comprometeu-se a pôr fim às
“pretensões não justificadas de acesso aos apoios sociais”. O Governo
socialista de François Hollande, em França, declarou igualmente ter tomado
medidas nesse sentido.
Uma vez que os três
países mais poderosos da UE decidiram simultaneamente levantar barreiras,
alguma coisa se passa. Na primeira metade de 2012, a Alemanha diz ter acolhido
550 mil imigrantes, ou seja, um aumento de 11% em comparação com o mesmo
período do ano anterior. Dois terços desses imigrantes são cidadãos de países
da UE, a maioria dos quais da Europa de Leste. Mas Berlim também assistiu a um
aumento da imigração vinda do Sul da Europa: mais 39% de espanhóis, mais 41% de
italianos e mais 26% de portugueses.
A xenofobia de
vento em popa
É verdade que este
movimento migratório não representa nenhum perigo para um país de 82 milhões de
habitantes mas é revelador de uma tendência inquietante. Em primeiro lugar, a
crise da dívida que afetou especialmente o Sul do continente provocou um fluxo de
imigrantes vindos desses países que se juntaram aos outros europeus vindos do
Leste. E, em segundo lugar, o espaço cada vez mais importante que os partidos
nacionalistas, isolacionistas e antieuropeus ocupam na cena política do Norte e
do Ocidente da Europa. No Reino Unido, o Partido para a Independência (UKIP),
de Nigel Farage, tem cada vez mais peso nos debates e se não tem deputados é
simplesmente por causa das especificidades do modo de escrutínio maioritário.
Segundo as
sondagens, as opiniões dos britânicos sobre este assunto estão cada vez mais
radicais e são muitos os eleitores que se reconhecem num partido ainda mais
extremista, o Partido
Nacional Britânico (BNP). Em França, é o partido dinástico de Jean-Marie Le
Pen, a Frente Nacional (FN), que vai de vento em poupa obrigando, por vezes,
alguns ministros, como aconteceu com Manuel Valls, a darem o tom a campanhas
especialmente virulentas contra os ciganos. Na Alemanha, as veleidades
extremistas continuam sob controlo graças a uma legislação particularmente
rigorosa sobre esta matéria.
Em resumo, a Europa
de 2013 é muito diferente daquela outra a que Sófia e Bucareste aderiram
festivamente em 2007. Não se ouve uma palavra sobre a unidade por fim
restaurada do Velho Continente nem sobre as virtudes civilizacionais da
democracia e da economia de mercado. Não, pelo contrário, os imigrantes
miseráveis (sobretudo os ciganos) provenientes da Bulgária e da Roménia
tornaram-se uma presa fácil para os jornais sensacionalistas e para os
tabloides. Um pouco como acontece, neste momento, com os refugiados sírios na
Bulgária…
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