Ana Sá Lopes – jornal i, opinião
Para Ulrich nem em
75 houve uma política tão redistributiva como hoje
Fernando Ulrich,
presidente do BPI, voltou ao ataque. Depois do célebre “ai aguentam, aguentam”
– relativamente ao qual mais tarde se retratou – no sábado decidiu anunciar aos
portugueses, numa entrevista à SIC--Notícias, que este governo está a ter uma política
“tão ou mais redistributiva” do que “os comunistas” em 1975. Entre outras
alegrias, o banqueiro sentenciou que “nunca provavelmente a esquerda fez em
Portugal uma política tão redistributiva como a que tem feito o governo do dr.
Passos Coelho”. Afinal, segundo Ulrich, “as pessoas que mais ganham, tiveram
cortes – seja pela via dos cortes, seja pela via da carga fiscal – muito
maiores do que as pessoas que ganham menos. Com esta dimensão, talvez só em
75.”
Ulrich,
infelizmente, não aprendeu nada desde o “ai aguentam, aguentam”. Estas
declarações são outra versão da mentalidade de Maria Antonieta (“não há pão,
comam brioches”) que preside aos decisores do actual estado de coisas –
governo, banqueiros e os amigos nas instituições europeias.
Vamos lá dar a
palavra outra vez a Ulrich: “Evidentemente que isto foi duro, não se pode é
dizer que as pessoas que mais ganham não estão a passar por cortes enormes e
muito maiores do que aqueles que ganham menos”, disse, citado pelo “Jornal de
Negócios”. Para que se perceba melhor que Fernando Ulrich até tem uma ponta de
piedade para com os falidos: “Não estou com isto a dizer que aqueles que ganham
menos, ganham o suficiente, que estão bem, ou que os sacrifícios dos mais
pequenos, que lhes foram impostos também não são duros. Não se pode é dizer que
a política não tem tido uma preocupação redistributiva enorme”. Temos um
governo comunista e não sabíamos.
Não interessa que,
recentemente, um estudo do banco UBS tenha concluído que desde que começou o
protectorado os mais ricos estão cada vez mais ricos. Também a OCDE, que ano
após ano aponta Portugal como um exemplo de um país com fortíssimas
desigualdades, alertou recentemente que a crise económica veio agravar de forma
brutal a desigualdade de rendimentos. Os dados da OCDE revelaram que a
desigualdade cresceu mais entre 2008 e 2010 nos 34 Estados-membros da
organização (que inclui Portugal) do que nos 12 anos anteriores.
A OCDE diz que
“depois de impostos e transferências, o rendimento dos 10% mais ricos da
população dos Estados da OCDE é 9,5 vezes superior ao dos 10% mais pobres”. Ai
aguentam, aguentam. Até um dia, senhor banqueiro.
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