Pedro Marques Lopes
– Diário de Notícias, opinião
Poucas semanas como
as últimas demonstraram o estado do Partido Socialista. Começou com a absoluta
mudez acerca da execução orçamental de 2013 e terminou com as perturbações com
a chamada oposição interna. Pelo meio tivemos uma proposta abstrusa sobre
tribunais especiais para investidores estrangeiros, promessas de reaberturas
dos que o Governo está a fechar e a novela da escolha do cabeça de lista para
as Europeias. O laçarote deste embrulho foi a sondagem ontem divulgada pelo
Expresso que põe a coligação PSD/CDS a três pontos de distância do PS nas
intenções de voto.
Poucos ficarão
surpreendidos com tal proximidade. No fundo, o que dividiu o PS do Governo em
termos de grandes opções? Pouco, muito pouco. O PS achava que era preciso mais
tempo e metas mais realistas, e de facto os valores do défice foram revistos e
foi dado mais tempo. O pacto orçamental era peça fulcral da política europeia e
do Governo, e o PS assinou. O Governo quis diminuir o IRC e não o IRS, ou seja,
taxar mais os trabalhadores e menos o capital, o PS aprovou. O Governo, a
partir de certa altura, resolveu culpar Sócrates por todos os males do mundo, e
o PS ficou mudo e quedo, mas até podiam sentir-se as palmas de contentamento da
atual direção. Mas, sobretudo, a sensação que passa é que o PS pouco ou nada,
na essência, faria de diferente. Talvez um bocadinho ao lado, talvez falando um
bocadito mais grosso na Europa, mas nada de substancial.
É normal que o PS
tenha ficado sem pio com a execução do Orçamento de 2013. O PS sempre pôs a
tónica no não cumprimento das metas, não na essência das medidas. Só isso
explica o silêncio. O Governo define as regras do jogo e o PS aceita.
Também não espanta,
portanto, que Seguro só não tivesse assinado o pacto de regime, proposto por
Cavaco Silva, porque a pressão de figuras históricas do PS foi demasiada. Era
capaz de apostar singelo contra dobrado que o acordo com o PSD era total.
Seria, aliás, interessante conhecer as atas das reuniões e desconfio que elas
serão "libertadas" à medida dos interesses eleitorais do PSD. Também
sou capaz de jurar que Seguro vai pagar caro ter dado o dito por não dito a
Cavaco Silva.
A verdade é que
para o Governo, Seguro foi o homem certo no momento certo. Alguém que fingiu
que se opunha, que não incomodou e que se limita a esperar pela vez dele.
O PS não está sem
discurso, ao contrário do que se diz, o PS tem simplesmente o mesmo discurso do
Governo. É aliás por isso que se perde em propostas avulsas que soam a
demagogia e a populismo. O anúncio de que se irão reabrir os tribunais que
foram encerrados, baseia-se em que estudos? Não tinha o PS há poucos anos uma
proposta muito parecida? Claro que sim. E será que alguém pensou no disparate
de propor um tribunal para estrangeiros e para empresas ricas, dizendo
basicamente que teríamos de acelerar a justiça para uns e mantê-la lenta para
outros? O que fica claro é que não há estratégia nenhuma, há vontade de dizer
coisas para ocupar o espaço.
Também não é
estranho que o PS e Seguro ainda não tenham o cabeça de lista às europeias
designado e a fazer campanha. Primeiro, o PS não tem discurso alternativo para
a Europa (onde é aliás acompanhado por todo o centro-esquerda europeu). O pacto
orçamental e a colagem a Hollande foram fatais; depois, como esta direção sofre
de aparelhite aguda, jamais poderia colocar alguém que não fosse da estrita
confiança política de Seguro, o que por si só exclui praticamente todas as
figuras relevantes e com notoriedade dos socialistas. Sobrava Francisco Assis,
mas este, pelos vistos, fartou-se de esperar.
Mas pior do que a
atual direção do PS, só mesmo a sua oposição interna. Já cansa a conversa
estafada dos críticos. Vem uma eleição e lá voltam eles ao "agarrem-me
senão eu mato-o". É uma história de que conhecemos o princípio e o fim:
grandes críticas, grandes exigências de resultados eleitorais e depois... nada.
Dá muito trabalho, "a máquina está dominada" (nunca saberemos se é
verdade ou não), não é o tempo certo.
Só há dois grupos
de pessoas que ligam aos críticos da atual direção: Seguro e a sua equipa e
parte da direção do PSD. Os primeiros, como pensam que a governação lhes
acabará por cair nas mãos, preocupam-se sobretudo com o poder dentro do
partido, e aí são exímios no combate e rápidos na resposta. Os segundos vivem
preocupados com o possível afastamento de Seguro.
A grande
preocupação atual do PSD é não ganhar as europeias e apenas perdê-las por
pouco, isso, segundo eles, manterá Seguro. A última coisa que quereriam é não
enfrentar o atual secretário-geral nas legislativas. Mas não têm de se
preocupar nem com uma derrota nas europeias Seguro sairá.
Sem Governo e sem
oposição. Era mesmo disto que precisávamos.
Sem comentários:
Enviar um comentário