"Terra,
Guerras, Enterros e Desterros" é o título que o escritor e biólogo Mia
Couto escolheu, provisoriamente, para o próximo livro, inspirado na situação
histórica de Moçambique de 1890 a 1895, disse à Lusa o próprio autor.
Em entrevista à
Lusa, em Lisboa, no final da cerimónia de homenagem pelos seus 30 anos de vida
literária, Mia Couto, Prémio Camões-2013, disse que está a escrever um novo
livro, em que vai procurar perceber as razões que conduzem as pessoas para uma
guerra.
Mas, o poeta e
romancista moçambicano está igualmente a produzir um romance que aborda
"as construções mitológicas sobre o império de Gaza", que se
localizou no sul de Moçambique, em que pretende questionar o personagem do
Imperador Ngungunhana, segundo anunciou à Lusa no início do ano.
"Fui superado
por uma outra ideia ligada à situação histórica de 1890-95", disse,
referindo-se a um período que ficou marcado pelo ultimato inglês ao regime
colonial português sobre a posse de territórios em África, e da prisão de
Ngungunhana.
"Mas esta
parte do livro do Ngungunhana emancipou-se, autonomizou-se. Estou a tratar
dela, mas, antes do livro do Ngungunhava, eu vou fazer uma coisa sobre guerra
em Moçambique, uma guerra no mundo. O que leva as pessoas a se conduzirem para
uma guerra, a sentirem que existem para uma guerra", afirmou Mia Couto, a
propósito do futuro livro.
A 11 de janeiro de
1890, Inglaterra exigiu a retirada imediata de Portugal da zona do Lago Niassa,
no norte de Moçambique, pondo fim a um ambicioso projeto português de
unificação das ex-colónias (Moçambique e Angola).
Portugal cumpriu
integralmente a exigência britânica expressa num documento em forma de um
memorando e, com isso, evitou o rompimento das relações diplomáticas e um
confronto direto entre os dois países.
O ano de 1895 marca
a queda de Ngungunhana, após a sua detenção, a 28 de dezembro, por Mouzinho de
Albuquerque, oficial de cavalaria português que ficou famoso em Portugal por
ter protagonizado a captura do imperador Nguni, em Chaimite, na região de Gaza.
O livro no prelo
"é inspirado numa situação em que há um conflito interno. A situação de
Ngungunhana era uma situação de conflitos que não eram só com portugueses,
havia conflitos internos de povos que em Moçambique resistiam contra essa ocupação
dos Nguni", explicou o romancista.
Mia Couto, o
escritor mais lido e traduzido de Moçambique, é biólogo de profissão, por isso
avisou sobre a abordagem que fará das obras a serem publicadas, inicialmente no
próximo ano, inspiradas numa realidade histórica.
"Quero tratar
isso com muito cuidado para não ressuscitar fantasmas. Em Moçambique, as coisas
têm sempre leituras (diferentes). Eu quero respeitar isso. Não quero nunca que
um livro meu possa prejudicar alguma coisa que para mim é sagrada, que é a
construção de uma nação sem sobressalto", disse.
Na entrevista que
concedeu à Lusa em fevereiro a propósito da obra que vai tratar das
"construções mitológicas sobre o império de Gaza", Mia Couto
considerou que "há pinturas que são feitas (à volta da figura do imperador
Ngungunhana) e a pergunta é essa: quem era esse verdadeiro personagem do
Ngungunhana?".
Lusa – em Notícias
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